Holocracia, OKRs, liderança diversa: por que tudo isso importa às PMEs
Saiba o que são e por que importam aos empreendedores alguns dos conceitos de gestão de empresas em alta no universo corporativo depois da pandemia
Da Redação
Publicado em 28 de maio de 2022 às 08h00.
Juliano Martins, professor associado da Fundação Dom Cabral
Vivemos a geração de executivos e profissionais com os maiores desafios relacionados à liderança nos últimos 50 anos. Nos últimos dois anos, eles foram forçados a criar uma nova forma de operar e conviver nas empresas, graças a pandemia da Covid-19, o trabalho remoto, GIG Economy, diversidade, holocracia, inovação, etc.
Seja para uma empresa familiar, ou uma empresa com executivos à sua frente. E isto gera impacto direto na vida profissional de líderes e equipes de todas as organizações. Se você é líder, vai precisar comandar e se engajar como nunca foi necessário.
Se você é parte de uma equipe, vai precisar identificar a nova forma de se posicionar profissionalmente para acelerar seu crescimento e evolução.
Na realidade das empresas pequenas e médias empresas ( PMEs ) o impacto é ainda mais relevante, pois não existem recursos abundantes para gerir as iniciativas e testes, no volume necessário para gerar o aprendizado rápido. Ou seja, o risco é muito maior para provar novas formas de fazer o dia a dia.
A boa notícia é que com esta responsabilidade adicional, temos também uma série de oportunidades que se apresentam para aqueles líderes e liderados que conseguirem analisar, agir e aprender com velocidade, para garantir a transformação constante das organizações.
As principais tendências, a meu ver, são:
- Liderança integradora
- Horizontalização e holocracia
- Liderança situacional
- Diversidade cognitiva
- Cultura ágil
- Endomarking
Como fazer uma liderança integradora
A chegada das novas gerações ao mercado de trabalho é mais do que uma tendência, é uma característica da nova realidade. Líderes integradores, capazes de entender e engajar todos os perfis de colaboradores, são agora vitais para o andamento acelerado dos negócios. Não basta ser bom para os mais maduros sem ser compreendido pelos mais jovens.
A criação de uma linguagem corporativa única agora é critério decisivo para fazer a estratégia sair do topo e chegar a todas as áreas da empresa. O nome do cargo do principal executivo poderia mudar para Chief Integration Officer. A integração entre gerações na realidade das empresas não é o problema, mas sim, a solução.
O que é holocracia
A Holocracia é um modelo de gestão em que não há um sistema rígido de hierarquia, sendo o poder de tomada de decisões dividido entre os colaboradores da empresa. A tendência da descentralização do poder nas organizações é uma realidade que já impacta na forma como as empresas atraem e retêm novos talentos.
Neste ponto, as PMEs estão em vantagem, pois por natureza, já operam com organizações com menos níveis hierárquicos. Para as PMEs o desafio maior é para o principal executivo, que vai precisar encontrar uma forma de garantir a execução da estratégia renunciando a parte do controle.
O caminho está na implantação da cultura de gestão de projetos por indicadores como a metodologia dos OKR (Objective and Key Results). Uma linguagem simples e direta que dá aos gestores uma forma objetiva de medir a performance das equipes, de forma presencial ou com o desafio adicional do trabalho remoto.
E para as equipes, mesmo aquelas com muitos membros adeptos à GIG Economy (uma forma de trabalho baseada em pessoas que têm empregos temporários ou fazem atividades de trabalho freelancer, pagas separadamente, em vez de trabalhar para um empregador fixo) é a oportunidade de ter mais autonomia para definir e realizar a forma como os objetivos serão realizados. Partindo do ditado corporativo: Se a cultura devora a estratégia na hora do almoço, a estrutura organizacional devora a cultura no jantar. Pense nisso.
A fronteira da diversidade cognitiva
A diversidade cognitiva é uma boa notícia! E é caracterizada pela existência de pessoas com estilos, personalidades e origens diferentes convivendo no mesmo ambiente ou trabalhando em um mesmo projeto. A diversidade demográfica (gênero, raça, idade, formação, experiência profissional, etc) não é mais o único prisma para analisar pessoas.
