MRV: a MRV poderá atingir um Valor Geral de Vendas (VGV) bruto de 7,5 bilhões de reais já em 2018 (Paulo Fridman/Bloomberg/Bloomberg)
Reuters
Publicado em 12 de dezembro de 2017 às 21h47.
São Paulo - A MRV deve investir 50 bilhões de reais nos próximos 10 anos, o dobro do aplicado nos últimos 10, como parte dos planos de expandir sua participação no mercado e entregar 500 mil unidades até 2028, disseram nesta terça-feira executivos da maior construtora de imóveis econômicos do país.
"Nossa estrutura já nos permite lançar 50 mil unidades por ano, então 500 mil unidades em 10 anos é factível, haverá demanda", comentou o copresidente da companhia Rafael Menin a jornalistas após encontro com analistas e investidores, em São Paulo.
Considerando o valor médio de 150 mil reais por unidade, a MRV poderá atingir um Valor Geral de Vendas (VGV) bruto de 7,5 bilhões de reais já em 2018. O executivo ressaltou que o número é apenas uma estimativa obtida com base nos dados anualizados do segundo semestre deste ano.
Na avaliação de Eduardo Fischer, também copresidente da MRV, o risco principal para a empresa cumprir a meta de investimento de 2018 a 2028 é a disponibilidade de financiamento, em um ambiente em que a Caixa Econômica Federal trabalha para se adequar ao índice de Basileia III.
Segundo o diretor financeiro da MRV, Leonardo Côrrea, outros setores estão tentando ter acesso a recursos do FGTS, "mas vemos consistência de governo e gestores em deixar o fundo focado na habitação". Nesta terça-feira, o Senado aprovou projeto que autoriza o Conselho Curador do FGTS a comprar até 15 bilhões de reais em instrumentos de capital do banco para reforçar seu capital.
E para além das dificuldades da Caixa, embora acreditem em um crescimento real da economia no ano que vem, ambos os copresidentes advertiram que as incertezas com o cenário eleitoral de 2018 podem dificultar captações de recursos nos próximos meses.
As ações da MRV foram o destaque positivo do Ibovespa nesta terça-feira, fechando com alta de 5,43 por cento, cotadas a 14,18 reais. Em 2017, acumulam ganho de 35,4 por cento.
Dentro do investimento previsto para a próxima década, a MRV prevê 50 milhões de reais por ano para tecnologias que garantam maior eficiência operacional e cerca de 100 milhões de reais para infraestrutura em torno dos empreendimentos. A empresa tem como meta de curto prazo operar com 2,5 trabalhadores por apartamento, ante 4 por unidade atualmente e 11 por unidade em 2007.
A MRV registrou nos meses de outubro e novembro o melhor desempenho de vendas brutas de 2017, com 8.318 unidades comercializadas, e informou que caminha para fechar dezembro como o mês mais forte do ano. Fischer comentou que a estratégia da MRV é favorecida pela dispersão geográfica dos empreendimentos. Desde a abertura de capital, em 2007, a companhia expandiu seu raio de atuação de 28 para 148 cidades do país.
Os executivos observaram que a empresa ainda não é líder em algumas regiões metropolitanas como, por exemplo, Salvador, mas espera ganhar participação de mercado nos próximos meses. "Não somos líderes porque nosso landbank (estoque de terrenos) é recente, mas essa participação já vai mudar completamente nos próximos seis meses", disse Menin.
A construtora aproveitou o cenário de recessão para comprar mais áreas e desembolsou cerca de 1 bilhão de reais nos últimos três anos com isso. A expectativa é de que a MRV gastará mais 500 milhões de reais com terrenos em 2018, mas os copresidentes destacaram que a janela de oportunidades já começa a se fechar e a partir de 2019 o foco será a reposição de áreas
Ainda de acordo com eles, cerca de 10 por cento do estoque atual de terrenos se adequa à linha de imóveis para média renda, que a MRV havia descontinuado em meio à crise, mas decidiu relançar sob o nome "Produto Premium" diante da demanda por unidades novas e da melhora de indicadores econômicos.
O chamado "Produto Premium" da MRV atenderá famílias com renda mensal de 5 mil a 10 mil reais e será composto por apartamentos de 200 mil a 350 mil reais. Os empreendimentos utilizarão como fontes de financiamento os recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), da linha pró-cotista e da aguardada Letra Imobiliária Garantida (LIG).
Menin estima que o segmento deverá representar menos de 5 por cento do mix de vendas contratadas em 2018. Ele alertou, no entanto, que esse percentual pode chegar a 30 por cento nos próximos anos, caso o cenário de juros básicos baixos persista.
O executivo comentou que a nova linha adotará um modelo parecido ao dos projetos enquadrados no Minha Casa Minha Vida (MCMV), com ciclo financeiro curto e repasse do imóvel durante a obra, mas se concentrará em capitais ou cidades com maior poder aquisitivo como Ribeirão Preto, Campinas e São José dos Campos, em São Paulo, e Londrina (PR).
"Há uma lacuna nesse mercado e o modelo atual desse segmento está atrasado na nossa opinião, tem sido pouco inovador", afirmou Menin. Segundo ele, os primeiros lançamentos da linha Premium devem ocorrer entre o primeiro e o segundo trimestres de 2018. "Podemos lançar MCMV e premium dentro do mesmo complexo", disse.
A MRV já está em conversas com bancos públicos e privados interessados em financiar os empreendimentos de média renda, completou o diretor executivo de finanças da companhia.