Etiqueta verde: Malwee lança selo para identificar peças mais sustentáveis
A criação do selo e da coleção cápsula são resultado da assinatura de um termo de compromisso da ONU, chamado Our Only Future
Karin Salomão
Publicado em 15 de outubro de 2019 às 08h00.
Última atualização em 16 de outubro de 2019 às 14h53.
O grupo têxtil Malwee irá lançar um selo "Moda do Bem" para sinalizar suas peças produzidas com iniciativas mais sustentáveis, como redução do uso de água e uso de matérias primas orgânicas e biodegradáveis.
O selo será lançado em dezembro, junto com uma coleção cápsula. Uma das malhas usadas, por exemplo, contará com 88% de poliéster reciclado, proveniente de embalagens plásticas. A companhia afirma que, dessa forma, já retirou mais de 30 milhões de garrafas do meio ambiente.
O jeans utiliza processos industriais com redução de até 93% no consumo de água. As etiquetas das peças serão de tecido reciclado e as embalagens feitas de plástico 100% reciclado.Também utiliza algodão desfibrado em parte das peças, produzido a partir da reciclagem de resíduos de malhas, e tem processos de tingimento que permitem economizar até 98% do volume de água, como no caso do tingimento das cores neon.
A empresa, que tem 50 anos e é presidida desde 2007 por Guilherme Weege, da família fundadora, tem 330 lojas e vende para outras 25.000 lojas multimarcas no Brasil. Ela faturou 1 bilhão de reais no ano passado, 7% a mais que no ano anterior.
Pacto da ONU
A criação do selo e da coleção cápsula são resultado da assinatura de um termo de compromisso da ONU, chamado Our Only Future, ou Nosso Único Futuro, que busca evitar o aumento da temperatura média global e zerar a emissão de gases de efeito estufa até 2050.
A Malwee foi uma das três brasileiras a assinar o acordo, ao lado da Klabin e da Natura. Além disso, em agosto, a Malwee também abraçou a iniciativa de controle de clima do Fashion Pact, que foi lançado por 32 companhias de moda, durante o compromisso com o clima na reunião do G7, na França.
A assinatura desses acordos pela Malwee é uma forma de trazer mais visibilidade ao tema e às iniciativas da companhia, diz Guilherme Weege. "Hoje o consumidor não sabe como é fabricado o produto que ele consome, mas ele está interessado no processo", afirmou o presidente em entrevista à EXAME.
Guerra de preços e de novidade
A indústria têxtil é uma das que mais polui globalmente. Um caminhão de resíduos têxteis é jogado no lixo a cada segundo no mundo e as roupas jogam meio milhão de toneladas de microfibras nos oceanos todos os anos.
A briga por preço, diz Weege, é um dos fatores para o grande impacto ambiental do setor. "O rápido consumo puxa os preços cada vez mais para baixo e as empresas buscam os países com os menores custos de produção", afirma o executivo.
Por isso, o preço dos produtos mais sustentáveis da Malwee é similar ao das peças normais. No entanto, a fabricação ainda é mais cara, já que ainda não há escala o suficiente para baratear o custo.
No longo prazo, a companhia deve ganhar com as economias de custo de materiais e de gasto de água, além de baratear o processo com o aumento da escala mas até lá deve sacrificar margens. "Há consumidores que enxergam o diferencial desses produtos, mas ainda não é uma peça que se paga", diz Weege.
O presidente, no entanto, não acredita no fim do fast fashion, lançamento rápido de novas peças para estimular o consumo das novidade. "A moda é passageira, não é atemporal, então o fast fashion continuará a existir. A diferença é que o público irá buscar mais qualidade e outros modos de produção", diz.
Outras iniciativas
A companhia estabeleceu um plano para investir 100 milhões de reais até 2021 com foco em projetos sustentáveis. A principal meta é reduzir o consumo de água utilizada na fabricação anual de 35 milhões de peças de roupa.
No caso dos jeans, a redução no gasto de água vai reduzir o custo das peças em cerca de 4% — a companhia fabrica aproximadamente 1 milhão de calças jeans por ano.
Em 2015, o Grupo Malwee lançou um plano para reduzir 20% a emissão de gases de efeito estufa até 2020. O marco foi atingido ainda em 2017 e hoje a redução na emissão já é de 68%, com o investimento de 7 milhões de reais na substituição da caldeira de gás natural por caldeira de biomassa, o cavaco de madeira.
"Precisamos democratizar esse tipo de peças. A nossa coleção cápsula foi lançada principalmente para expor nossos diferenciais para o mercado e para nossos consumidores", afirma Weege.