Como os clubes de futebol do Brasil se saíram fora de campo
No geral, mesmo com receitáveis estáveis, eles não cortaram custos - e 2014 não foi um golaço
Tatiana Vaz
Publicado em 26 de agosto de 2015 às 14h37.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 14h34.
São Paulo – Os 24 clubes de futebol brasileiros da Série A e B não bateram um bolão em 2014 – pelo menos no que diz respeito aos negócios. É o que mostra o estudo do banco Itaú BBA, com base nos balanços oficiais divulgados pelos times – Portuguesa ficou de fora da lista, enquanto Joinville e Avaí marcaram estreia. No geral, o que aconteceu foi que 2013 já havia sido um ano difícil para os clubes que, por sua vez, não ajustaram o negócio para 2014. “As receitas ficaram estáveis, mas os custos não cederam e eles eram necessários para que as contas fechassem com mais equilíbrio”, comenta César Grafietti, gerente de crédito do Itaú BBA e coordenador do estudo. Em decorrência, cortes de investimentos na base, tomada de crédito e atraso em pagamento de impostos foi o que se viu no setor – e a expectativa para 2015 é que o cenário difícil continue. “Vale lembrar que gerir futebol não é como cuidar de uma empresa porque o objetivo não é o lucro, mas sim aplicar uma gestão profissional para ter em ambiente que proporcione ganhar mais títulos”, explica o gerente. O setor é ainda muito dependente de receita com venda de direitos para TV no Brasil, aponta Grafietti, mas alternativas para diminuir isso estão sendo colocadas em prática por alguns times, como o Cruzeiro, que tem programas de sócio torcedor. Pro caso dos clubes que investiram em novos estádios, a lógica é a mesma – aumentar a bilheteria e diminuir essa dependência. Nesse sentido, o que escolheu o melhor caminho, na opinião do Itaú BBA, foi o Palmeiras que não abriu mão de bilheteria para pagar a construção da nova casa, ao contrário do Corinthians e Atlético Paranaense. Confira, a seguir, o desempenho dos 24 clubes de futebol do Brasil fora de campo.
As vendas líquidas do Atlético Mineiro caíram de 218 milhões de reais, em 2013, para 178 milhões de reais, em 2014, sendo que as despesas do clube aumentaram bastante no mesmo período. A dívida total em relação ao patrimônio líquido subiu de 71%, em 2013, para 92%, em 2014. “Fica bastante claro o descontrole de gastos do Atlético Mineiro quando comparamos os custos às receitas”, aponta o relatório. “Do jeito que caminha, em algum momento o Galo deixará de cantar”. O clube dobrou o tamanho de seu prejuízo em um ano para 42 milhões de reais.
As receitas totais do clube cresceram 65% de 2013 para 2014 e atingiram 132 milhões de reais, graças à venda de atletas e bilheteria “que cresceu em função da finalização da Arena da Baixada”, mostra a análise do Itaú BBA. O clube também faturou mais com publicidade (65% mais) e TV (18%). As iniciativas fizeram com que o Atlético PR fechasse as contas no azul, com um lucro de 43 milhões de reais no ano.
Enquanto os direitos de TV do clube catarinense cresceram 94% no ano, o faturamento com patrocínio caiu 24%. Isso fez com que o Avaí faturasse apenas 10% mais em relação ao ano anterior – 21 milhões de reais, no total. “O clube fechou 2014 de forma equilibrada e tende a repetir isso em 2015”, diz o estudo. “Porém, em geral, isto é insuficiente para sonhar com voos mais altos e lutar por uma posição intermediária no Brasileiro tende a ser o destino”.
O aumento de cotas para direitos de TV em 25% contribuiu bastante para equilibrar as contas do clube, que praticamente não faturou com publicidade no ano, segundo o Itaú BBA. Com isso, as receitas subiram de 61 milhões de reais, em 2013, para 64 milhões de reais, em 2014. O prejuízo do clube, no período, caiu de 113 milhões de reais para 26 milhões de reais.
