No pós-Covid, Vale vai adotar modelo flexível e escritórios compartilhados
Covid-19 colocou 22% da força de trabalho própria da mineradora, de 74.472 pessoas, em trabalho remoto
Estadão Conteúdo
Publicado em 12 de dezembro de 2020 às 14h45.
Última atualização em 12 de dezembro de 2020 às 14h47.
A Vale bateu o martelo pelo modelo flexível de trabalho em sua operação global no pós-pandemia. A covid-19 colocou 22% da força de trabalho própria da mineradora, de 74.472 pessoas, em trabalho remoto.
A ideia é que o home office seja definitivo para esse grupo, mas alternado com encontros presenciais nos escritórios ou em um dos espaços colaborativos, ou hubs, que a empresa criará até março de 2021. As funções operacionais, nas minas, seguirão presenciais, o que ocorreu mesmo durante a pandemia, com a mineração sendo classificada pelo governo como atividade essencial.
A companhia criou o programa Jornada Vale para revisitar seus espaços físicos e moldar o novo regime, que apelidou de flexible office (escritório flexível).
"Queremos sair do modelo tradicional de escritório, mas repensar os ambientes para transformá-los em hubs de inovação e colaboração", diz Josilda Saad, gerente executiva e líder do programa. "Ninguém mais terá mesa própria, nem áreas fixas reservadas por área. A Vale criou um aplicativo de reserva dos espaços, como os de salas de cinema", conta.
‘Confortáveis’
De acordo com a executiva, uma pesquisa interna mostrou que 75% dos empregados administrativos da Vale se sentem confortáveis e produtivos trabalhando em casa. A reforma dos espaços está sendo desenhada calculando que as pessoas trabalhem 60% do tempo de forma remota.
A companhia ainda analisa se fará o pagamento de um adicional para compensar custos do teletrabalho, como internet e energia elétrica. Até agora foi liberado apenas um "pacote de ergonomia", para a adaptação da estrutura de trabalho dos funcionários em casa.
O modelo híbrido já começou a ser adotado em Sudbury, no Canadá, onde a pandemia está em estágio mais controlado. De início houve grande procura por agendamento de espaços, mas depois o nível de ocupação física caiu a 10%. Nas próximas semanas será a vez de Xangai, na China. "O próprio sistema vai se regular. Com a rotina voltando ao normal, as crianças indo para a escola, as pessoas estão vendo benefícios em reduzir deslocamentos", avalia Josilda.
Produtividade
A menor movimentação de funcionários das áreas administrativas das unidades operacionais, que muitas vezes têm que pegar a estrada diariamente, é outra meta. A Vale enxerga ganhos em segurança e produtividade com a medida. Por isso, resolveu instalar sete hubs colaborativos próximos a unidades operacionais. Até março serão sete no Brasil: Parauapebas (PA), São Luís (MA), Vitória (ES), Itaguaí (RJ), Mariana, Itabira e Itabirito (MG). No exterior, haverá pelo menos 10 hubs em países como Canadá, Omã, Indonésia e China.
A ocupação das mesas flexíveis e salas adaptadas para áreas de integração nos hubs será gradual e pode ocorrer antes da vacina contra a covid-19, de acordo com a situação sanitária relativa à pandemia em cada local. "Não há pressa. Hoje no Brasil não há nenhum Estado em que seja possível iniciar a flexibilização", diz a gerente executiva, destacando que o mais provável é que isso fique para 2021.
Devolução
A Vale tem dez escritórios no País, em cidades como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Itaguaí e São Luís do Maranhão. Parte deles será remodelada, mas a companhia considera "natural" que alguns espaços sejam reduzidos. A devolução de salas comerciais para reduzir custos tem sido uma constante entre grandes empresas após a institucionalização do trabalho remoto. A Petrobrás, por exemplo, já anunciou que está liberando nove prédios administrativos e criando "smart offices", ou escritórios inteligentes, com mesas compartilhadas.
Há três anos a sede da Vale ocupa as salas 701 a 1.901 da Torre Oscar Niemeyer, na Praia de Botafogo. Em resposta ao Estadão/Broadcast, a companhia disse que o local será transformado e que ainda não há definição sobre o número de andares que serão devolvidos à Fundação Getulio Vargas (FGV), proprietária do imóvel. A empresa deve preservar ao menos um andar institucional. A FGV não comenta, mas diz ter "absoluta certeza que a Vale não deixará de cumprir as condições contratuais ajustadas"