Avião da Flybondi na Argentina: empresa fundada em 2018 é a terceira em voos domésticos no mercado argentino. Líder é a estatal Aerolíneas Argentinas (Flybondi/Divulgação)
Carolina Riveira
Publicado em 14 de novembro de 2019 às 06h00.
Última atualização em 14 de novembro de 2019 às 07h00.
Passageiros de companhias aéreas argentinas haviam começado a desfrutar das vantagens oferecidas pelas operadoras de baixo custo. Agora, a transformação do mercado, com um ambiente mais competitivo, está ameaçada por um poderoso inimigo em potencial: o novo presidente da Argentina.
Embora Alberto Fernández não tenha detalhado os planos para o setor, o presidente eleito enfatizou durante a campanha a necessidade de impulsionar a estatal Aerolíneas Argentinas. Mauricio Macri, derrotado nas eleições, liderou medidas que permitiram às aéreas de baixo custo disputarem passageiros com mais eficácia desde o ano passado.
A vitória esmagadora de Fernández - alimentada pela rejeição dos eleitores às medidas de austeridade adotadas como contraparte a um empréstimo de 56 bilhões de dólares do Fundo Monetário Internacional - põe em perigo uma abertura do setor de aviação que permitiu que meio milhão de passageiros voassem pela primeira vez.
A Flybondi, maior companhia aérea de baixo custo, causou polêmica na semana passada depois que o ex-presidente da empresa chamou o partido de Fernández de “câncer” em mensagens pessoais vazadas.
“O governo Fernández pode dificultar muito a entrada de novatas e favorecer a Aerolíneas Argentinas”, disse Savanthi Syth, analista do setor aéreo da Raymond James. Segundo Syth, existe o risco de que o ambiente no mercado argentino, de certa forma favorável, seja revertido com uma mudança de governo com barreiras à competição e a novos concorrentes.
Empresas como Flybondi, Norwegian Air Shuttle ASA e JetSmart do Chile inundaram a Argentina que, segundo Syth, registra o menor número de viagens da América Latina por pessoa depois da Venezuela. A Argentina registrou 14,2 milhões de passageiros domésticos em 2018, um aumento de 13% em relação ao ano anterior, e as aéreas de baixo custo agora operam 40 rotas, com mais de 3,4 milhões de passageiros transportados desde o início de 2018, segundo o Ministério dos Transportes.
“Continuaremos a fazer o que sabemos fazer: ser eficientes, demonstrando que nosso modelo não tem partido político”, disse Mauricio Sana, diretor comercial da Flybondi, em comentários antes da polêmica envolvendo o ex-presidente da empresa, Julian Cook. O executivo deixou o conselho da Flybondi na semana passada após as críticas contra o partido do presidente eleito.
Os subsídios para a estatal Aerolíneas Argentinas devem somar 300 milhões de dólares neste ano, acima dos 197 milhões de dólares em 2018, devido à recente volatilidade cambial, disse Guillermo Dietrich, ministro dos Transportes do governo Macri. Outro obstáculo vem da força dos sindicatos, que exigem mais pilotos e mecânicos por avião do que outras empresas que operam no país, disse.
“Trabalhamos duro para cortar custos”, disse. “Para reduzir os quilos na aeronave, analisamos tudo, desde a digitalização de manuais até mexedores de café.”
Muitas aéreas de baixo custo têm diversificado riscos em meio à turbulência. Quatro delas anunciaram este ano que estão lançando rotas para o Brasil, o maior mercado da região.
No entanto, o destino delas depende do que acontece na Argentina. “Nada está claro por enquanto”, disse Sana, da Flybondi.