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Tatiana Vaz
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h39.
São Paulo - A Telefônica até que tentou, mas não foi desta vez que conseguiu comprar a Vivo. Como adiantaram analistas ouvidos pelo site EXAME, a venda da parcela da PT na operadora brasileira era uma questão de preço. E a nova proposta de 7,15 bilhões de euros convenceu 74% dos acionistas da operadora portuguesa. Porém, a operação foi barrada pelo governo português na assembleia desta quarta-feira (30) que usou seu direito de golden share para impedir a negociação.
A nova proposta está muito próxima ao que o mercado considerava ser o preço justo para a Vivo - algo entre 7,3 bilhões e 7,5 bilhões de euros. Desde que a primeira abordagem dos espanhóis foi feita, no início de maio - quando apresentaram uma oferta de 5,7 bilhões de euros -, o mercado vinha interpretando as manifestações da Portugal Telecom como uma estratégia para conseguir um preço melhor pela empresa brasileira.
Plano B
Até esta manhã, os analistas avaliavam que a PT estava tentando conseguir o máximo de dinheiro com a venda da Vivo para, em seguida, buscar um novo alvo no Brasil. A maior aposta era de que os portugueses tentariam comprar a Oi. Segundo um relatório da corretora Ativa, assinado pela analista Luciana Leocádio, assumir o controle da Oi custaria 5,5 bilhões de euros (cerca de 12 bilhões de reais), menos do que a companhia receberia com a venda de sua participação na Vivo. De qualquer forma, nenhuma ação pode ser feita, enquanto a venda não for aprovada pelo governo português.
Ecos da crise
A negociação pelo controle da operadora brasileira envolve ainda a delicada situação econômica dos países de origem da PT e Telefônica, segundo Evaldo Alves, professor de economia da Fundação Getúlio Vargas. Segundo ele, tanto a Espanha, quanto Portugal vivem uma crise financeira grave, o que aumenta ainda mais o valor estratégico da participação dos portugueses na Vivo.
"Na negociação, a importância da operadora ultrapassa o valor de mercado, pois envolve questões políticas e até nacionalistas", afirma o professor. "As empresas são de dois países atualmente carentes de financiamentos; vai ceder primeiro o lado que primeiro precisar de recursos rápidos".
Seguir sozinho
Nos últimos tempos, o setor de telecomunicações aponta para a convergência de serviços. É crescente a avaliação de que, para ser competitivas, as empresas precisam oferecer todo tipo de serviço aos usuários - telefonia fixa, móvel, banda larga e, no limite, TV por assinatura.
Se a venda da Vivo fosse aprovada hoje, seria este o caminho que a Telefônica tomaria. O plano espanhol era razoavelmente claro: fundir a Telesp, sua operadora de telefonia fixa, à Vivo. Além disso, como conta com o Speedy e a TVA, a Telefônica poderia oferecer, no futuro, pacotes completos de voz, dados e TV paga.
O bilionário mexicano Carlos Slim também dá mostras de que pretende seguir por aí, ao reestruturar seus ativos de telecomunicações. O redesenho culminará com a união da Embratel com a Claro no Brasil. E nunca é demais lembrar que a Oi, hoje a maior operadora do país em faturamento, oferece serviços de voz e dados.
Por isso, outra dúvida causada pela recusa dos portugueses em vender a operadora brasileira é se a Vivo será capaz de sobreviver sozinha, em um mercado onde a convergência é crescente. Para Rosângela, da SLW, a resposta é sim. "A Vivo conseguiria se manter independente no mercado, por meio de parcerias para oferta de serviços integrados", diz.
O desfecho da assembleia é visto como mais prejudicial à Telefônica. "Por atuar sobretudo em telefonia fixa no Brasil, a empresa depende de um setor estagnado e precisa ampliar rápido seu portfólio de serviços aos clientes", afirma Rosângela. E nunca é demais lembrar, também, que, ao recusar a venda, Portugal Telecom e Telefônica permanecem sócias na Brasilcel - a holding que controla a Vivo. Uma sociedade que tem tudo para ficar cada vez mais tumultuada.