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"Não podemos perder mais 4 anos", diz presidente da Telefônica

Para o executivo, o Brasil não pode cair no populismo, mas sim buscar alguém que faça reformas sem abandonar programas sociais

Eduardo Navarro: "Não trabalhamos com cenário catastrófico que possa comprometer nossos investimentos" (Foto/Divulgação)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 24 de dezembro de 2017 às 10h05.

São Paulo - O presidente da Telefônica , Eduardo Navarro, classifica a eleição de 2018 como histórica. Para ele, não se trata de eleger um candidato, mas de definir um projeto de País. O executivo diz que o Brasil não pode cair no populismo e eleger um político que "venda ilusão", mas sim buscar alguém que faça reformas sem abandonar programas sociais. "Não podemos perder mais quatro anos." Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

O que Michel Temer deve se dedicar a fazer em 2018?

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Em ano eleitoral, ter reformas estruturais profundas e impopulares é muito difícil. Concluída a reforma da Previdência, o mais realista seriam reformas infraconstitucionais, que requerem menor consenso.

Para a Telefônica, qual a reforma mais importante a ser feita?

Nosso produto não é exportável, só pode ser vendido no País. O mais importante é que a economia volte a crescer. Do ponto de vista setorial, é a reforma das telecomunicações. A lei que nos regula é de 1998, que na sua época foi muito oportuna, mas ficou antiga. A população quer celular, banda larga. E temos uma regulamentação da época do orelhão.

O que é preciso para que empresas retomem investimentos?

Primeiro, gerar demanda. As empresas querem ganhar dinheiro, vender mais. Uma das formas é reduzir a carga tributária. De tudo o que ganhamos, 36% ou 37% vão para impostos. Se conseguíssemos ter um Estado mais produtivo poderíamos reduzir a carga fiscal, e esse dinheiro iria para o consumo e mais investimento.

As eleições de 2018 preocupam a Telefônica?

Nem no pior momento da recessão alteramos nosso plano de investimento. Nossa visão é de longo prazo. O debate de 2018 não começou. Ainda se fala em nomes. Para nós, muito mais importantes são os programas. Quero saber o que cada candidato irá propor do ponto de vista do que acreditamos importante: uma agenda reformista, que aumente emprego. O País hoje tem capacidade de crescimento de 2% ou 3%, mas tem de crescer 5%. Temos de olhar os países que competem conosco, do Sudeste Asiático, China, Índia, que crescem a 7%, 8%. Hoje temos nível de crescimento inferior ou igual ao de Estados Unidos e Europa, países ricos que têm infraestrutura construída.

Com a crise fiscal, programas sociais têm sido questionados. Eles deveriam ser mantidos?

Ninguém pode negar que na última década houve redução significativa da miséria do País, que se ajudou a criar uma classe média. Os programas sociais foram muito importantes, mas não foram suficientes. Faltou a parte do investimento. De qualquer forma, os programas sociais são importantes. Qualquer solução proposta que esqueça um dos dois lados pode significar novo voo de galinha. Já tivemos períodos de grande crescimento que não foram acompanhados por melhor distribuição social e batemos contra a parede. Recentemente tivemos crescimento do consumo e da distribuição de renda que não foram acompanhados da alta de produtividade. Deu no que deu. Não podemos cair no populismo, que só defenda uma agenda. Você tem de ter capacidade de explicar à sociedade que as duas áreas são importantes.

O sr. vê com bons olhos a candidatura de um "outsider"?

Se for um outsider, a dúvida é a capacidade de fazer a necessária aglutinação com a classe política e diversos setores, como sindicatos. Às vezes um empresário que teve grande êxito na vida pública não tem a mesma capacidade (na política). Se vier um outsider que tenha capacidade de articulação, será mais do que bem-vindo. Mas o mais importante é que reúna as capacidades. Tem de ter princípios de ética e transparência e agenda clara de País. Não podemos vender ilusão. Estamos diante de uma eleição histórica. Não vai ser uma eleição entre um candidato ou outro. Vai ser uma eleição entre projetos de País. Não podemos perder mais quatro anos. Se os próximos quatro anos forem positivos, o País vai deslanchar. Se não conseguirmos fazer isso, sou pessimista sobre o que acontecerá.

A Telefônica programou-se para investir R$ 8 bilhões por ano. Há risco de isso mudar?

Não trabalhamos com cenário catastrófico que possa comprometer nossos investimentos.

O que seria um cenário catastrófico? Um eleito de extrema direita ou extrema esquerda?

Não associamos cenário catastrófico a nenhuma ideologia ou partido político. Para nós, o que importa é o cenário macroeconômico: taxa de juros, inflação, dólar. Não vejo cenário catastrófico para o Brasil. Há um cenário mais acelerado ou aquele em que andamos mais devagar. Não trabalhamos com a possibilidade de o País voltar atrás.

Há candidatos que falam em reestatização. Como o sr. vê esse tipo de discurso?

Não é papel do Estado fazer gestão de empresa de comunicação, energia, etc. Pode se reservar um ou outro setor estratégico. Mas o governo tem de se preocupar em nos dar melhor segurança, educação e saúde e em criar um marco regulatório que permita que os investimentos privados aconteçam.

O governo de Michel Temer deixará legado ou ficará marcado por suspeitas de corrupção?

Michel Temer conseguiu uma série de avanços, algo muito positivo. Sobre a parte política, não comentarei. Do ponto de vista econômico, pode deixar o legado de pavimentar as bases para o próximo governo.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo

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