Mark Schneider, diretor-presidente da Nestlé: “Há um interesse renovado em saúde e nutrição” (Bloomberg/Bloomberg)
Leo Branco
Publicado em 7 de novembro de 2020 às 09h48.
O diretor-presidente da Nestlé, Mark Schneider, não toma seu Nespresso à tarde, pois testes genéticos revelaram que seu organismo processa a cafeína lentamente e lhe tira o sono. Ele gosta de começar as manhãs com uma vitamina com 10 ingredientes, seguindo recomendações de colegas que o convenceram dos benefícios do coquetel para o sistema imunológico.
Schneider, nascido na Alemanha, adotou a mesma abordagem metódica para redirecionar a maior empresa de alimentos do mundo. Desde que entrou na Nestlé em 2017, tirou do portfólio produtos açucarados, como barras de chocolate Butterfinger e sorvete Haagen Dazs, ao mesmo tempo em que reformou refeições preparadas como Stouffer’s com toque vegano.
“Há um interesse renovado em saúde e nutrição”, disse Schneider em entrevista. “Acho que isso veio para ficar, certamente durante os estágios finais desta pandemia, e acreditamos que também além disso.”
Schneider não pode alegar que inventou a iniciativa saudável da empresa. É um conceito que a Nestlé buscou por quase duas décadas sob a gestão de seus dois antecessores. E alguns rivais como Unilever e Mondelez também estão remodelando portfólios em torno de opções mais saudáveis.
Mas Schneider acelerou a transformação com a reestruturação mais profunda em 30 anos, aproveitando fatores como pressão dos investidores por crescimento mais rápido, mudança de preferências dos consumidores e a pandemia de Covid-19, que mudaram a trajetória da indústria de alimentos. É uma transição que distanciou ainda mais a empresa suíça do negócio que há muito tempo definia a Nestlé: lanches e alimentos prontos que são divertidos e fáceis de comer, mas não necessariamente saudáveis.
“A Nestlé terá que caminhar na corda bamba no segmento de alimentos, enquanto equilibra o apelo tanto para o prêmio da preocupação com a saúde quanto para o público do mercado de massa”, disse Christian Zogg, responsável por ações e renda fixa da LLB Asset Management, em Vaduz, Liechtenstein, que investe em ações da Nestlé.
A tendência dos consumidores rumo a um estilo de vida mais saudável se acelerou, principalmente depois que produtos veganos se infiltraram nos corredores de supermercados e nas contas de redes sociais. A Nestlé talvez tenha chegado atrasada para a festa.
A empresa foi atrás do prejuízo, como Schneider reconhece, somente depois que rivais dos EUA como a Beyond Meat conseguiram tornar essas ofertas atraentes para o público, e agora oferece hambúrgueres à base de vegetais e nuggets de frango.
E, claro, há o fator pandemia, que transformou a maneira como muitas pessoas comem e bebem - inicialmente, com muita frequência, como o próprio Schneider admite.
A iniciativa de Schneider está em exibição no estúdio-conceito da Nestlé, na vila suíça de Konolfingen. Nesse estúdio, estagiários, startups, estudantes e cientistas se misturam para desenvolver laticínios e produtos alternativos que são mais saudáveis para os humanos e para o planeta.
Uma alternativa ao leite à base de plantas usando fava, desenvolvida em Konolfingen, promete ser semelhante ao ao leite de vaca em sabor e textura e chegará às prateleiras em março. Várias outras ideias foram desenvolvidas no estúdio, como a Momentz, outra bebida à base de plantas que usa sementes e especiarias com foco em jovens flexitaristas - pessoas que incluem produtos vegetarianos na dieta, mas também comem carne ocasionalmente. Ou o Drop of Life, um suplemento alimentar líquido vegano com vitamina B12.
Mesmo que nem todos acabem nos supermercados, eles compartilham o objetivo de oferecer produtos saudáveis e que possam ser disponibilizados ao consumidor mais rapidamente.