As empresas precisam de perfis diversos de pessoas, comportamentos, pensamentos e conhecimentos. Está é a única forma de construir uma visão estratégica que tenha tração no mercado, que agora conta com uma diversidade de perfis de clientes nunca antes vista. Diversidade não é mais “nice to have”, mas “must have” para garantir a sobrevivência das empresas.
Como demonstrar liderança situacional
A metodologia consagrada de liderança situacional, na qual o gestor ou líder da organização deve se comportar de acordo com o momento e com o perfil e maturidade das suas equipes, alternando entre um comportamento mais diretivo ou comportamento de apoio, continua mais atual do que nunca.
O principal executivo da empresa deve considerar esta matriz de situações em suas interações do dia a dia, da mesma forma que os membros das equipes precisam adquirir o senso de responsabilidade sobre esta variedade de cenários, buscando uma mudança progressiva de comportamento para se apresentarem como recursos habilitados para todos os momentos da empresa.
O novo profissional precisa se sentir responsável pelo sucesso desta iniciativa, tanto quanto os líderes das organizações. Este não é um problema dos “chefes”, é um desafio de todos. Vai crescer e ser promovido nas organizações quem tiver maturidade para entender e se adaptar rapidamente.
A importância da cultura ágil
A necessidade da implantação de uma cultura organizacional que incentive a inovação já não é novidade, mas existem formas certas e erradas de se fazer. No mundo das PMEs, a equação primordial a ser resolvida é como investir recursos finitos no futuro inovador, sem impactar a operação no presente.
A resposta objetiva é: o líder deve promover a consolidação do planejamento estratégico da empresa, com seus resultados de curto/médio/longo prazos, inserindo a inovação no contexto tático e operacional de todas as áreas da organização.
Se inovação for uma área, gestor, ou recurso apartado da operação da empresa, cria-se um cenário de baixa propensão ao sucesso de tudo o que for novo. A PME não tem tempo ou recursos para o novo.
A PME tem necessidades urgentes hoje. A inovação da PME deve estar em todas as ações da empresa e o líder da inovação é o CEO ou o principal executivo. Nas grandes empresas, o tema da inovação pode contar com recursos dedicados. Na PME, não.
A comunicação interna além do endomarketing
O endomarketing é agora uma função do CEO, não apenas do RH. A complexidade de mensagens e públicos diferentes dentro das empresas aumentou bastante, em especial, nos últimos dois anos.
As empresas com crescimento acelerado são hoje aquelas que têm uma visão estratégica clara e que conseguem fazer esta visão chegar rápido e de forma consistente em toda a organização.
A partir de agora, todas as empresas devem criar seus comitês de comunicação estratégica como parte de seus ritos mensais de gestão, tendo o CEO ou principal executivo como líder do processo, mas também com representantes de todas as áreas chave da empresa.
A gestão de indicadores também é vital para medir o nível de engajamento de todos os públicos internos.
Os processos de reconhecimento e remuneração variável dos executivos também devem agora conter elementos e indicadores que estão associados a este desafio.
O valor de voltar para a "sala de aula"
Concluindo, o desafio de construir uma cultura de liderança transformadora parte dos líderes, mas tem uma dependência direta da aceleração do amadurecimento de todos os membros das empresas. O fortalecimento da comunicação estratégica dentro das empresas pode, e deve, considerar a criação de uma agenda perene com o CEO e representantes de todas as áreas.
A aceleração do desenvolvimento profissional dos executivos e do amadurecimento dos liderados, principalmente das novas gerações neste novo contexto, merece dedicação de tempo, energia e recursos financeiros, garantindo o apoio de metodologias novas e consagradas com atualização e capacitação.
Mais do que nunca, o valor de voltar para a "sala de aula" se faz presente. Contar com o apoio de metodologias, soluções educacionais, mentorias e conteúdo acadêmico são boas formas de mitigar os riscos e maximizar as oportunidades deste novo momento. Temos bastante oportunidade neste cenário de hoje, mas apenas para aqueles que estiverem preparados.
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