Carro por assinatura e investimento bilionário: a nova fase do grupo Caoa
Em entrevista à EXAME, o presidente da montadora fala sobre a estratégia que inclui expansão da marca Caoa Chery e o negócio de aluguel de automóveis
Juliana Estigarribia
Publicado em 22 de dezembro de 2020 às 06h00.
Última atualização em 22 de dezembro de 2020 às 09h19.
Ao final de 2020, um ano para ser esquecido por toda a indústria automotiva, o grupo Caoa se prepara para entrar em uma nova fase. A brasileira anunciou recentemente um investimento de 1,5 bilhão de reais para renovar seu portfólio e expandir a rede. Nos próximos dias, a companhia também vai passar a oferecer o serviço de carro por assinatura, dentro da estratégia de expansão dos negócios.
"Queremos oferecer a melhor experiência para o consumidor em todo o mercado automotivo", afirma Mauro Correia, presidente da Caoa, em entrevista à EXAME.
O grupo Caoa começou suas operações no país há cerca de 40 anos na distribuição de veículos e posteriormente entrou na produção, com a montagem de modelos da Hyundai em Anápolis, Goiás.
Mais recentemente, um dos grandes focos do grupo se tornou a ampliação da participação de mercado da Chery, que passou a operar localmente em parceria com a Caoa desde 2018 -- e assim também passou a se chamar Caoa Chery. Hoje, a marca chinesa tem cerca de 1,04% de market share e figura na 11ª posição no ranking de automóveis mais vendidos do Brasil. Para 2021, a meta é chegar a 2%.
"Boa parte do desenvolvimento de produto da Chery, além de todo o marketing, é feita pela Caoa. Antes, buscávamos concessionários para vender a marca, hoje somos procurados", diz Correia.
O grupo abriu 42 lojas em apenas 10 meses para distribuir a Caoa Chery em 2018, com investimento próprio. Até o final de 2021, a projeção é chegar a 150 pontos de vendas no país.
"Estamos com 7 modelos no portfólio da Caoa Chery e planejando novos lançamentos. Sempre investimos e cuidamos muito da experiência de venda e pós-venda, por isso a marca tem obtido tanto sucesso."
Correia destaca que o investimento de 1,5 bilhão de reais será aplicado em novos produtos e tecnologias, eletrificação, expansão da rede e marketing. "A Caoa Chery tem um desafio ainda maior na indústria brasileira, por se tratar de uma marca que opera praticamente há 3 anos no país nos moldes atuais. Ainda assim, estamos conseguindo criar um case no mercado, com crescimento substancial."
Carro por assinatura
A Caoa já havia lançado o serviço de gestão de frotas no início do ano, entretanto, o plano de entrar no negócio de carro por assinatura para pessoas físicas teve que ser adiado por causa da pandemia.
O grupo retomou há pouco o planejamento e o serviço será oferecido a partir do início de janeiro. A locação para pessoa física será feita por um período mínimo de 12 meses e, ao final desse prazo, o cliente poderá inclusive comprar o veículo com descontos ou continuar o processo de locação.
Inicialmente, todos os modelos disponíveis no portfólio de produção e vendas do grupo Caoa poderão ser alugados no modelo de assinatura. Da Caoa Chery são os sedãs Arrizo 5, Arrizo 5e e Arrizo 6 e os SUVs Tiggo2, Tiggo5, Tiggo7, além do último lançamento, o Tiggo 8, com 7 lugares.
Já os modelos da Hyundai são o Santa Fé, New Azera, New Tucson, IX35, HR e HD80 (utilitários), além de modelos da linha Ford e Subaru.
Os preços serão revelados assim que o serviço entrar em vigor. "A partir de 2021, o carro por assinatura vai ser relevante, um canal a mais de distribuição, que vai conviver com outros não menos importantes", explica Correia. "Não acredito que o varejo vai morrer, o brasileiro é apaixonado por carro. Há quem goste de comprar o veículo e tem o perfil de cliente que quer usarseu dinheiro para outro fim. O que não podemos é ficar de fora desse negócio."
Retomada do mercado
Correia afirma que o crédito no mercado automotivo está voltando ao patamar pré-covid e que, diante de uma demanda reprimida, a tendência é que as vendas ganhem tração em 2021. O grupo trabalha com uma estimativa de aproximadamente 2,2 milhões a 2,3 milhões de unidades para o ano que vem no Brasil. Se atingido, porém, o resultado estará bem abaixo dos 2,8 milhões registrados em 2019.
No entanto, ele se mantém otimista. "Temos alicerces sólidos para nossa economia. Neste ano, o mercado foi atípico por causa da pandemia."
Para o executivo, o momento mais crítico da crise do coronavírus já passou. "O consumidor voltou às compras. O giro de seminovos está alto e a demanda está aquecida em veículos novos", ressalta.
Prova disso, explica Correia, é o sucesso de vendas do lançamento mais recente da Caoa Chery, o Tiggo 8, que vendeu em apenas três semanas o que estava previsto para três meses. "Num primeiro momento, até faltou carro."
Ele pondera que o grande desafio da indústria para 2021 será o comportamento da economia brasileira que, em sua avaliação, já vem melhorando com o arrefecimento do dólar e uma queda menos acentuada do PIB.
"Manter esses indicadores e gerenciar a covid-19 serão grandes desafios para o país, mas nós não vamos parar nosso investimentos", garante.