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E-mails mostram campanha contra Ghosn na Nissan, diz Bloomberg

E-mails e fontes ouvidos pela Bloomberg mostram oposição interna ao executivo na Nissan e planos para refazer a aliança com a Renault após sua prisão

Carlos Ghosn em coletiva no Líbano, para onde fugiu: executivo sofria oposição interna na Nissan (Marwan Naamani/picture alliance via Getty Images/Getty Images)

Carlos Ghosn em coletiva no Líbano, para onde fugiu: executivo sofria oposição interna na Nissan (Marwan Naamani/picture alliance via Getty Images/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 15 de junho de 2020 às 09h05.

Última atualização em 15 de junho de 2020 às 09h51.

O executivo brasileiro Carlos Ghosn, investigado e preso no Japão por fraude financeira na montadora Nissan, que presidia, sempre disse que havia sido vítima de uma armação. Novos e-mails obtidos pela agência de notícias Bloomberg dão a ele o benefício da dúvida.

E-mails e fontes ouvidas pela Bloomberg sugerem que havia uma campanha de executivos da Nissan para tirar Ghosn do poder que teria começado mais de um ano antes da prisão do executivo, em novembro de 2018. Os e-mails foram confirmados pelas fontes, que não quiseram ser identificadas.

Parte do motivo da campanha seria a oposição ao plano de Ghosn de integrar permanentemente a Nissan com sua parceira francesa de longa data, a Renault, de onde o executivo brasileiro tinha vindo, e ao controle acionário da Renault sobre a montadora japonesa. Os executivos opositores, segundo a Bloomberg, viam a saída de Ghosn como uma oportunidade para refazer a aliança em termos mais favoráveis à Nissan.

Em um e-mail de 2018, Hari Nada, vice-presidente sênior na Nissan que trabalhava ao lado de Ghosn, escreve que a Nissan deveria agir para "neutralizar suas iniciativas [de Ghosn] antes que seja tarde demais". O e-mail foi enviado a Hitoshi Kawaguchi, responsável por relações governamentais na Nissan. Nada ainda está na Nissan, e Kawaguchi saiu no ano passado.

Nada também enviou ao então presidente-executivo da montadora, Hiroto Saikawa, no dia da prisão de Ghosn, um memorando pedindo para que o acordo com a Renault fosse encerrado e que a Renault não tivesse mais direito de nomear altos executivos na Nissan.

Nada, que está na Nissan desde a década de 1990, também trabalhou para reunir informações sobre Goshn e chegou a viajar ao Líbano (do qual Ghosn tinha cidadania) e ao Brasil para investigar o uso de residências da empresa.

Dias antes da prisão de Ghosn, Nada também teria dito ao então presidente Saikawa que a Nissan deveria pressionar para mais acusações de quebra de confiança contra Ghosn, afirmando que as acusações iniciais de que ele não teria reportado parte da renda seriam difíceis de explicar. O esforço deveria ser "apoiado por uma campanha na mídia para garantir que a reputação de CG [Carlos Ghosn] seja prejudicada o bastante".

Saikawa deixou o cargo de presidente no ano passado em meio a investigações de que ele também teria recebido mais do que seu salário. Segundo as fontes ouvidas pela Bloomberg, isso também aconteceu com outros executivos.

A Nissan afirma que a decisão de retirar Ghosn da liderança da empresa aconteceu exclusivamente por transgressões financeiras em suas finanças pessoais e nas da Nissan, reveladas por procuradores do Japão. Ghosn é acusado de não ter reportado 80 milhões de dólares de sua renda.

Aliança com a Renault

Nos dias anteriores à prisão de Ghosn, ainda segundo a Bloomberg, os executivos também discutiram como a empresa deveria responder à Renault e afirmando que o acordo entre as montadoras deveria ser desfeito diante da prisão de Ghosn. Ghosn foi enviado pela Renault para liderar a aliança Renault-Nissan. Ele estava na Renault desde 1996.

Ghosn era presidente do conselho de administração da Nissan quando foi preso e também chefe da aliança com a Renault. Ao longo da carreira, Ghosn foi considerado um dos maiores executivos do setor automotivo de todos os tempos por resultados positivos na Renault e na Nissan.

A Aliança aconteceu em 1999 quando a Renault comprou uma fatia de 37% na Nissan, que estava em dificuldades financeiras. A partir daí, a Renault ganhou o direito de nomear executivos na montadora japonesa. Ghosn foi enviado para ser diretor de operações em 2000 e depois assumiu como presidente-executivo em 2001, ficando no cargo até 2017, período no qual ele é aclamado por ter melhorado a performance da montadora.

Além de Ghosn, os e-mails e fontes ouvidas pela Bloomberg mostram ainda um plano para levar o executivo americano Greg Kelly, membro do conselho de administração da Nissan, ao Japão no momento de sua prisão. Kelly é acusado de ter ajudado Ghosn a esconder seus pagamentos. "Se ele não vier, ele nunca mais vai voltar. Eu vou agendar um jato para pegá-lo", escreveu Nada a Saikawa. Nada, então, disse a Kelly que sua presença no país era urgente para convencer o executivo a ir ao país, onde seria preso.

Carlos Ghosn em coletiva de imprensa em Beirute, no Líbano, em 8 de janeiro de 2020, após fuga do Japão

Carlos Ghosn em coletiva no Líbano, para onde fugiu: executivo sofria oposição interna na Nissan (Marwan Naamani/picture alliance via Getty Images/Getty Images)

O advogado de Kelly disse que "Greg Kelly foi pego no meio de um esforço para remover Ghosn e tirar a Renault de uma posição de controle" e que, para isso, eles "foram tão longe a ponto de quebrar a lei internacional de extradição".

A aliança com a Renault de fato foi alterada depois da prisão de Ghosn, com um novo acordo em março de 2019.

Ghosn se diz inocente e, no ano passado, protagonizou uma fuga cinematográfica do Japão para o Líbano, onde tem cidadania. O Japão pede sua extradição. Em entrevista concedida no Líbano após a fuga, o executivo disse que era "refém" no Japão e voltou a dizer que houve um complô na Nissan para acusá-lo.

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