Conselheira 101 estimula inserção de negras em conselhos administrativos
Programa tem início com 20 executivas negras que serão preparadas para ocupar cargos nos conselhos de empresas
Marina Filippe
Publicado em 25 de agosto de 2020 às 16h11.
Nesta terça-feira é lançado o programa sem fins lucrativos Conselheira 101, que visa ampliar o conhecimento de lideranças femininas negras nos temas relacionados ao papel de conselheira, como as responsabilidades, a formação e os desafios, assim como incentivar o networking das participantes dentro da comunidade de conselheiros e empresas.
Idealizado por um coletivo de mulheres (Ana Beatrix Trejos, Ana Paula Pessoa, Elisangela Almeida, Graciema Bertoletti, Jandaraci Araujo, Leila Loria, Lisiane Lemos, Marienne Coutinho e Patrícia Molino), o programa tem o apoio da KPMG e da WCD (Women Corporate Directors) Foundation.
Inicialmente, foram selecionadas 20 executivas negras, que terão encontros virtuais semanais e mentorias, com 20 executivas (os) e conselheiras (os) de grandes empresas. “Optamos por iniciar com 20 convidadas autodeclaradas negras, com base em critérios utilizados por conselhos de administração em sua seleção, como variada experiência de liderança corporativa e/ou habilidades em competências específicas, focando em mulheres que possam receber convites de imediato”, explica Lisiane emos, advogada, especialista em transformação digital e co-Líder do Conselheira 101.
O Conselheira 101 surgiu de reflexões de diferentes grupos sobre o mesmo tema, de como tornar os conselhos de administração mais diversos sobre uma perspectiva racial e depois, dando visibilidade para mulheres negras que já possuem as qualificações para ocupar estes cargos.
“Nos últimos anos, tenho desenvolvido muitas conversas e ações para fomentar a liderança de profissionais negros no ambiente corporativo, mas sempre me perguntava sobre como posso mover o topo da carreira corporativa”, diz Lemos.
Depois de um questionamento no LinkedIn, a executiva encontrou o WCD, grupo que promove a diversidade nos conselhos e que tinha o desejo de aumentar o recorte racial em seus programas. “Decidimos unir forças em uma ação colaborativa”, afirma Marienne Coutinho, advogada, Co-Chair do WCD do Brasil e sócia-líder na KPMG no Brasil.
Liderança
De acordo com a pesquisa “Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 maiores empresas do Brasil e suas ações afirmativas”, do Instituto Ethos, de 2016, o Brasil não tem nenhum membro de conselho de administração autodeclarado preto. Segundo o levantamento, os negros são de 57% a 58% dos aprendizes e trainees, mas na gerência representam 6,3%. No quadro executivo, a proporção é ainda menor: apenas 4,7%.
No caso das mulheres negras, a sub-representação é ainda maior que a dos homens: havia apenas duas negras – o que confere a elas a fatia de 0,4% de participação no total. Por isso, o objetivo do Conselheira 101 é promover a diversidade e a inclusão do profissional negro no ambiente corporativo.