Além de ter faturado mais com publicidade e bilheteria, mesmo tendo caído para a Série B, o Botafogo conseguiu reduzir seus custos em 21% - em especial com a queda de folha de pagamentos de 84 para 60 milhões de reais de um ano para outro, aponta o estudo. Com isso, o clube conseguiu sair de um caixa negativo para um ebtida líquido positivo de 28 milhões de reais.
“Arena nova, elenco caro, receitas em queda. Este com este cenário que o Corinthians entra em 2015”, aponta o relatório do Itaú BBA. As vendas líquidas do clube somaram 245 milhões de reais em 2014, valor 18,87% menor que o registrado em 2013. Apenas com bilheteria e venda de atletas, o Corinthians faturou 60 milhões de reais a menos. “Sendo ainda que o dinheiro arrecadado em ingressos é direcionado ao pagamento da Arena, desde sua inauguração”, dizem os analistas.
Assim como o Corinthians, o Coritiba também teve forte queda de receita por conta de uma menor arrecadação com venda de atletas e bilheteria. A venda de publicidade, no entanto, cresceu 30%, mas não suficiente para compensar o aumento do prejuízo de 7 milhões de reais para 43 milhões de reais em um ano. O aumento dos custos e despesas contribuíram também para isso. “Apesar da falta de recursos, o clube investiu 14 milhões de reais na formação de elenco, com aquisição de direitos de atletas profissionais, apesar de cortar em 6 milhões de reais os recursos direcionados à base”, aponta o relatório.
Os custos do clube cresceram em 5 milhões de reais e, ainda assim, as receitas no ano ficaram praticamente estáveis, em 43 milhões de reais. “Um clube como o Criciúma precisa saber lidar com a possibilidade real de queda para a Série B. Foi isto que aconteceu e (o clube) mostrou a maturidade da gestão”, dizem os analistas do Itaú BBA.
O Cruzeiro faturou 203 milhões de reais em 2014, 18% a mais que em 2013, graças ao aumento de receitas com bilheteria e sócios torcedores. Porém, o aumento de custos e despesas em 22% fez com que o clube tivesse um aumento de prejuízo, que atingiu 39 milhões de reais no ano.
O retorno à Série A ajudou o Figueirense ter sobras de receitas de 2013 para 2014, principalmente com o aumento dos Direitos de TV, que quintuplicaram no período e atingiram 20 milhões de reais. Nas bilheterias, as receitas foram 50% maiores. “Provavelmente, em um esforço para voltar à Séria A, em 2013 a folha de pagamentos chegou a 107% das receitas totais”, aponta o estudo. Em 2014, o clube voltou ao nível de 68%.
O Flamengo fechou 2014 com vendas líquidas de 312 milhões de reais, valor 20,46% maior em relação a um ano antes. O aumento veio tanto de publicidade, em 50%, quanto em bilheteria, em 9%. Vendas de direitos econômicos também aumentaram 6% e somaram 20 milhões de reais. O clube vem, segundo o relatório, sendo gerido de forma austera, tendo pago 63 milhões de reais em impostos atrasados no período. Com tudo isso, o ebtida líquido no ano atingiu 117 milhões de reais no ano, uma melhora de 37%. “Gestão financeira impecável... mas agora é hora de buscar conquistas esportivas”, comentam os analistas.
As receitas líquidas do clube chegaram a 113 milhões de reais em 2014, com queda de vendas de publicidade, em 30%, e de direitos econômicos. Os custos, no entanto, aumentaram 18%. Desta forma, a geração de caixa ficou em 9 milhões de reais, valor 64% menor em relação a 2013.
Além das receitas crescerem 23% no ano, os custos do Goiás encolheram 20%, o que fez com que a geração de caixa atingisse 24 milhões de reais, em 2014, contra os 2 milhões de reais de 2013. “A dificuldade é pela regionalidade do clube, uma vez que é sempre mais difícil montar elencos grandiosos com o volume de receitas disponível”, diz o Itaú BBA.
