Com a água finalmente baixando no Rio Grande do Sul, empresários começam agora a ter uma real noção dos estragos — e do que precisará ser feito para se reerguer.
No caso do Asun, rede de supermercados com 39 operações no estado, o estrago foi duplo. Além das enchentes que fizeram a água entrar em quatro lojas, uma quinta unidade foi totalmente saqueada durante as enchentes. Os ladrões chegaram a ameaçar funcionários que estavam dentro do ponto, localizado na cidade de Eldorado do Sul, uma das mais atingidas pelo desastre climático.
“Não é que levaram só comida”, diz Antônio Ortiz, presidente do grupo. “Vandalizaram a loja, mesmo. Levaram também os computadores, equipamentos pequenos. Toda loja foi impactada.”
O prejuízo ficou na casa dos R$ 5 milhões. Mas isso não foi impeditivo para que a empresa voltasse a apostar no local. Não à toa, na última semana, menos de um mês depois do ocorrido, a loja já estava sendo reinaugurada. E com um aviso na fachada, ecoado pelo presidente Ortiz: “É hora de renascer. Estamos renascendo”.
“No meio de tanta destruição, quando reabrimos um ponto de venda, trazemos vida para aquele bairro”, afirma. “Outros comerciantes notam que estamos reabrindo e começam a se mobilizar para reabrir quanto antes também”.
Agora, das cinco lojas afetadas, apenas duas seguem sem funcionar. São as mais críticas, que ficam em Canoas, cidade vizinha a Porto Alegre. Em uma delas, a água chegou a subir 1,5 metro. Na outra, a inundação alcançou a marca de 3 metros de altura. Por ali, foi perda total, mas elas, assim como a de Eldorado, também renascerão.
“Não vamos desistir de nenhuma loja”, diz. “É nossa função estarmos no local e nosso direito sermos protegidos para que as águas não inundem nossas lojas”.
A perspectiva é que uma das operações de Canoas volte a abrir em dez dias. A outra ainda não tem previsão. A agilidade para reabertura está apoiada na estrutura do grupo, que faturou R$ 1,4 bilhão no ano passado, e também na rapidez com que Ortiz começou a tomar decisões.
“Eu achava que a água ficaria dentro da loja por um dia e sairia. Quando vi que não seria assim, comecei a me mexer”, diz. “Liguei imediatamente para meu fornecedor de equipamentos e já deixei reservado novos computadores e máquinas, porque sabia que ia precisar. Também comecei a falar com meus fornecedores de produtos”.
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Imagem aérea de sobrevoo do presidente Lula em Canoas (RS)
(Imagem aérea de sobrevoo do presidente Lula em Canoas (RS))
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Eduardo Leite: “Faremos de tudo para garantir que a reconstrução preserve nossas vocações”
(Eduardo Leite: “Faremos de tudo para garantir que a reconstrução preserve nossas vocações”)
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Homens movem pacotes em um barco através de uma rua inundada no centro histórico de Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, em 14 de maio de 2024. Crédito: Anselmo Cunha / AFP)
(Homens movem pacotes em um barco através de uma rua inundada no centro histórico de Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, em 14 de maio de 2024. Crédito: Anselmo Cunha / AFP))
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Vista das áreas inundadas ao redor do estádio Arena do Grêmio em Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, tirada em 29 de maio de 2024. A água e a lama tornaram os estádios e sedes do Grêmio e Internacional inoperáveis. Sem locais para treinar ou jogar futebol, os clubes brasileiros tornaram-se equipes itinerantes para evitar as enchentes que devastaram o sul do Brasil. (Foto de SILVIO AVILA / AFP)
(Vista das áreas inundadas ao redor do estádio Arena do Grêmio em Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, tirada em 29 de maio de 2024. A água e a lama tornaram os estádios e sedes do Grêmio e Internacional inoperáveis. Sem locais para treinar ou jogar futebol, os clubes brasileiros tornaram-se equipes itinerantes para evitar as enchentes que devastaram o sul do Brasil. (Foto de SILVIO AVILA / AFP))
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Vista aérea do centro de treinamento do Internacional ao lado do estádio Beira Rio em Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, tirada em 29 de maio de 2024. Foto de SILVIO AVILA / AFP
(Vista aérea do centro de treinamento do Internacional ao lado do estádio Beira Rio em Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, tirada em 29 de maio de 2024. Foto de SILVIO AVILA / AFP)
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Pessoas atravessam uma ponte flutuante para pedestres sobre o rio Forqueta, entre os municípios de Lajeado e Arroio do Meio, no Rio Grande do Sul, Brasil, em 21 de maio de 2024. O Rio Grande do Sul experimentou um desastre climático severo, destruindo pelo menos seis pontes e causando interrupções generalizadas no transporte. O exército respondeu construindo pontes flutuantes para pedestres, uma solução temporária e precária para permitir que a infantaria atravesse rios durante conflitos. (Foto de Nelson ALMEIDA / AFP)
