Desvalorização do real ajuda JBS, mas prejudica Marfrig
Enquanto os papéis da JBS podem ter se transformado no investimento mais lucrativo entre títulos de dívida, os da Marfrig amargam perda de 5,1% nesse ano
Da Redação
Publicado em 10 de abril de 2015 às 17h47.
São Paulo - A valorização do dólar em relação ao real pode ter ajudado a transformar os papéis do frigorífico JBS no investimento mais lucrativo entre os títulos de dívida emitidos por empresas brasileiras, mas nem todas as exportadoras de carne do país parecem ganhar com a situação.
Os bonds da Marfrig, o frigorífico brasileiro que abastece as redes McDonald's e Burger King, com vencimento em 2019 e valor de emissão de US$ 850 milhões, amargam uma perda de 5,1 por cento em 2015.
Na média, as empresas do setor de alimentos com perfil de crédito similar registraram uma queda de apenas 0,4 por cento em seus papéis, enquanto as notas da rival JBS acumulam valorização de 7 por cento.
A diferença de desempenho ilustra como a valorização do dólar pode ser uma recompensa, para as empresas que geram a maior parte de sua receita em dólar, e um peso para aquelas que devem em dólar e tem a maior parte de suas receitas em outras moedas.
Enquanto a JBS obtém 83 por cento de suas receitas em dólar, a Marfrig registra mais da metade de suas vendas em moedas como o real, a libra e o euro, que vêm se desvalorizando em relação à divisa americana.
“Não existe nenhum catalisador para a recuperação dos bonds da Marfrig neste momento", afirma Carlos Gribel, chefe de renda fixa da Andbanc Brokerage LLC, por telefone, de Miami. “A JBS é um animal diferente agora. Ela realmente se beneficiou com um dólar forte”.
A Marfrig está buscando aumentar as exportações de carne a fim de ampliar a fatia da receita em dólar e deve se beneficiar com a depreciação do real, afirma o diretor financeiro da empresa, Ricardo Florence dos Santos.
“O impacto imediato sobre o balanço será compensado ao longo do ano pelo aumento das receitas e pela diluição dos custos em reais".
Exportações de carne
Os investidores do mercado de dívida venderam notas da Marfrig em meio à queda de 13,7 por cento do real em relação ao dólar neste ano, a maior entre as moedas de mercados emergentes, refletindo as dificuldades pelas quais atravessa a economia do país e a perda de confiança decorrente do escândalo de corrupção detonado pela Operação Lava Jato.
O euro caiu 12 por cento no mesmo período, enquanto a libra teve um declínio de 5,6 por cento.
O desempenho dos bonds da Marfrig também reflete a preocupação com a queda das exportações brasileiras de carne bovina para países produtores de petróleo como Rússia e Venezuela, que poderia afetar as receitas em dólar da companhia.
As vendas de carne brasileira para o exterior caíram 26 por cento no primeiro trimestre, enquanto os preços globais da carne tiveram um declínio de 10 por cento, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Os investidores temem que uma queda na receita eleve ainda mais a alavancagem da Marfrig, cuja dívida bruta, de aproximadamente R$ 11 bilhões, está quase toda lastreada em dólar. A relação entre a dívida líquida da empresa e os lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) subiu para quase 5 vezes no final de 2014.
Para Ian McCall, gerente monetário da Quesnell Capital SA, os bonds da Marfrig não devem amargar perdas por muito tempo. McCall lembra que a Marfrig planeja vender ações da Moy Park, sua divisão de frangos no Reino Unido, neste ano, para reduzir o endividamento.
‘Potencial de valorização’
“Os bonds da Marfrig com certeza têm potencial de valorização”, afirma McCall. “Não acredito que a vamos continuar com esse nível de alavancagem por muito tempo. A JBS é uma beneficiária mais óbvia da oscilação do dólar americano, mas os yields dos seus bonds estão muito mais baixos”.
Os bonds da Marfrig têm um rendimento 4,5 pontos percentuais maior do que o das notas da JBS com vencimento similar, o que reflete seu perfil mais arriscado. O rating B+ da Standard Poor’s para a Marfrig está dois níveis abaixo do aplicado à JBS e quatro degraus abaixo do grau de investimento.
“Os investidores se sentem mais confortáveis tendo bonds da JBS, mesmo com yields mais baixos, quando o mercado está avesso aos riscos”, disse Omar Zeolla, analista de crédito corporativo da Oppenheimer Co., por e-mail, de Nova York. “A alavancagem ainda é alta para a Marfrig”.