Segundo o Itaú BBA, em 2014 o Grêmio iniciou um processo de reequilíbrio financeiro, com aumento de receitas e corte de custos, que resultaram em melhor geração de caixa. Apenas com publicidade, o Grêmio faturou 134% mais e fechou o ano com vendas líquidas totais de 206 milhões de reais.
“O clube reduziu receitas para manter bons valores no elenco neste ano”, apontam os analistas do banco. De fato, as vendas líquidas do clube caíram em 15% para 192 milhões de reais, em 2014, mesmo com o aumento dos custos em 12%. O resultado foi a queda da geração de caixa no ano de 61 milhões de reais, em 2013, para 7 milhões de reais.
As vendas líquidas do clube somaram 29 milhões de reais, um aumento de quase 12%, sendo que um terço do faturamento do Joinville vem dos torcedores, por meio de bilheteria.
As vendas líquidas do Náutico caíram 66% para 16 milhões de reais, em 2014, impactadas pela queda do clube para a série B, em 2013. Os custos com folhas de pagamento do clube, que já eram altos em 2014 e representavam 78% das receitas totais, subiram para 142%. “Ou seja, sinal de alerta mais que ligado”, afirmam os analistas.
Em 2014, o Palmeiras registrou vendas líquidas de 191 milhões de reais, aumento de 7,90%, em relação ao ano anterior, e um prejuízo de 28 milhões de reais, número quase 22% maior ao de 2013. No entanto, o relatório aponta que o clube reorganizou as contas e as expectativas para 2015 é de melhoras. “Com mais credibilidade e uma Arena nova, conseguiu aumentar suas receitas de publicidade para 2015, que atingirão importantes 50 milhões de reais anuais”, afirmam os analistas.
“Ainda que na corda bamba entre as Séries A e B”, dizem os analistas, “o clube tem uma boa capacidade de angariar atletas do interior de São Paulo a custos compatíveis. ” Por ter disputado a Série B, em 2014, as receitas do clube caíram pela metade de um ano para outro e somaram 22 milhões de reais de janeiro a dezembro.
As vendas líquidas do Santos caíram de 190 milhões de reais, em 2013, para 170 milhões de reais, em 2014. No período, apenas as receitas com publicidade caíram 47% e as com direitos econômicos 26%. Os direitos de TV cresceram 41%, porcentagem alta, mas não o suficiente para equilibrar as contas.
Mesmo com os custos estáveis, as vendas líquidas do São Paulo caíram 35% para 236 milhões de reais em 2014, atribuída, principalmente, “ao elevado valor obtido na venda de Lucas em 2013, completamente fora do padrão”, disseram os analistas. A receita com publicidade caiu 20% e com direitos econômicos 73%. Um dos grandes desafios do clube está nos investimentos feitos, aponta o estudo. Em 2014, 26 milhões de reais foram aportados na base e outros 39 milhões de reais foram para elenco profissional. “É o clube que mais investe na base no Brasil, mas é ineficiente”, diz o estudo, já que o clube investe mais do que arrecada.
Para investir, em 2014, o clube teve de se endividar. Fez isso com o adiantamento de cerca de 13 milhões de reais em venda de cotas para TV. No ano, as vendas líquidas do Sport saltaram de 51 para 54 milhões de reais e o prejuízo cresceu de 5 para 9 milhões de reais.
O Vasco disputou a Série B em 2014 e suas receitas caíram 23% no ano e chegaram a 124 milhões de reais no período. O prejuízo subiu de 4 para 14 milhões de reais, mesmo com a redução de custos para acompanhar a queda de faturamento.
Com queda de bilheta e de direitos econômicos, as vendas líquidas do Vitória caíram 14%, em 2014, para 56 milhões de reais. Os custos, no entanto, acompanharam essa queda e deixaram a geração de caixa do clube estável.
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