Empresas estão mais participativas na COP26
Painel organizado em paralelo ao evento mostra como o setor privado se posiciona na agenda climática
Gabriella Sandoval
Publicado em 11 de novembro de 2021 às 20h06.
Última atualização em 12 de novembro de 2021 às 07h18.
“A voz das empresas cresceu muito desde Madri [local da COP25]”, afirmou Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), em abertura de painel “Business Climate Leadership in Brazil”,que a instituição promoveu em Glasgow, na Escócia, em paralelo à COP 26. “Há um movimento diferente hoje.”
Para o CEBDS, a articulação de ações e o diálogo entre as empresas permitem que a agenda climática se torne robusta e ampla.
Peter Bakker, CEO do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), que também participou do painel, diz que a ciência está sendo mais clara em relação aos reportes e a pandemia deu um choque no sistema, evidenciando o tema.
“As pessoas querem ações dos governos e isso também se reflete em pressão para as empresas”, disse. “A forma que eu descrevo esta COP, é a primeira COP de como fazer. Vemos muitos CEOs se comprometendo com as alianças. É impressionante esse comprometimento em reduzir emissões.”
Sophie Punte, managing director of policy da We Mean Business Coalition, falou sobre os desafios para a descarbonização. “Se os países do G7 se comprometerem com metas mais ambiciosas, as empresas o farão também”, afirmou.
Andrea Álvares, Chief Brand, Innovation, International and Sustainability Officer da Natura, comentou que criar ambição coletiva é o que as empresas estão fazendo. “As empresas já entenderam o próximo passo, a necessidade de mudança para ser mais sustentável”, disse. “O custo de continuar atuando de uma forma não sustentável é insustentável”, brincou com as palavras. Para ela, as companhias têm uma voz comum para mobilizar outros atores privados e o Estado. “Somos parte da mudança, entendemos que isso é sério e precisamos agir hoje.”
Bakker reforçou a importância de mobilizar os líderes brasileiros em relação à descarbonização. “70% das emissões de um país vêm das empresas, então é preciso mobilizar os negócios locais, ter coalizões nacionais e internacionais juntas.”
Sophie complementou ressaltando a relevância de relacionar o nacional com o internacional, engajando novos “players”, inclusive as pequenas e médias empresas, que são parte representativa da economia em muitos países. Ela disse, ainda, esperar mais países em desenvolvimento na próxima COP, a inclusão de mais indígenas, mais diversidade. “Não podemos esquecer que a sociedade vem em primeiro, e que negócios e governos estão para servir a sociedade.”
Natura na Amazônia
Relacionado ao tema da diversidade, Andrea comentou sobre a experiência da Natura na Amazônia. “É uma experiência que nos torna humildes.” Ela afirma ser fundamental abrir o mindset além dos paradigmas sobre os quais os negócios estão construídos, como a ideia de ir lá e maximizar o retorno de um único elemento sem olhar o ambiente sistêmico. É preciso cocriar.
“Na região Amazônia nós desenvolvemos competências sociais com as comunidades para a melhor forma de extrair, estabelecer preços, levando em conta o conhecimento hereditário, a forma de distribuir o dinheiro na comunidade para não ficar concentrado em uma família. Mais importante que a tecnologia é o social. Essa é a inteligência. Essa é a principal mudança de mindset. Não há como desenvolver soluções a não ser em codesenvolvimento com quem está lá.”
Por isso, ela continua, a Natura trabalha com 38 bioingredientes da região, e não um. “Biodiversificação é o centro desse modelo de negócio sustentável e precisamos escalar esse mindset, esse approach diferente.”