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Ele quer fazer R$ 2 milhões com máquina que imita o corpo humano para acabar com mosquitos da dengue

Indústria do interior de São Paulo aposta em novas tecnologias para aumentar faturamento de R$ 270 milhões

Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 14 de maio de 2024 às 12h32.

Última atualização em 24 de maio de 2024 às 11h44.

Uma espécie de monólito divide espaço com hóspedes de hotéis como o Rosewood, em São Paulo, e com alunos da rede de escolas Maple Bear. É uma estrutura de aço, com 1,30 metro de altura, com uma pequena abertura na parte superior.

O que ele faz ali? Tenta acabar com os mosquitos, principalmente os que transmitem doenças como a dengue.

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Trata-se do Mosqitter, um equipamento desenvolvido por uma startup ucraniana e que acaba de chegar ao Brasil pelas mãos da Marangoni Maretti, indústria de 80 anos sediada em Mogi Mirim (SP) que trabalha nos segmentos de energia, infraestrutura e metal-mecânico. A empresa também tem um braço de inovação — e é ele que está apostando na tecnologia da Ucrânia.

A ideia da tecnologia não é ser um repelente normal. A máquina usa um software que simula um corpo humano: com temperatura parecida (na casa dos 37 graus), emissão suave de gás carbônico e liberação de um feromônio que imita o cheiro humano, mas imperceptível ao nosso olfato. O objetivo, com isso, é atrair o mosquito, e prendê-lo lá.

“O equipamento tem todas as características dos mamíferos que atraem pernilongos fêmeas, que são as que picam pessoas”, diz Pedro Moreira, responsável pela Mosqitter no Brasil. “Mas o fator de atração dele é 40 vezes maior do que o de um ser humano. Assim, o mosquito vai para lá. Retiramos as fêmeas do local, cortando o ciclo de reprodução”.

O momento não poderia ser mais propício. O Brasil enfrenta um surto de dengue sem precedentes. Já são mais de 4 milhões de casos, entre prováveis e confirmados, só neste ano, de acordo com o Painel de Arboviroses do Ministério da Saúde. É o maior número desde o início da série histórica, em 2000.

A tecnologia chegou ao Brasil em janeiro e já vendeu cerca de 50 unidades até então. O foco são mesmo hotéis, escolas e clubes, áreas de grande circulação de pessoas. Cada equipamento tem o preço médio de R$ 13,9 mil. A meta da Marangoni é faturar R$ 2 milhões com a máquina já no primeiro ano de operação.

Como a Marangoni trouxe a Mosqitter para o Brasil

A indústria de Mogi Mirim começou a trabalhar com pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias há sete anos. Foi por volta dessa época que Moreira entrou na companhia, a convite do CEO Ricardo Marangoni Brandão Bueno.

“Ele queria que desenvolvêssemos uma área que criasse produtos fugindo da burocracia do dia a dia, mas aproveitando os processos industriais já estabelecidos pela empresa”, diz. “Trabalhamos com produtos de rodovias e até softwares, como o Faced, um aplicativo de pagamento por reconhecimento facial”.

Em 2022, a empresa conheceu a startup ucraniana num evento de tecnologia em Las Vegas. Era o momento propício, porque tinham acabado de finalizar o projeto de reconhecimento facial e estavam em busca de algo novo para investir.

“O que chamou a atenção foi a grande pesquisa de controle de vetores de doenças. Esse aparelho tinha muita validação por trás”, diz Moreira. “Para nós, fazia total sentido, porque era um produto inovador e trabalhava com software e hardware, que era um ponto importante para nós”.

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Como a empresa testou o produto no Brasil

Ainda em 2022, a Marangoni trouxe os primeiros exemplares para o Brasil. A ideia era testá-los com as espécies brasileiras.

A paulista enviou os equipamentos para o Instituto de Pesquisa em Imunoparasitologia da Universidade do Sul de Santa Catarina. Por ali, foram feitos dois testes. Um em condições controladas de laboratório, simulando um ambiente fechado com temperatura, vento e umidade controlados. E outro em ambiente aberto, com as variáveis naturais e outros insetos presentes. “Os testes mostraram que conseguimos reduzir em 93% as picadas. Vimos também que a atração de outras espécies é menor, e não atrai espécies polinizadoras, como abelhas”.

Com os testes positivos, a empresa resolveu firmar um contrato com a startup ucraniana. Assim, tem exclusividade na fabricação e na distribuição no Brasil.

Quem são os primeiros clientes

A máquina da Mosqitter funciona num raio de até 50 metros, o que permite alcançar cerca de 1.000 metros quadrados de proteção. Entre os primeiros clientes estão:

“Eles começaram com um ou dois equipamentos, e já estão ampliando os projetos, para aumentar a área de cobertura”, diz Moreira.

Claro que há desafios para escalar o negócio. O primeiro é que trata-se de um equipamento inovador, o que gera, naturalmente, dúvidas e receio por parte dos compradores. Algo que vai se disseminando com o tempo, à medida que o projeto vai ganhando maturidade. O outro é que o produto requer manutenção, principalmente para abastecer com os componentes que emitem os sinais humanos. Logo, precisa ter uma boa rede de apoio espalhada pelos locais.

No caso da Mosqitter, esse problema começa a ser resolvido com a parceria que acaba de firmar com uma rede de distribuição que já atua fortemente em hotelarias. Além disso, estão criando um e-commerce, que deve escalar as vendas.

“Pela robustez, acreditamos que seja um equipamento voltado para o público comercial. Hotelaria, restaurantes, escolas, condomínios. Esse é o público primário”, diz Moreira.

A Marangoni, que traz o equipamento para o Brasil, tem cerca de 300 funcionários e faturou R$ 270 milhões em 2023. O grupo tem ainda uma joint venture meio a meio com a alemã Meiser no segmento de pisos e grades metálicas que deve faturar R$ 70 milhões até dezembro.

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