(Pessoas atravessam uma ponte flutuante para pedestres sobre o rio Forqueta, entre os municípios de Lajeado e Arroio do Meio, no Rio Grande do Sul, Brasil, em 21 de maio de 2024. O Rio Grande do Sul experimentou um desastre climático severo, destruindo pelo menos seis pontes e causando interrupções generalizadas no transporte. O exército respondeu construindo pontes flutuantes para pedestres, uma solução temporária e precária para permitir que a infantaria atravesse rios durante conflitos. (Foto de Nelson ALMEIDA / AFP))
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Ana Emilia Faleiro usa um barco para transportar suprimentos em uma rua inundada em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil, em 26 de maio de 2024. O estado sulista do Rio Grande do Sul está se recuperando de semanas de inundações sem precedentes que deixaram mais de 160 pessoas mortas, cerca de 100 desaparecidas e 90% de suas cidades inundadas, incluindo a capital do estado, Porto Alegre. (Foto de Anselmo Cunha / AFP)
(Ana Emilia Faleiro usa um barco para transportar suprimentos em uma rua inundada em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil, em 26 de maio de 2024. O estado sulista do Rio Grande do Sul está se recuperando de semanas de inundações sem precedentes que deixaram mais de 160 pessoas mortas, cerca de 100 desaparecidas e 90% de suas cidades inundadas, incluindo a capital do estado, Porto Alegre. (Foto de Anselmo Cunha / AFP))
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Um homem limpa sua casa atingida pela enchente no bairro Sarandi, um dos mais atingidos pelas fortes chuvas em Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, em 27 de maio de 2024. Cidades e áreas rurais no Rio Grande do Sul foram atingidas por semanas por um desastre climático sem precedentes de chuvas torrenciais e enchentes mortais. Mais de meio milhão de pessoas fugiram de suas casas, e as autoridades não conseguiram avaliar completamente a extensão dos danos. (Foto de Anselmo Cunha / AFP)
(Um homem limpa sua casa atingida pela enchente no bairro Sarandi, um dos mais atingidos pelas fortes chuvas em Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, em 27 de maio de 2024. Cidades e áreas rurais no Rio Grande do Sul foram atingidas por semanas por um desastre climático sem precedentes de chuvas torrenciais e enchentes mortais. Mais de meio milhão de pessoas fugiram de suas casas, e as autoridades não conseguiram avaliar completamente a extensão dos danos. (Foto de Anselmo Cunha / AFP))
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Alcino Marks limpa corrimãos sujos de lama após a enchente no bairro Sarandi, um dos mais atingidos pelas fortes chuvas em Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, em 27 de maio de 2024. Esta é a segunda enchente histórica que Marks enfrenta aos 94 anos de idade. A primeira foi em 1941, quando ele morava no centro de Porto Alegre. Cidades e áreas rurais no Rio Grande do Sul foram atingidas por semanas por um desastre climático sem precedentes de chuvas torrenciais e enchentes mortais. Mais de meio milhão de pessoas fugiram de suas casas, e as autoridades não conseguiram avaliar completamente a extensão dos danos. (Foto de Anselmo Cunha / AFP)
(Alcino Marks limpa corrimãos sujos de lama após a enchente no bairro Sarandi, um dos mais atingidos pelas fortes chuvas em Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, em 27 de maio de 2024. Esta é a segunda enchente histórica que Marks enfrenta aos 94 anos de idade. A primeira foi em 1941, quando ele morava no centro de Porto Alegre. Cidades e áreas rurais no Rio Grande do Sul foram atingidas por semanas por um desastre climático sem precedentes de chuvas torrenciais e enchentes mortais. Mais de meio milhão de pessoas fugiram de suas casas, e as autoridades não conseguiram avaliar completamente a extensão dos danos. (Foto de Anselmo Cunha / AFP))
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(Um trabalhador usa uma mangueira de alta pressão para remover a lama acumulada pela enchente em uma planta industrial de produtos de higiene, limpeza e oleoquímicos, em Encantado, Rio Grande do Sul, Brasil, em 22 de maio de 2024. Entre outros danos imensuráveis, as piores enchentes da história do sul do Brasil deixaram terras agrícolas inutilizáveis e muitas fábricas paradas. (Foto de Nelson ALMEIDA / AFP))
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(Destruição no RS após chuvas e enchentes)
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Vista da estátua de José e Anita Garibaldi na inundada Praça Garibaldi, no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, tirada em 14 de maio de 2024. Foto de Anselmo Cunha / AFP
(Vista da estátua de José e Anita Garibaldi na inundada Praça Garibaldi, no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, tirada em 14 de maio de 2024. Foto de Anselmo Cunha / AFP)
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Resgate de pessoas afetadas pelas chuvas no Rio Grande do Sul, na Base Aérea de Santa Maria (RS).
