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Com Bendine na Petrobras, um problema se vai, muitos vêm

O novo presidente da estatal está perto de cumprir seu primeiro grande desafio, mas suas próximas tarefas também são bem complicadas

Aldemir Bendine, presidente da Petrobras: a estatal está cortando investimentos e revisando metas de produção (Nacho Doce/Reuters)
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Da Redação

Publicado em 16 de abril de 2015 às 19h43.

O novo presidente da Petrobras , Aldemir Bendine, está perto de superar seu primeiro grande desafio: garantir que os auditores aprovem o resultado financeiro da companhia.

Sua próxima tarefa principal será fazer a companhia gerar o caixa necessário para pagar a maior dívida do setor de petróleo ao mesmo tempo em que desenvolve os custosos campos do pré-sal .

As ações da Petrobras, petroleira envolvida em um escândalo de corrupção que praticamente a deixou de fora dos mercados de crédito, dispararam 60 por cento nos últimos 30 dias, dando a elas o melhor desempenho no país.

O rali foi motivado pela expectativa de que o balanço atrasado do terceiro trimestre de 2014 seja divulgado na semana que vem, juntamente com o balanço anual.

A Petrobras, que tem sede no Rio de Janeiro, disse no dia 14 de abril que o conselho se reunirá para avaliar os balanços no dia 22 de abril.

A escolha da presidente Dilma Rousseff por Bendine e pelo diretor financeiro Ivan Monteiro para dirigirem a Petrobras será validada se os dados forem aprovados pela auditoria PricewaterhouseCoopers LLP e pelo conselho. Bendine assumiu a presidência da Petrobras após décadas no Banco do Brasil SA, que é controlado pelo Estado.

“No curto prazo, a principal missão teria sido cumprida”, disse Adriano Pires, diretor-fundador do Centro Brasileiro de Infra Estrutura, CBIE, com sede no Rio de Janeiro. “O governo está vendendo a ideia de que após a publicação do balanço todos os problemas estarão resolvidos, mas nós sabemos que não é verdade. Os fundamentos ainda estão ruins”.

A Petrobras está cortando investimentos e revisando metas de produção em razão dos preços mais baixos do petróleo, de uma moeda desvalorizada que está aumentando os custos de suas dívidas e de uma cadeia de abastecimento em desordem depois que a empresa suspendeu novos contratos com mais de 20 empreiteiras mencionadas na Operação Lava Jato.

O plano de desinvestimento da Petrobras, conforme aprovado, não contém ativos do pré-sal, disse a empresa em 15 de abril.

Prazo dos bonds

É essa tempestade perfeita, aliada ao atraso nos lucros, que tem impedido a Petrobras de recorrer aos mercados de bonds que a ajudaram a financiar cerca de US$ 40 bilhões em despesas de capital nos últimos anos.

Os pagamentos de parte dos US$ 135 bilhões em dívida da empresa poderão ser acelerados se os lucros anuais auditados não forem divulgados até o fim de maio.

Os desafios que se apresentam implicam que o recente rali das ações pode não ser sustentável, disse Bernardo Wjuniski, analista de pesquisa do setor petrolífero do Brasil na Medley Global Advisers.

“Esses outros problemas estão por aí e não serão resolvidos tão cedo”, disse ele, por telefone, de São Paulo. “A parte difícil é cumprir todas as outras coisas -- encontrar de forma rápida pessoas suficientes para comprar os ativos que estão sendo vendidos, manter parte da produção e da receita e ao mesmo tempo reduzir as despesas de capital e os investimentos”.

Pressão de caixa

A pressão sobre o caixa da Petrobras, cuja divisão de refino registrou mais de US$ 40 bilhões em prejuízos operacionais de 2011 até meados de 2014 porque a empresa estava subsidiando as importações de gasolina e diesel, pode forçar a empresa a vender novas ações ao governo para ajudar a financiar as operações, disse ele. Isso puniria os acionistas minoritários, que veriam suas ações diluídas, disse ele.

“Todo mundo meio que concorda que eles precisarão de algum tipo de recapitalização -- o governo terá que entrar com algum dinheiro”, disse Wjuniski, acrescentando que a venda de ativos planejada reduzirá a necessidade de injeção de caixa.

A Petrobras está estudando a venda de participação nos campos do pré-sal como parte do plano de desinvestimento de US$ 13,7 bilhões, disseram seis fontes com conhecimento do assunto na semana passada.

A Agência Estado informou no dia 13 de abril que a Petrobras também deseja vender uma participação da fabricante de produtos petroquímicos Braskem SA. A lista de ativos à venda é “dinâmica” e dependerá das condições de mercado, disse a Petrobras em um comunicado no dia 2 de abril.

A Petrobras preferiu não comentar seus planos para reduzir a alavancagem e melhorar o fluxo de caixa ou a possibilidade de uma venda de ações.

Níveis de alavancagem

A empresa não deverá retornar aos mercados de bonds neste ano porque precisa reduzir os níveis de dívida, disseram Paolo Batori e Guilherme Paiva, analistas do Morgan Stanley, em um relatório de pesquisa no dia 30 de março.

A Petrobras pode vender ações ou converter dívidas com o BNDES em ações para reduzir a alavancagem, disseram eles.

A relação da dívida da Petrobras sobre os lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização dos últimos 12 meses é de 5,89, contra um total de 1,81 registrado entre as empresas integradas de petróleo e gás, segundo dados compilados pela Bloomberg.

“O nível de alavancagem deveria ser o próximo foco”, disse Karina Freitas, analista da corretora Concordia SA, por telefone, de São Paulo. “A publicação dos resultados é o ponto de partida para retomar outras discussões”.

