Net zero já é uma realidade na construção civil. Entenda
Aumentam os pedidos de certificações para edifícios com operações sustentáveis no Brasil
Gabriella Sandoval
Publicado em 15 de setembro de 2021 às 08h00.
Última atualização em 15 de setembro de 2021 às 14h23.
Mesmo em um período marcado pela crise, o registro de novos empreendimentos que buscam certificados de sustentabilidade continua avançando. A quantidade de certificações emitidas pelo Green Building Council Brasil aumentou 28% em 2020 na comparação com o ano anterior, e a expectativa é de crescimento semelhante em 2021.
“O movimento de edifícios sustentáveis no Brasil vem crescendo com muito dinamismo, a ponto de o país liderar o ranking de certificações LEED”, comenta Felipe Augusto Faria, CEO da Green Building Council Brasil.
A certificação LEED a que o executivo se refere é sigla para “Leadership in Energy and Environmental Design”. Trata-se de um sistema internacional de certificação e orientação ambiental para edificações utilizado em mais de 160 países, e possui o intuito de incentivar a transformação dos projetos, obra e operação das edificações, sempre com foco na sustentabilidade.
“Somos o quinto país com maior número de empreendimentos certificados ou em processo de certificação”, afirma Faria. “Podemos afirmar que tivemos um ganho de maturidade e experiência em termos de ‘green building’ no Brasil, onde se destacam profissionais e empresas dispostos e capazes em maximizar a eficiência no uso de recursos naturais nas edificações.”
Zero Energy
Recentemente uma nova certificação foi lançada pela instituição, a Zero Energy, concedida a edificações que em 12 meses corridos de operação geram 100% da energia necessária para operar.
“Já temos 52 empreendimentos na certificação GBC Zero Energy, e aguardamos o registro de outros 208 prédios públicos de sete municípios do Paraná e outras 30 escolas privadas da região Sul do país.”
Faria explica que no caso dessa certificação não há possibilidade de compensação das emissões. “Na verdade, o mercado precisa entender que a prioridade é a eficiência e a otimização da gestão. Estas medidas ajudam a pagar os investimentos em geração de energia renovável, assim encontramos a viabilidade técnica e financeira para o Zero Energy."
Existem ainda exemplos de edificações “zero água”. Em Curitiba, no Paraná, o edifício Eurobusiness é autossuficiente em água. Toda água potável é retirada de poço artesiano e 100% do esgoto é tratado, de forma a reutilizar a água para fins não potáveis e o excedente devolver ao lençol freático. “O processo de todo o sistema é natural e não estão fazendo uso de elementos químicos para o tratamento”, afirma Faria.
O executivo explica que o crescimento dos edifícios verdes também é consequência da maior acessibilidade à tecnologia para geração de energia. “Além disso, a lei da micro e minigeração de energia renovável auxiliou no custo de todo o sistema, e ainda temos incentivos à fundo perdido do Programa de Eficiência Energética (PEE), que pode fomentar iniciativas.”
A creche pública Assis, em Florianópolis, por exemplo, economiza por ano 17.181,52 reais com medidas de eficiência energética e geração local de energia renovável. As medidas de eficiência energética do edifício economizam 40% do seu consumo, o restante é gerado pelo sistema fotovoltaico. Além da certificação GBC Zero Energy, ele foi o primeiro prédio público no Brasil a alcançar a certificação LEED Platinum.
Na comparação com o resto do mundo, já que o Green Building Council está presente em 80 países, o executivo vê o Brasil em ritmo avançado em relação ao conceito net zero atrelado à operação das edificações.
Mas quando o assunto inclui as emissões e considera o carbono incorporado nos materiais de construção, o que significaria zerar as emissões na fase de construção também, a situação é outra. “Aí passamos a ser desafiados pela falta de banco de dados preciso em matéria de avaliação de ciclo de vida. Trata-se de uma prática ainda incipiente, mas vejo com naturalidade. Avançaremos.”