Negócios

Depois da Lava Jato, Odebrecht investe para evitar corrupções

“A corrupção só vai parar com a colaboração mundial”, disse responsável pela área no grupo

Odebrecht: orçamento da área de conformidade é de quase R$ 65 milhões (Odebrecht/Divulgação)

Odebrecht: orçamento da área de conformidade é de quase R$ 65 milhões (Odebrecht/Divulgação)

Karin Salomão

Karin Salomão

Publicado em 25 de julho de 2017 às 15h57.

São Paulo – Envolvida em esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato e com o ex-presidente, Marcelo Odebreecht, preso desde junho de 2015, o grupo Odebrecht está investindo em sua área de governança e conformidade.

Por conta do pagamento de propina para obras em 12 países e a centenas de políticos, a companhia firmou em dezembro de 2016 o maior acordo de leniência até então, de 2,6 bilhões de dólares, com os governos do Brasil, Estados Unidos e Suíça. A JBS, mais tarde, ultrapassou o recorde, firmando um acordo de leniência de 10,3 bilhões de reais.

Dos 77 executivos que colaboraram com as denúncias e que tinham conhecimento dos desvios praticados pela empresa, 51 foram desligados, diz a companhia. Os outros 26 continuam na companhia para passar seus conhecimentos sobre setores específicos, mas não podem exercer cargos executivos ou tomar decisões.

Os escândalos levaram a empresa a investir em compliance para diminuir a possibilidade de novos casos de corrupção dentro da companhia. Foi assim que Olga Pontes, responsável pela área na companhia, apresentou alguns dados à imprensa na manhã desta terça-feira.

Para a executiva, impedir a corrupção no mundo é uma tarefa praticamente impossível, que só seria viável com a colaboração mundial. Um dos problemas apontados por ela são os sistemas bancários de alguns países que permitem a formação de paraísos fiscais.  “Por isso, a colaboração entre países para prevenir e investigar esses desvios é tão importante”, acrescentou.

No entanto, “os problemas do mundo vão continuar acontecendo, porque as pessoas são pessoas e as gerações se reciclam”, disse ela. “Os programas de compliance nas empresas não são implementados para garantir que não exista mais corrupção, mas sim para minimizar os riscos de acontecer, conseguir detectar os desvios e tomar as ações corretas.”

Mudanças internas urgentes

O tema é novo para as empresas no Brasil, ainda que já esteja sendo discutido nos Estados Unidos desde 1974, depois do escândalo Watergate, que levou à renúncia do presidente Richard Nixon.

A Lei Anticorrupção brasileira só foi criada em 2013. Na Odebrecht, as primeiras conversas sobre o tema começaram no mesmo ano, mas em 2014, a Operação Lava Jato começou e mudou as prioridades do grupo.

Apenas em março de 2016 a empresa decidiu “virar a página”. Publicou pedidos de desculpas e assinou acordo para colaborar com a Operação Lava Jato. Desde fevereiro de 2017, é monitorada internamente por cerca de 20 membros do Ministério Público e do Departamento de Justiça dos Estados Unidos. O processo deve demorar três anos e os custos são pagos pelo grupo.

Eles investigam contratos, balanços, pagamentos a fornecedores, documentos e têm carta branca para entrar em qualquer lugar da companhia. Atualmente, investigam as operações do grupo no Brasil, Venezuela, Panamá, Argentina, Angola e República Dominicana.

De acordo com Pontes, só duas empresas estão sendo monitoradas por autoridades no Brasil: o grupo Odebrecht e a Embraer. Mas ela acredita que o processo é positivo. “Historicamente, todas as empresas que saíram do monitoramento se tornaram mais fortes, o que nos dá esperança”, afirmou.

Além do monitoramento pelo governo, a Odebrecht aumentou sua equipe dedicada a conformidade. Hoje são 63 funcionários, enquanto em 2015 eram 30. O orçamento para essa equipe é de 64,8 milhões de reais, contra 11,3 milhões de reais em 2015, um aumento de mais de 80%.

A empresa também ampliou a participação de membros independentes nos conselhos de administração de seus nove negócios. Até o fim do ano, a meta é ter 23 pessoas nessa situação.

“Sei que é difícil, por tudo o que aconteceu com a empresa, acreditar que a gente pode mudar”, afirma Pontes. A empresa está se esforçando para passar a imagem de mudança.

Acompanhe tudo sobre:CorrupçãoGovernançaNovonor (ex-Odebrecht)Operação Lava Jato

Mais de Negócios

Cacau Show, Chilli Beans e mais: 10 franquias no modelo de contêiner a partir de R$ 30 mil

Sentimentos em dados: como a IA pode ajudar a entender e atender clientes?

Como formar líderes orientados ao propósito

Em Nova York, um musical que já faturou R$ 1 bilhão é a chave para retomada da Broadway

Mais na Exame