O valor do preço do milho pode impactar diretamente nos negócios de uma empresa que depende do insumo. Como se proteger? (James Brey/Getty Images)
Paula Gondim
Publicado em 24 de julho de 2017 às 11h00.
Última atualização em 25 de outubro de 2017 às 19h33.
Você conseguiria prever quanto um quilo de açúcar custará nos supermercados daqui a dois anos? A tarefa não é simples. Um evento climático, por exemplo, pode afetar as lavouras e fazer disparar os preços. Nesse mesmo tempo, uma nova moda pode surgir e fazer com que as pessoas passem a usar mel de agave, planta de origem mexicana, no cafezinho, levando as cotações para baixo.
Exageros à parte, saber o preço futuro do açúcar, do petróleo ou de outras commodities é uma preocupação diária de empresas cujos negócios dependem de tais produtos. Uma fabricante de bebidas, por exemplo, não pode ficar refém do preço do alumínio (a matéria-prima das latinhas), sob o risco de descontrole nos custos e despesas imprevistas. A mesma situação é válida para quem produz soja e não quer ver as margens de lucro ou a rentabilidade encolhidas, caso os preços caiam drasticamente.
Se não é possível garantir o comportamento de um preço no futuro, é possível, ao menos, se proteger de oscilações com o chamado hedge, um tipo de operação financeira que tem por finalidade proteger o valor de um ativo contra variações em uma data futura.
As empresas utilizam instrumentos que ajudam a eliminar ou reduzir eventuais perdas com a oscilação de preços. Um deles é o NDF (Non Deliverable Forward, na sigla em inglês, ou Contrato a Termo de Moeda ou Mercadoria sem Entrega Física, como é chamado no Brasil), um tipo de derivativo negociado por bancos que permite que a empresa fixe o preço de determinada commodity para uma data futura. A contratação é feita diretamente com a instituição financeira, mediante a aprovação de uma linha de crédito específica.
A liquidação do contrato se dá em dinheiro e pode ser feita na data final ou antecipadamente, caso a empresa tenha necessidade. Outra característica do NDF é que não é necessário pagar as margens diárias cobradas pelas bolsas de mercadorias em contratos futuros, ou seja, o ajuste financeiro ocorre apenas no vencimento.
Segundo Rafael Paschoarelli, professor de finanças da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), essa é uma das características que mais chamam a atenção das empresas. Isso porque, segundo o professor, muitas das companhias não têm fluxo de caixa suficiente para cobrir os ajustes diários solicitados pela bolsa, o que acaba dificultando o acesso delas ao mercado futuro. “É preciso ter fôlego financeiro para bancar as margens, além de uma estrutura e pessoal para administrar tais pagamentos”, explica Paschoarelli. “No caso do NDF, essa parte da operação fica com os bancos.”
Uma produtora de milho, por exemplo, deseja se proteger de uma queda na cotação do grão em um período de seis meses. Para isso, ela procura um banco e vende milho para a data futura. Se, na data final, a cotação do milho estiver abaixo do valor combinado anteriormente, o banco paga a diferença à produtora. No caso do preço do grão ficar acima da cotação combinada, a produtora paga ao banco essa diferença, ou seja, o ajuste é negativo para a empresa.
Em ambos os casos, a operação traz previsibilidade para o fluxo de caixa da produtora, mesmo que um ajuste tenha que ser pago na data de vencimento. “Nas operações de hedge, uma eventual perda na operação financeira é compensada por ganhos na operação física e vice-versa”, explica Marcos Piellusch, professor de finanças da Fundação Instituto de Administração (FIA). O objetivo final, segundo Piellusch, é conseguir eliminar ou reduzir ao máximo o risco com as oscilações de preço.
Ao garantir suas contas no futuro, a empresa consegue se programar com mais segurança, uma vez que saberá o volume de suas receitas e melhorar a administração dos custos.
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