Belo Monte, no Pará: linha de transmissão deveria ter sido entregue em fevereiro do ano passado; governo tem pressa em encontrar comprador (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 4 de março de 2016 às 22h49.
Brasília - A estatal Furnas, do Grupo Eletrobras, e a empresa canadense de investimentos Brookfield avaliam a possibilidade de adquirir ativos do setor elétrico que hoje estão nas mãos da Abengoa.
Duas fontes do setor confirmaram ao jornal "O Estado de S. Paulo" que, nas últimas semanas, representantes dessas empresas têm conversado com membros do Ministério de Minas e Energia (MME), para discutir como a transação poderia ser feita.
A maior preocupação do governo é encontrar um comprador para concluir as obras do chamado "linhão pré-Belo Monte", um projeto de 1.854 km de extensão.
Estimado em R$ 1,3 bilhão, o contrato foi vencido pelos espanhóis da Abengoa no fim de 2012, com o compromisso de ser entregue em operação em fevereiro passado. Sem dinheiro, a empresa paralisou as obras. Hoje a linha não data definida para ser entregue.
Pela proposta colocada na mesa, a Brookfield passaria a ser dona dos ativos já concluídos pela Abengoa e, em troca, assumiria o compromisso de entregar 100% da linha em funcionamento.
Furnas entraria na transação como uma sócia "operacional", para executar as obras, tendo depois a possibilidade de comprar efetivamente uma fatia do negócio. A equação financeira e o arranjo regulatório da transação, no entanto, ainda são temas de debate dentro do governo.
As empresas não comentam o assunto. Os ativos da Abengoa são analisados ainda por outras empresas.
A Casa dos Ventos, maior desenvolvedora de projetos eólicos do Brasil, e a chinesa StateGrid, que já é dona de outra linha de transmissão para Belo Monte, já sinalizaram interesse me assumir os projetos da companhia espanhola, conforme reportagem publicada na semana passada pelo jornal.
O governo tem pressa de dar fim ao impasse. Em processo de pré-recuperação judicial na Espanha, a Abengoa se transformou em um grande abacaxi que o governo ainda não sabe como descascar. Em 2013 chegou a ser a maior arrematadora de linhas de transmissão nos leilões brasileiros.
Hoje, a companhia está à frente de nada menos que 16 contratos de concessão no setor elétrico, os quais somam mais de 6 mil quilômetros de rede para entregar energia em diversas regiões do país. Ocorre que grande parte dessa rede não foi construída.
A situação tem sido monitorada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Nos cálculos da agência, a hidrelétrica de Belo Monte, que em breve deve iniciar sua geração comercial de energia, não deverá ter dificuldades de entregar sua energia até meados de outubro deste ano, por conta da rede local já existente em Altamira, no Pará, pela qual sairá até a linha de Tucuruí, em Marabá, seguindo para outros Estados.
Em novembro, porém, segundo cronograma de geração montado pela agência, pode ocorrer de o volume de energia gerado pela usina não ter rede com capacidade suficiente para distribuí-la.
O ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, não quis comentar as negociações em torno das empresas.
Sobre os problemas com a linha de transmissão da Abengoa, Braga garantiu que não prejudicarão a entrega de energia de Belo Monte, que deu início aos testes de suas primeiras máquinas nas últimas semanas. "Não haverá restrições. Temos as linhas locais para levar a energia, até viabilizarmos a rede da Abengoa", disse.
Por meio de nota, a concessionária Norte Energia, dona da usina, informou que "não vai se posicionar sobre ações que não estão sob sua governança e tem plena confiança numa solução para que a energia gerada por Belo Monte possa ser escoada na sua totalidade".