Impérios familiares estão na mira do novo presidente sul-coreano
Grupos como Samsung e Hyundai desempenharam um papel crucial no "milagre" econômico dos anos 60 e 70 que mudou o país devastado pela guerra
AFP
Publicado em 11 de maio de 2017 às 17h39.
A maior fabricante mundial de smartphones Samsung e outros grandes conglomerados da Coreia do Sul estão na mira do novo presidente Moon Jae-In, que, segundo os analistas, pode conseguir reformas que outros não tiveram.
A quarta economia da Ásia está dominada por alguns "chaebols", tentaculares impérios familiares.
Grupos como Samsung e Hyundai desempenharam um papel crucial no "milagre" econômico dos anos 1960 e 1970 que mudou radicalmente um país devastado pela guerra.
Esses gigantes empregam muitos trabalhadores. Por exemplo, a Samsung está presente na moda, administra hotéis e um parque de diversões, além de produzir smartphones, microchips e televisores. Representa 25% do Produto Interno Bruto do país.
Esses grupos adquiriram grande influência política, têm uma posição dominante e suas famílias dirigentes são acusadas de se livrar de práticas corruptas.
Essas cumplicidades entre elites política e econômica foram reveladas pelo escândalo de corrupção que provocou a queda da presidente conservadora Park Geung-Hye.
O novo presidente Moon quer pressionar aos quatro grandes, Samsung, Hyundai, SK e LG. "Tomarei a iniciativa para reformar aos conglomerados", disse na quarta-feira, durante sua posse. Mas não é a primeira vez que o poder promete mudanças, até agora resultados.
Os clãs dos ricos
Com a ira da opinião pública -que já forçou a saída da presidente Park-, dessa vez são maiores as possibilidades de que a reforma dos chaebols seja aplicada.
Essa possibilidade "se reforçou", opina Gareth Leather, analista da Capital Economics.
O termo "chaebol" procede da combinação de dois caracteres que significam "riqueza" e "clã".
Muitas famílias só têm uma pequena parte de sua companhia, mas as controlam graças a complexas estruturas de participações cruzadas, e às rápidas ascensões na empresa, que beneficiam os membros do clã.
Entre os protagonistas do escândalo Park, está o herdeiro do império Samsung, Lee Jae-Yong, julgado pelo pagamento subornos em troca de favores governamentais.
Moon prometeu dar transparência à governança de empresas, para lutar assim contra as estirpes dinásticas.
Uma pesquisa sobre o voto acumulativo dos acionistas nas eleições dos conselhos de administração facilitaria a entrada de 'outsiders'.
Isso reforçaria "a independência e a responsabilidade dos conselhos de administração", afirma C.W. Chung, analista de Nomura Securities.
Prestígio
A esquerda controla a presidência, mas também a Assembleia nacional, motivo pelo qual as possibilidades de reforma "nunca foram tão grandes", acrescentou.
Moon quer também limitar a quantidade de indultos presidenciais que são oferecidas a grandes capitães da indústria.
Segundo ele, "as famílias dos chaebols estão no centro de muitos delitos de colarinho branco, como fraude fiscal e evasão fiscal".
Os diretores culpados de delitos financeiros frequentemente se beneficiaram de suspensão de penas, já que os tribunais temem os riscos econômicos que os exporiam a castigos mais severos.
O presidente da Samsung Lee Kun-Hee, culpado de evasão fiscal e abuso de bens sociais, conseguiu duas vezes o indulto presidencial.
No entanto, o poder dos chaebols é tão grande que muitos continuam céticos em relação a essas medidas.
Tudo o que pode prejudicar os chaebols também prejudica os funcionários e a economia em geral, adverte Robert Kelly da Universidade nacional de Pusan.
Os chaebols estão "profundamente enraizados no sistema", mas continuam sendo admirados e para muitos é um "prestígio" trabalhar neles, na medida em que estariam "imunes à ação governamental", acrescenta.
"Samsung e LG não são apenas empresas. São vistos como campeões nacionais", explica.