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Elon Musk, da Tesla, entre os sonhos e a realidade

Em dificuldades para fabricar o que já havia prometido, o dono da montadora Tesla apresentou dois novos modelos

MUSK APRESENTA O NOVO ROADSTER: o modelo tem autonomia de até 1.000 quilômetros e, segundo Musk, é capaz de ir de zero a 100 quilômetros por hora em 1,9 segundo (Tesla/Reuters)
LA

Lucas Amorim

Publicado em 17 de novembro de 2017 às 16h23.

Última atualização em 6 de fevereiro de 2018 às 18h15.

Quando um vendedor de sonhos se vê em apuros com a realidade, o que ele faz? Vende novos sonhos. É mais ou menos o que fez na noite de quinta-feira o sul-africano Elon Musk , fundador da montadora de carros elétricos Tesla. A companhia, em dificuldades para fabricar o que já havia prometido, anunciou dois novos produtos.

O primeiro anúncio era esperado. Trata-se do Tesla Semi, um caminhão elétrico com visual futurista e, segundo a empresa, capaz de rodar até 800 quilômetros sem a necessidade de realizar uma recarga de bateria. Tudo isso com capacidade de levar até 36 toneladas em sua traseira. O veículo usa quatro motores elétricos para aceleração. A montadora afirma que, apesar das grandes dimensões, ele tem pouco consumo de energia por quilômetro rodado. O plano é que o Semi comece a ser fabricado em 2019.

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Outro anúncio, fora do script e que fez fervilhar os blogs de automobolismo, foi a nova geração do esportivo Roadster, o carro mais icônico da Tesla e primeiro modelo da montadora, lançado em 2008. Durante o evento de quinta à noite, o veículo saiu de dentro da traseira do Semi ao som do hit Sabotage, dos Beastie Boys. A promessa é que seja o carro de linha mais rápido do planeta. O Roadster tem autonomia de até 1.000 quilômetros e, segundo Musk, é capaz de ir de zero a 100 quilômetros por hora em 1,9 segundo. Para isso, tem três motores elétricos

Musk caprichou nos superlativos. Disse que o Roadster é um tremendo golpe nos carros a gasolina, e que vai fazer com que pareçam coisa do passado. Deve ser entregue somente em 2020 para quem topar pagar a partir de 200.000 dólares.

Até lá, a Tesla tem um caminhão (que pode até ser elétrico) de problemas a resolver. O principal deles é entregar o que promete. O maior exemplo é o Model 3, o carro popular tido como grande esperança para levar a companhia ao grupo das grandes montadoras do mundo. Apresentado no início do ano, o Model 3 custa 35.000 dólares, metade do preço da versão mais barata do Model S. Teve meio milhão de reservas de consumidores que toparam pagar mil dólares para ficar na fila.

Mas os gargalos de produção são tantos que para resolver o problema a Tesla chegou a adiar o lançamento do Semi em três semanas. A Tesla fabricou apenas 260 unidades do Model 3 no terceiro trimestre, ante um objetivo de 1.500 unidades. Em outubro, o próprio Musk escreveu, em sua conta no Twitter, que a empresa estava afundada num inferno fabril. A sorte da empresa é que as primeiras unidades são destinadas a seus funcionários, que, na teoria, formam uma audiência mais paciente com erros.

A grande dúvida de analistas e investidores é até quando vai o dinheiro da Tesla. O natural seria uma empresa com problemas na linha de produção concentrar os investimentos e os esforços para resolvê-los, em vez de perder foco e dinheiro com mais lançamentos. Musk não deu detalhes na noite de ontem sobre como vai financiar os novos projetos. A companhia tem cerca de 3,5 bilhões dólares em caixa, mas vem torrando 1 bilhão por trimestre para fabricar os Model 3.

“Na essência, tudo que o evento de ontem fez foi adicionar itens à lista de coisas com as quais Elon Musk tem que gastar dinheiro, disse à agência Reuters o analista Jeffrey Osborne, da corretora Cowen. Segundo ele, a lista de investimentos anunciados pela empresa chega agora a 20 bilhões de dólares para os próximos anos.

A companhia, é verdade, foi à bolsa em 2010 alertando seus investidores de que o curto prazo não estava no foco. Em 2006, nos primeiros dias de empresa, Musk divulgou um plano de 10 anos que consistia, basicamente, em quatro pontos. Criar um carro de nicho caro; usar esse dinheiro para fazer um carro mediano mais barato; usar esse dinheiro para criar um carro popular; investir em energia solar. Tudo isso aconteceu.

“Os investidores acreditam que, mesmo com as falhas, não há grandes riscos porque o negócio é viável, e estão dispostos a esperar”, diz Philippe Houchois, analista da corretora Jefferies. “Só mudarão de ideia se a empresa anunciar algo completamente fora do planejado”.

Houchois afirma que o negócio mais problemático da Tesla é o de energia solar. A companhia revelou que os painéis solares de sua empresa Solar City custarão incríveis 65.000 dólares. Como definiu a revista Forbes, viraram brinquedo para pessoas ricas e verdes. Em 2016, a companhia faturou 730 milhões de dólares e teve 820 milhões de prejuízo. Este ano, a instalação de novos painéis caiu 30% no primeiro trimestre.

Enquanto Musk mira o futuro e se divide em várias frentes (ele também é dono de uma empresa de viagens espaciais), a concorrência avança. A chinesa BYD, que tem como sócio o megainvestidor americano Warren Buffett, já vendeu 115.000 carros elétricos na China e tem como meta faturar 22 bilhões de dólares em 2017, 50% a mais que em 2016. Com 220.000 funcionários, a BYD é a maior fabricante de carros elétricos do planeta.

EXAME visitou a sede da companhia, em Shenzhen, em maio, e viu em primeira mão novos projetos como um trem elétrico já em funcionamento, ônibus e caminhões elétricos e também baterias do tamanho de caixas de sapato para serem utilizadas em residências.

Como investidores também gostam de sonhos, as ações da Tesla cresceram 10 vezes em cinco anos e subiram mais 1% na manhã desta sexta-feira. De projeto em projeto, a empresa de Musk vale 53 bilhões de dólares.

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