(Resgate de pessoas afetadas pelas chuvas no Rio Grande do Sul Ricardo Stuckert/ Presidência da República)
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Imagem aérea de sobrevoo do presidente Lula em Canoas (RS)
(Imagem aérea de sobrevoo do presidente Lula em Canoas (RS) - Ricardo Stuckert/ Presidência da República)
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(Imagem aérea da destruição no Rio Grande do Sul - Força Aérea Brasileira/Reprodução)
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Vista aérea mostrando a estrada ERS-448 inundada em Canoas, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, em 13 de maio de 2024. Foto de Nelson ALMEIDA / AFP
(Vista aérea mostrando a estrada ERS-448 inundada em Canoas, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, em 13 de maio de 2024. Foto de Nelson ALMEIDA / AFP)
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(Vista aérea mostrando a estrada ERS-448 inundada em Canoas, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, em 13 de maio de 2024. Foto de Nelson ALMEIDA / AFP)
Como o Asun lidou com as cheias durante o mês de maio
Assim que a água do Guaíba começou a subir e que Ortiz percebeu que ela não desceria tão fácil, o primeiro passo foi abrir um comitê de gestão de crise dentro do Asun. A equipe já tinha aprendido com a pandemia algumas lições sobre gerenciamento de estoque e controle de produtos, o que foi fundamental agora. Isso porque, com medo de os produtos acabarem, consumidores foram correndo aos supermercados fazer reservas de água e alimentos.
“Fizemos uma campanha de consumo consciente, instruindo os clientes a comprarem apenas o necessário”, diz. “Agora imagina, nós, como empresários, dizendo para as pessoas não comprarem tanto. Foi esse o nível que chegou”.
Mesmo assim, teve momentos em que produtos como água chegaram a acabar, tamanha a demanda.
No caso do Asun, outro fenômeno aconteceu. A rede tem unidades na região metropolitana e no Litoral Norte. Acontece que, quando Porto Alegre começou a encher de água, a prefeitura da cidade recomendou que, quem pudesse, que se dirigisse para o litoral, onde o cenário estava mais controlado.
Os moradores ouviram a recomendação e foram para a praia. Chegando lá, o Asun precisou correr para atender uma demanda que não costuma existir nesta época do ano no litoral.
“Mandamos funcionários para lá, começamos a enviar carretas de mercadorias do nosso estoque na região metropolitana para a praia, tudo para atender os consumidores”.
Além da campanha de consumo consciente, a empresa ajudou doando carretas de água potável e ajudando com veículos e gasolina para a distribuição de doações que começavam a chegar.
“Tivemos três perdas totais, mas isso representa cerca de 10% de nossas lojas. As outras ajudam a segurar o faturamento, manter equipes, tudo mais”, diz. “Nosso pesar fica com aquelas pessoas que perderam a única loja que tinham. Ou que perderam a casa inteira. Esse é o grande drama, e estamos solidários com essas pessoas”.
Negócios em Luta
A série de reportagens Negócios em Luta é uma iniciativa da EXAME para dar visibilidade ao empreendedorismo do Rio Grande do Sul num dos momentos mais desafiadores na história do estado. Cerca de 700 mil micro e pequenas empresas gaúchas foram impactadas pelas enchentes que assolam o estado desde o fim de abril.
São negócios de todos os setores que, de um dia para o outro, viram a água das chuvas inundar projetos de uma vida inteira. As cheias atingiram 80% da atividade econômica do estado, de acordo com estimativa da Fiergs, a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul.
Os textos do Negócios em Luta mostram como os negócios gaúchos foram impactados pela enchente histórica e, mais do que isso, de que forma eles serão uma força vital na reconstrução do Rio Grande do Sul daqui para a frente. Tem uma história? Mande para negociosemluta@exame.com.