São Paulo - A valorização do dólar em relação ao real pode ter ajudado a transformar os papéis do frigorífico JBS no investimento mais lucrativo entre os títulos de dívida emitidos por empresas brasileiras, mas nem todas as exportadoras de carne do país parecem ganhar com a situação.
Os bonds da Marfrig, o frigorífico brasileiro que abastece as redes McDonald's e Burger King, com vencimento em 2019 e valor de emissão de US$ 850 milhões, amargam uma perda de 5,1 por cento em 2015.
Na média, as empresas do setor de alimentos com perfil de crédito similar registraram uma queda de apenas 0,4 por cento em seus papéis, enquanto as notas da rival JBS acumulam valorização de 7 por cento.
A diferença de desempenho ilustra como a valorização do dólar pode ser uma recompensa, para as empresas que geram a maior parte de sua receita em dólar, e um peso para aquelas que devem em dólar e tem a maior parte de suas receitas em outras moedas.
Enquanto a JBS obtém 83 por cento de suas receitas em dólar, a Marfrig registra mais da metade de suas vendas em moedas como o real, a libra e o euro, que vêm se desvalorizando em relação à divisa americana.
“Não existe nenhum catalisador para a recuperação dos bonds da Marfrig neste momento", afirma Carlos Gribel, chefe de renda fixa da Andbanc Brokerage LLC, por telefone, de Miami. “A JBS é um animal diferente agora. Ela realmente se beneficiou com um dólar forte”.
A Marfrig está buscando aumentar as exportações de carne a fim de ampliar a fatia da receita em dólar e deve se beneficiar com a depreciação do real, afirma o diretor financeiro da empresa, Ricardo Florence dos Santos.
“O impacto imediato sobre o balanço será compensado ao longo do ano pelo aumento das receitas e pela diluição dos custos em reais".
Exportações de carne
Os investidores do mercado de dívida venderam notas da Marfrig em meio à queda de 13,7 por cento do real em relação ao dólar neste ano, a maior entre as moedas de mercados emergentes, refletindo as dificuldades pelas quais atravessa a economia do país e a perda de confiança decorrente do escândalo de corrupção detonado pela Operação Lava Jato.
O euro caiu 12 por cento no mesmo período, enquanto a libra teve um declínio de 5,6 por cento.
O desempenho dos bonds da Marfrig também reflete a preocupação com a queda das exportações brasileiras de carne bovina para países produtores de petróleo como Rússia e Venezuela, que poderia afetar as receitas em dólar da companhia.
As vendas de carne brasileira para o exterior caíram 26 por cento no primeiro trimestre, enquanto os preços globais da carne tiveram um declínio de 10 por cento, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Os investidores temem que uma queda na receita eleve ainda mais a alavancagem da Marfrig, cuja dívida bruta, de aproximadamente R$ 11 bilhões, está quase toda lastreada em dólar. A relação entre a dívida líquida da empresa e os lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) subiu para quase 5 vezes no final de 2014.
Para Ian McCall, gerente monetário da Quesnell Capital SA, os bonds da Marfrig não devem amargar perdas por muito tempo. McCall lembra que a Marfrig planeja vender ações da Moy Park, sua divisão de frangos no Reino Unido, neste ano, para reduzir o endividamento.
‘Potencial de valorização’
“Os bonds da Marfrig com certeza têm potencial de valorização”, afirma McCall. “Não acredito que a vamos continuar com esse nível de alavancagem por muito tempo. A JBS é uma beneficiária mais óbvia da oscilação do dólar americano, mas os yields dos seus bonds estão muito mais baixos”.
Os bonds da Marfrig têm um rendimento 4,5 pontos percentuais maior do que o das notas da JBS com vencimento similar, o que reflete seu perfil mais arriscado. O rating B+ da Standard Poor’s para a Marfrig está dois níveis abaixo do aplicado à JBS e quatro degraus abaixo do grau de investimento.
“Os investidores se sentem mais confortáveis tendo bonds da JBS, mesmo com yields mais baixos, quando o mercado está avesso aos riscos”, disse Omar Zeolla, analista de crédito corporativo da Oppenheimer Co., por e-mail, de Nova York. “A alavancagem ainda é alta para a Marfrig”.