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O segredo dela para conquistar uma gigante? Começar pelo mais difícil

A carioca Mtrix é a única empresa brasileira a ser adquirida pela NielsenIQ, gigante bilionária do setor

Maria Barbaro, CEO e fundadora da Mtrix: é a única empresa brasileira a ser adquirida pela NielsenIQ

Maria Barbaro, CEO e fundadora da Mtrix: é a única empresa brasileira a ser adquirida pela NielsenIQ

Laura Pancini
Laura Pancini

Repórter

Publicado em 31 de outubro de 2025 às 06h01.

No dia a dia, é comum encontrar dificuldades para saber se um produto está vendendo bem ou se precisa de ajustes.

A coisa fica mais complicada ainda quando o item passa por vários intermediários, como distribuidores e atacadistas.

A coleta de dados acaba sendo a solução para as empresas por trás dos produtos — e oportunidade para outros negócios.

A Mtrix surgiu para resolver esse problema, ajudando marcas a obter essas informações em tempo real.

Recentemente, a empresa foi adquirida pela NielsenIQ, uma das maiores do mundo na análise de dados, se tornando a única empresa brasileira a fazer parte do portfólio da multinacional.

Como tudo começou?

Em 1998, quando o mundo ainda estava descobrindo o poder da internet, Maria Barbaro já via nos dados uma grande oportunidade.

Na faculdade, a carioca era fascinada pela ideia de como as informações poderiam ajudar na tomada de decisões.

“Eu ouvi [sobre o tema] e também acreditei que, no futuro, quem tivesse acesso aos dados teria um poder imenso”, diz. Foi esse olhar que moldou a carreira de Barbaro ao longo dos anos seguintes.

A executiva trabalhou uma década numa startup de tecnologia no setor farmacêutico, onde se aprofundou no uso de dados.

Foi só em 2010, após a venda da empresa para uma multinacional, que a carioca decidiu abrir a própria companhia, a Mtrix.

Qual o diferencial?

Barbaro percebeu que, no Brasil, o mercado de distribuição — a intermediária entre indústrias e o varejo — era negligenciado, apesar de ser responsável por mais de 50% do mercado.

“É um canal que tem um impacto gigantesco, mas ninguém estava olhando para ele. Aos poucos, as indústrias começaram a investir mais nesse setor”, diz Barbaro.

A Mtrix cresceu de pouco em pouco apostando nessa lacuna: as distribuidoras. Depois, passou a coletar dados de atacadistas e, eventualmente, de grandes varejistas — o caminho inverso do setor.

“Comecei pelo mais difícil. Percebi que o nosso negócio não tinha nome e sobrenome, ele atendia qualquer indústria”.

O faturamento da Mtrix dobrou entre 2020 e 2022, acelerado pelo isolamento social e temas como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). A empresa não divulga o valor exato, mas afirma que o crescimento continuou: nos três anos seguintes, tiveram uma expansão de "quase 100%".

O que a Mtrix faz?

Coleta e análise de dados de distribuidoras, atacadistas e varejos.

A partir desses dados, consegue ver, por exemplo, padrões de venda, comportamento de consumidores e performance de produtos.

As informações acabam sendo valiosas para grandes marcas de segmentos como alimento, bebidas e consumo.

Diageo, Bauducco, Nivea e Hersheys são alguns dos clientes da Mtrix. Eles conseguem tomar decisões mais assertivas sobre onde vender, quanto cobrar e como melhorar as vendas.

Conquistar a gigante

A NielsenIQ é uma das maiores empresas globais de dados de consumo. Em 2023, fez uma fusão com a alemã GfK, de pesquisa de mercado. Juntas, têm presença em mais de 100 países e bilhões de dólares em vendas.

A Mtrix é a única empresa brasileira a ser adquirida pela NielsenIQ. Ela chamou atenção da gigante porque traz uma perspectiva única: a análise de dados no canal indireto, que inclui distribuidores e atacadistas.

Assim, a Nielsen passa a ter uma visão mais completa e precisa do mercado de bens de consumo, um passo importante para os próximos anos.

Com a aquisição, a Mtrix mantém sua identidade no Brasil, mas agora conta com o suporte de uma gigante para expandir.

A expectativa é que as ferramentas da brasileira sejam integradas às da Nielsen, criando uma plataforma única.

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