Kellogg, Pirelli e GM: veja as empresas que já saíram da Venezuela
Em um país arrasado e em recessão há cinco anos, as companhias enfrentam dificuldades para manter as fábricas funcionando
Karin Salomão
Publicado em 11 de janeiro de 2019 às 06h00.
Última atualização em 11 de janeiro de 2019 às 09h39.
São Paulo - A posse de Nicolás Maduro como presidente da Venezuela, realizada ontem, 10, ocorre em meio a uma grave crise econômica e uma fuga de empresas. Multinacionais como Kellogg e Pirelli deixaram o país nos últimos meses, deixando a população sem acesso a itens básicos.
Em um país arrasado economicamente e em recessão há cinco anos, as companhias enfrentam dificuldades para manter as fábricas funcionando, como falta de matérias-primas, insumo, acesso a dólares, tabelamento de preços pelo governo e uma hiperinflação que chegou a 1.700.000% no ano passado.
No ano passado, o Conselho Nacional do Comércio e dos Serviços da Venezuela (Consecomercio) informou que ao menos 500 mil empresas fecharam desde 2002. A Confederação Venezuelana de Industriais (Conindustria) estimou que mais de mil fábricas fechariam as portas no país no ano passado, o equivalente a 27% das indústrias que ainda sobrevivem.
O presidente do país, que se mantém no cargo desde 2013, após a morte de Hugo Chávez, reagiu a alguns desses fechamentos incentivando a tomada das instalações das companhias pelos trabalhadores. Também informou que as aéreas não poderiam retornar.
Desde 2016, empresas como Kimberly-Clark, General Mills, General Motors e Bridgestone anunciaram que fecharam suas operações no país. Quando anunciou que deixaria o país, em 2017, a GM já não conseguia fabricar carros inteiros no país, por conta da escassez de peças importadas.
A construtora brasileira Andrade Gutierrez, que atuava em uma construção de siderúrgica no país, paralisou as obras desde o ano passado.
As companhias aéreas Latam Airlines, Deutsche Lufthansa e o Grupo Aeromexico disseram que deixariam de voar para a Venezuela. Aéreas brasileiras, como a Gol e a Latam, também mantêm suspensos seus voos para o país desde 2016 devido às dificuldades para receber pagamentos.
Em maio do ano passado, a fabricante de cereais americana Kellogg fechou sua fábrica no país. O presidente reagiu afirmando que “é a guerra das transnacionais e do imperialismo”. “Entregamos a empresa aos trabalhadores e vamos iniciar ações judiciais para que paguem nos tribunais”.
A fabricante irlandesa de embalagens, Smurfit Kappa, encerrou suas operações em agosto, depois que o governo venezuelano demandou reajuste de preços. A companhia já atuava no país há 80 anos.
Em setembro, foi a vez da Pirelli, fabricante de pneus, deixar o país. Ela informou que vendeu sua fábrica, por uma quantia não especificada, para um grupo de empresários da América do Sul e o grupo Sommers International. A companhia estava há 28 anos no país.Outra fabricante de pneus, a Goodyear, também fechou as portas.
Outras empresas reduziram drasticamente suas operações. Apesar de ter dezenas de produtos em seu portfólio, a gigante Unilever reduziu, em agosto, sua produção na Venezuela a apenas um item: sorvete da marca Tio Rico.
A Ford também precisou cortar sua produção no país. A montadora, que anunciou não ter intenções de sair da Venezuela, produz agora apenas um modelo, por conta da baixa demanda.
Brasil e Venezuela
Apesar da dificuldade de exportação e os riscos de calote, ainda há brasileiras que exportam para a Venezuela.
Depois de um pico em 2012, em que o valor exportado atingiu quase 5 bilhões de dólares, as exportações tiveram uma queda bruta e em 2017 chegaram a apenas 470 milhões de dólares. No ano passado, o número subiu para 577 milhões de dólares, segundo a balança comercial.
Os produtos básicos dominam as exportações, como grãos - arroz e soja - açúcar e cana, plástico, óleo de soja e papel e cartão para fins gráficos.
Um dos principais produtos de exportação é bastante inusitado: papel moeda. Por conta da enorme demanda por dinheiro vivo causada pela hiperinflação, o país não consegue imprimir dinheiro o suficiente e precisa importar do Brasil.
Em seu discurso de posse, o presidente Nicolás Maduro afirmou que procura “defender a independência e a integridade absolutas da pátria, levar prosperidade social e econômica ao nosso povo e construir o socialismo do século XXI”. Mas, com eleições suspeitas de fraude e pressão de outros países, a situação na Venezuela deve demorar para melhorar.