Mercado de veículos se manteve estável, mas futuro é incerto, diz Anfavea
Bons resultados no primeiro trimestre, principalmente de caminhões, reduziu diferença em relação ao acumulado de 2020
Gabriel Aguiar
Publicado em 7 de abril de 2021 às 13h29.
Última atualização em 7 de abril de 2021 às 13h52.
A Anfavea, associação dos fabricantes de veículos, divulgou o balanço do primeiro trimestre de 2021 e, apesar de o setor apresentar queda de 5,4% quando comparado ao ano passado, a entidade enxerga o resultado com bons olhos – prova disso é o crescimento de 13,1% frente a fevereiro.
Isso porque foi justamente em março do ano passado que começaram as medidas mais restritivas para circulação de pessoas e paralisações das linhas de montagem como efeito da pandemia da Covid-19. E foi neste período que a média diária de vendas passou de 9.390 para 1.160 unidades.
Entretanto, em março deste ano, o cenário ficou estabilizado, com média de 8.248 licenciamentos por dia. “É a mesma pandemia, só que com comportamentos da sociedade, de negócios, de concessionarias e de Detran que são diferentes”, afirma Luiz Carlos Moraes, presidente da entidade.
De acordo com o executivo, esse período de enfrentamento ao novo coronavírus também serviu para reavaliar os métodos e criar ferramentas de vendas virtuais para reduzir a eventual queda. “Claro que queríamos números maiores, mas, na situação atual, são bons números”, completa.
Com isso, a tendência é de que a diferença em relação ao período de 2020 comece a diminuir. No caso de automóveis, por exemplo, o déficit que chegou a 21% no último mês já baixou para apenas 11%. E o setor de ônibus, que tem sofrido com a pandemia, reduziu de 23% para 9% a lacuna.
Por outro lado, o setor de caminhões continua em crescimento, com vantagem de 30% em relação às vendas no primeiro trimestre do ano passado, assim como os veículos comerciais leves – que incluem picapes como a Fiat Strada, atual líder de mercado –, que estão 17% à frente de 2020.
“É sempre bom observar os dados de caminhões em conjunto, com avaliação de pelo menos três meses, porque esse setor é muito influenciado pelo agronegócio, mineração e construção. E, atualmente, está em uma situação bastante estável”, diz Gustavo Bonini, vice-presidente da Anfavea.
Também houve aumento significativo das exportações, com quase 37 mil unidades enviadas para fora do país, contra aproximadamente 33 mil unidades em fevereiro. Ou seja, aumento de 11,2% no volume. Em valores, saltou 13,7%: foi 608 milhões de dólares para 691,2 milhões de dólares.
“Houve um esforço para atender países como Argentina, que está em um momento de alta demanda; México; Chile e Colômbia, por exemplo. E as empresas estão aproveitando esse câmbio favorável para atenuar o custo adicional na importação de componente e ter equilíbrio”, diz Moraes.
Na comparação entre os trimestres, foram exportados cerca de 96 mil veículos – quase 1/6 da produção no período – neste ano, contra 89 mil veículos em 2020. Essa diferença de 7,6% no volume representa aumento de 23,5% em valores: passou de 1,42 bilhão de dólares a 1,75 bilhão de dólares.
Não dá para esquecer que, nas últimas semanas de março deste ano, 30 fábricas de 14 empresas foram paralisadas parcialmente ou totalmente em seis estados. Mesmo assim, o ritmo de produção foi bom e fechou março com praticamente 600 mil veículos (só no último mês, foram 200.300).
Quanto às previsões de futuro, o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, se sente receoso. “Olhando para frente, ficamos preocupados porque, em Brasília, há gente pensando na eleição e não em fechar o ano. Não se notou a gravidade da situação. Se notou, está demorando para agir”, afirma.
Segundo o executivo, o principal risco para as próximas semanas é a falta de componentes eletrônicos, como microprocessadores e semicondutores que já paralisaram linhas de montagens na Europa e nos Estados Unidos. Por aqui, foi responsável pela pausa na produção do Chevrolet Onix.
Durante a coletiva, o representante dos fabricantes também salientou questões tributárias, a exemplo do aumento do ICMS em SP, e a instabilidade cambial. Também demonstrou preocupação em relação à inflação, com previsão de IPCA entre 5% e 6% neste ano e IGP-M a 30% no último mês.
“Todas as empresas estão falando com as matrizes para manter investimentos, porque é uma discussão constante de longo prazo. Estamos trabalhando e somos os maiores embaixadores do país, mas é difícil explicar o básico, como orçamento, insegurança jurídica e ruídos políticos”, diz Moraes.
Entretanto, apesar das considerações negativas e observações políticas, o executivo nega a possibilidade de que outros fabricantes sigam pelo mesmo caminho da Ford, que anunciou o fechamento das unidades brasileiras neste ano e passará a trabalhar no mercado nacional só com importações.