*Texto atualizado às 19h43

São Paulo – De suspeitas de corrupção a multas bilionárias, a Petrobras tem sido protagonista de algumas das principais - más - notícias do Brasil nos últimos tempos. Alvo de uma das maiores investigações de corrupção corporativa do país, a petroleira hoje sofre uma crise de credibilidade que a faz perder valor de mercado a cada novo fato divulgado. E tem sido um exemplo de que realmente tudo pode dar errado ao mesmo tempo agora. Listamos oito fatos recentes sobre a Petrobras que comprovam que o ruim pode sempre piorar.Veja nas fotos.
  • 2. Operação Lava Jato

    2 /9(Arquivo/Agência Brasil)

  • Veja também

    Deflagrada em março de 2014, a Operação Lava Jato investiga um esquema de corrupção dentro da Petrobras em que um possível esquema de lavagem de dinheiro e contratos irregulares por meio de licitações beneficiaria partidos políticos. Desde então, pessoas, grandes transações e contratos fechados com irregularidade são alvo de investigação da Polícia Federal. A operação em curso ainda tem muito que apurar – e a lista de possíveis envolvidos no escândalo só aumenta. Inclui grandes empreiteiras, fornecedores e políticos.
  • 3. Fornecedores na mira

    3 /9(Germano Lüders/Exame)

  • Até agora, 23 empreiteiras foram indiciadas por envolvimento na operação. Em uma segunda etapa, mais recente, outras 82 empresas de setores diversos foram indiciadas. Além de executivos presos, algumas das companhias citadas passam por dificuldades de acesso a crédito, falta de pagamentos de aditivos de contratos com a Petrobras e contam com muitas obras paradas e prejuízo. Algumas dessas empresas já decretaram falência. Outras, como a Camargo Correa, fizeram demissão em massa. O estrago até o fim da operação pode ser ainda maior. A estimativa é que a Petrobras tenha hoje cerca de 6.000 fornecedoras no país.
  • 4. Balanço incompleto

    4 /9(REUTERS/Paulo Whitaker)

    O atraso na divulgação de resultados da companhia, previsto inicialmente para outubro do ano passado, acabou criando uma expectativa negativa no mercado sobre o que estaria por vir. Mas o estrago foi ainda maior que o previsto quando a empresa fez a efetiva publicação do balanço, no final de janeiro. No relatório, a estatal divulgou uma diferença de quase R$ 62 bilhões entre o valor real dos ativos e o contabilizado no balanço anterior, do segundo trimestre. A diferença não foi identificada como perdas com corrupção e a auditoria de todos os ativos não foi feita de maneira independente. A revelação do número assustou e gerou ainda mais incertezas nos investidores. Acabou criando uma situação insustentável para a Petrobras, que viu suas ações desabarem.
  • 5. Mudança de comando

    5 /9(Ueslei Marcelino/Reuters)

    Dias depois da divulgação dos resultados, Graça Foster e outros cinco diretores da companhia renunciaram ao comando da Petrobras. Por dois dias, ficou no ar a dúvida sobre quem assumiria a responsabilidade de liderar a maior empresa do país em meio a um turbilhão de incertezas e denúncias. A expectativa era a de que o governo escolhesse alguém do mercado, que tivesse independência para decidir os rumos da empresa de agora em diante. Dilma Rousseff anunciou o nome de Aldemir Bendine para o cargo. Tido como um perito em crises e aliado do governo, Bendine deixou o comando do Banco do Brasil para assumir como presidente da Petrobras. A notícia azedou ainda mais o humor dos investidores.
  • 6. Acidente fatal

    6 /9(REUTERS/Gabriel Lordello)

    Uma semana depois da troca de comando, um novo desastre atingiu a empresa – esse vindo dos mares e com consequências fatais. A explosão a bordo do navio-plataforma FPSO Cidade de São Mateus, no Espírito Santo, causou a morte de cinco pessoas e deixou outras dez feridas – duas delas em estado grave. A norueguesa BW Offshore era a proprietária da embarcação e trabalhava para a petroleira brasileira. Ainda não se sabe o que causou a explosão.A única certeza é a de que o acidente foi o terceiro maior desse tipo na história da empresa e que ela terá de arcar com uma multa,caso fique comprovado erro de operação.
  • 7. Revolta dos acionistas

    7 /9(Scott Eells/Bloomberg)

    Além dos problemas internos, a Petrobras e seus acionistas no Brasil podem enfrentar uma possível revolta dos investidores estrangeiros. A estatal tem ações na Bolsa de Nova York e, se as denúncias de corrupção forem comprovadas, uma multa bem pesada pode chegar. Nos Estados Unidos, uma ação simultânea da Securities and Exchange Comission (SEC), do Departamento de Justiça (DoJ) e dos tribunais americanos já fez com que técnicos fossem enviados ao Brasil para analisar o caso da Petrobras. A punição para a Petrobras, caso se comprove fraudes contra os acionistas, pode superar os valores de casos emblemáticos, como o da elétrica Enron, fechado em US$ 7,2 bilhões em 2006.
  • 8. Dívidas em dólar

    8 /9(Scott Eells/Bloomberg)

    O momento ruim da Petrobras ainda conseguiu piorar com ajuda da alta do dólar. A valorização da cotação, a mais alta desde 2004, fez com que a dívida da companhia explodisse ao patamar da maior de toda a sua história. Calcula-se que 70% do endividamento da Petrobras estejam atrelados à moeda estrangeira, por isso um baque tão grande. Além do aumento do endividamento, fica mais caro para a Petrobras importar insumos, o que, por consequência, reduz seu caixa.
  • 9. Agora, veja 14 fatos incríveis sobre a Apple

    9 /9(Divulgação)

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