Netflix revela ter 29 milhões de clientes na América Latina
O serviço de streaming ganhou 10 milhões de clientes na região nos últimos sete semestres; o faturamento chegou a 2 bilhões de dólares em nove meses
Lucas Amorim
Publicado em 17 de dezembro de 2019 às 14h43.
Última atualização em 17 de dezembro de 2019 às 16h30.
Em um documento tornado público nesta segunda-feira, pela primeira vez o serviço de streaming Netflix divulgou o número de clientes por região — e mostrou o que já se suspeitava: depende cada vez menos dos Estados Unidos . Segundo o relatório, o detalhamento acontece em virtude do crescimento no número de usuários e de faturamento fora de seu mercado de origem.
O relatório mostra que nos nove meses até setembro de 2019 a companhia tinha metade de sua receita total de 14,5 bilhões de dólares vinda dos Estados Unidos. O segundo maior mercado é a Europa, com receita de 4 bilhões de dólares em nove meses, seguido de América Latina, com 2 bilhões de dólares, e Ásia, com 1 bilhão de dólares — numa mostra do tamanho da oportunidade em países como China, Japão e Índia.
Os Estados Unidos responderam por apenas 42% dos 157 milhões de assinantes da companhia (67 milhões de pessoas). Outros 47 milhões de assinantes estavam na Europa e 29 milhões na América Latina, a região com a assinatura mensal média mais barata entre todas (8,21 dólares). No final de 2018, a América Latina tinha 26 milhões de assinantes; e, no final de 2017, 19 milhões. Ou seja: a Netflix conquistou 10 milhões de novos assinantes na região em sete trimestres.
Manter o crescimento é um esforço que não depende apenas da Netflix — a companhia já tem como clientes um terço dos latino-americanos com acesso a banda larga, segundo a agência Bloomberg. O avanço da internet de alta velocidade depende do aumento do poder de compra de uma região que cresce abaixo da média global, mas também de decisões governamentais. No Brasil, o leilão para a adoção de internet 5G, previsto para o ano que vem, deve ficar para 2021. Na Argentina, o novo governo de Alberto Fernández anunciou, poucos dias depois de assumir, o aumento de impostos para gastos no exterior que deve impactar serviços de streaming como Netflix e Spotify, de músicas.
Outro desafio da Netflix, tanto na América Latina quanto em outros mercados, é o avanço da concorrência. A Disney lançou em novembro seu serviço de streaming Disney+ nos Estados Unidos e conquistou 10 milhões de clientes em apenas um dia. A previsão é que o serviço chegue ao Brasil em novembro de 2020. Desde o lançamento do serviço, as ações das duas companhias se mantêm estáveis (a Disney ver pouco menos que o dobro da Netflix, algo como 267 bilhões de dólares). É um sinal de que a batalha é de longo prazo. A expectativa da Disney é chegar a 90 milhões de clientes nos próximos cinco anos.
A corrida para aumentar o número de assinantes tende a ficar cada dia mais cara. A Netflix deve colocar 15 bilhões de dólares em centenas de séries e filmes originais neste ano (entre eles está o filme O Irlandês, que custou 160 milhões de dólares).
A disputa pelos direitos de seriados que fizeram sucesso no passado também desafia a racionalidade. O serviço HBO Max, da WarnerMedia, que estreará nos Estados Unidos no ano que vem, saiu vencedor do leilão pelo direito de exibir Friends por cinco anos. O preço? Segundo especulações publicadas pela imprensa americana, 425 milhões de dólares. Para não ficar para trás, a Netflix pagou um valor parecido para exibir, a partir de 2021, os 180 episódios de Seinfeld.
Conquistar a lealdade dos consumidores vai ser essencial, de acordo com a pesquisa do The Wall Street Journal: um terço dos entrevistados disse que provavelmente cancelará a assinatura da Netflix para experimentar um dos novos serviços.
A boa notícia é que o mercado deve continuar crescendo. Segundo a empresa de eMarketer, o número de assinantes de serviços de streaming já chegou a 1 bilhão em 2019 (15% da população mundial), e pode passar a 1,8 bilhão em 2023 (23% da população mundial).