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Ex-CEO estava doente há mais de um ano. Mas a Fiat diz que não sabia

O ex-CEO Sergio Marchionne, que faleceu na quarta-feira, estava gravemente doente, mas não comunicou seu problema de saúde aos acionistas.

Sergio Marchionne, ex-CEO da Fiat, morreu essa semana (Rebecca Cook/Files/Reuters)

Mariana Desidério

Publicado em 27 de julho de 2018 às 15h39.

A revelação de um hospital de Zurique de que Sergio Marchionne estava gravemente doente há mais de um ano levantou a pergunta óbvia: como um workaholic e fumante inveterado conseguiu esconder essa situação no trabalho?

O ex-CEO da Fiat Chrysler Automobiles e da Ferrari, que faleceu na quarta-feira, não comunicou seu problema de saúde aos acionistas de nenhuma das duas montadoras. O valor de mercado combinado das empresas é de mais de US$ 50 bilhões, mas caiu quase 10 por cento desde que ele foi substituído na semana passada. A Fiat Chrysler afirmou que não estava a par e a família também disse que não informou nenhuma das empresas.

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A Fiat Chrysler citou a privacidade da saúde e afirmou que não tinha “conhecimento dos fatos” sobre a doença do seu ex-CEO, em resposta na quinta-feira ao comunicado do hospital que informava que ele estava doente havia mais de um ano. A família de Marchionne confirmou que as empresas só foram informadas de sua condição de saúde no fim da semana passada, quando foram notificadas de que ele não voltaria a trabalhar. Até deixar de aparecer em público, em 26 de junho, Marchionne continuava dirigindo as empresas com um cronograma implacável, supervisionando a formação de um novo plano de cinco anos para a Fiat Chrysler que foi apresentado em 1º de junho.

A morte inesperada de Marchionne e a falta de informação da Fiat Chrysler geraram especulações na imprensa sobre o quanto a empresa sabia e o que deveria ter divulgado. O CEO, que salvou a Fiat da falência quando assumiu o cargo em 2004 e depois resgatou a Chrysler fusionando as duas empresas, era tão importante que o relatório anual da Fiat Chrysler incluiu uma divulgação de riscos ligados a Marchionne. Embora ele pretendesse se aposentar em abril de 2019, ele “é fundamental para a execução da nossa direção estratégica e a implementação do nosso plano de negócios”, afirmou o relatório.

Situação complicada

A reviravolta dos acontecimentos serve para lembrar que, quando se trata de um líder corporativo de primeira linha, a saúde nem sempre é um assunto privado. Um CEO gravemente doente coloca para os conselhos corporativos uma série de questões complexas sobre o que informar ao público e quando, disse Doug Chia, diretor executivo do Governance Center no Conference Board, um think tank empresarial dos EUA.

“Francamente, esta é uma situação complicada, porque aqui há questões de privacidade médica e esse é um assunto muito pessoal”, disse ele. Embora os investidores tenham razão em querer ser informados quando o futuro de um líder está em risco, “é muito difícil determinar quando se chega a esse ponto”, disse ele.

Existem também questões legais nessa equação. As leis de privacidade na Suíça, que inventou o private banking, são extremamente rigorosas e Marchionne, que tinha uma casa perto de Zurique, residia no país. O Hospital Universitário de Zurique afirmou na quinta-feira que quebrou o protocolo e falou sobre a doença de Marchionne para dissipar “boatos na imprensa” sobre o tratamento médico do empresário.

A Fiat Chrysler afirmou em seu comunicado que “foi informada sem detalhes” em 20 de julho de que as condições de saúde de Marchionne haviam piorado e que ele não voltaria a trabalhar. A montadora “imediatamente tomou a medida adequada e a anunciou no dia seguinte”, afirmou a empresa.

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