CEO da Mozilla se demite após doação para lei anti-gay
Brendan Eich passou só dez dias no cargo. Funcionários da própria companhia pediram seu afastamento por ele apoiar lei que proibia casamento gay na Califórnia
Modo escuro
Brendan Eich: presidente executivo renunciou após onda de protestos online contra ele (Bloomberg)
Publicado em 3 de abril de 2014 às, 18h34.
São Paulo - Brendan Eich não é mais o presidente executivo da Mozilla, dona do navegador Firefox. Ele deixa o cargo dez dias depois de ter entrado, após uma intensa campanha contrária à sua nomeação.
Ele era extremamente respeitado no ramo da tecnologia e ficou famoso principalemente por ter criado a linguagem JavaScript. Mas em 2012, ficou conhecido também por ter feito uma doação de mil dólares em seu nome à Proposta 8, a lei que proibia o casamento gay na Califórnia.
À época, ele era diretor de tecnologia da companhia e a repercussão foi tão ruim que ele teve de se explicar publicamente. "Eu não insisto que ninguém concorde comigo em muitas coisas, incluindo assuntos políticos, e eu evito colocar minhas crenças pessoais no caminho dos outros em todos os sentidos, seja na Mozilla, seja na internet. Eu espero o mesmo em troca".
Não foi suficiente. No dia 24 de março de 2014, ele foi nomeado CEO da companhia, o que gerou nova onda de revoltas na internet. Os próprios funcionários pediram publicamente que ele renunciasse em uma campanha no twitter.
I'm an employee of @mozilla and I'm asking @BrendanEich to step down as CEO.
— John Bevan (@bevangelist) March 27, 2014
"Eu sou um funcionário da @mozilla e estou pedindo que @BrendanEich renunicie ao cargo de CEO" — John Bevan
Have waited too long to say this. I'm an employee of @mozilla and I'm asking @brendaneich to step down as CEO.
— Chloe Varelidi (@varelidi) March 27, 2014
"Esperei tempo demais para dizer isso. Eu sou um funcionário da @mozilla e estou pedindo que @BrendanEich renunicie ao cargo de CEO" — Chloe Varelidi
I'm an employee of @mozilla and cannot reconcile having @BrendanEich as CEO with our org's culture & mission. Brendan, please step down.
— Sydney Moyer (@sydneymoyer) March 27, 2014
"Eu sou uma funcionária da @mozilla e não posso aceitar ter @BrendanEich como CEO com a cultura e a missão de nossa organização. Por favor renuncie". — Sydney Moyer
Algumas empresas também ameaçaram boicotar o navegador FireFox. O Site de relacionamento OKCupid, por exemplo, redirecionava todos os usuários que estivessem usando o navegador a uma página que contava toda a história e Eich. Parceiros e desenvolvedores também dificultaram as relações.
Outros membros da Mozilla, porém, defendendo a mesma liberdade de expressão pregada pela Mozilla, afirmaram que suas crenças não deveriam ser razão para tirá-lo do cargo:
I work at @mozilla and I disagree with @BrendanEich's politics, but think that he has a right to them and don't ask him to step down as CEO
— Till Schneidereit (@tschneidereit) March 27, 2014
"Eu trabalho na @mozilla e discordo com as [visões] políticas de @BrendanEich, mas acho que ele tem o direito a elas e não peço que ele renuncie do cargo de CEO". — Till Schneidereit
I'm a bisexual employee of @mozilla and one donation to a personal cause is NOT reason enough for @brendaneich to step down. Please stay!
— Sheeri K. Cabral (@sheeri) March 27, 2014
"Eu sou uma funcionária bissexual da @mozilla e uma doação para uma causa pessoal NÃO é razão suficiente para @BrendanEich renunciar. Por favor, fique!" — Sheeri K. Cabral (@sheeri)
A Mozilla chegou a reforçar sua decisão. No dia 26 de março, em seu blog, Mitchell Backer, a presidente do conselho da empresa, afirmou que: "o compromisso da Mozilla com a inclusão para a nossa comunidade LGBT e todas as minorias, não muda. Ao agir para ou em nome da Mozilla, é inaceitável limitar as oportunidades a qualquer um baseado na orientação sexual e/ou gênero. Isso não é só um compromisso, é a nossa identidade".
Em comunicado divulgado hoje, a empresa, reconhecida por pregar a igualdade no acesso a informações, desculpou-se pela decisão de colocá-lo no cargo.
"A Mozilla se orgulha de ser colocada em um padrão diferenciado e, na última semana, nós não honramos isso. Nós sabemos porque as pessoas estão magoadas e com raiva, e elas estão certas: é porque nós não fomos fiéis a nós mesmos", escreveu Mitchell.
Um substituto a Eich deve ser anunciado na semana que vem.