Brilhantes e douradas: como são feitas bijuterias da Morana
Para que uma inspiração vire uma peça real, é necessário manufaturar o modelo e alguns moldes, polir e banhar a peça no ouro ou prata
Karin Salomão
Publicado em 21 de julho de 2016 às 12h38.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 14h11.
São Paulo – Antes de adornar orelhas, dedos e pescoço de consumidoras, bijuterias e semijoias passam por diversas etapas que podem durar dias e até meses. Para que a inspiração vire uma peça real, é necessário manufaturar um modelo e alguns moldes, polir e banhar a peça no ouro ou prata. A produção das lojas de bijuterias Morana e Balonê, que fazem parte do grupo Ornatus, é quase artesanal. A fábrica do fornecedor das empresas fica no bairro Ipiranga, em São Paulo. Exame.com foi até lá para conferir como se faz uma bijuteria da Morana e Balonê.
A fábrica é dividida em dois andares. Em cima, está a sala de modelagem, onde são criadas as novas coleções. Já no térreo está a produção de fato. Tudo começa na criação de um novo modelo de bijuteria. A Morana pode enviar ideias, por exemplo. A inspiração também vem de viagens, joias de grandes estilistas ou até mesmo de coleções passadas. Os croquis, ou rascunhos, vão do desenho para o computador. Esse passo é importante para assegurar que o brinco ou colar será simétrico e proporcional. Nessa sala também há uma impressora 3D antiga que, ao invés de construir as camadas do objeto, remove partes de uma placa do material. A impressora é usada para medalhinhas e objetos que tenham letras ou frases.
O projeto então é impresso em duas escalas: uma em tamanho real e outra no dobro do tamanho original. Os desenhos são recortados e colados em uma lâmina de estanho para servir de guia.
Depois de digitalizado, o projeto chega na sala dos modelistas. Aqui, eles criam as peças-guia, que serão copiadas centenas de vezes para chegar às lojas. Na foto, está Onofre, que trabalha nessa fábrica há quase 40 anos e é um dos funcionários mais antigos. Seu trabalho é bastante artesanal e, para isso, conta com dezenas de pequenas ferramentas personalizadas para peças de bijuteria. Ele faz cerca de uma peça por dia. A produção depende da complexidade e do nível de detalhes de cada objeto e pode levar até quatro dias.
Com uma serra fina como um fio, o funcionário retira o futuro brinco da peça inteira de estanho. Essa lâmina de metal chega à fábrica no formato de lingote ou barra e é amassada até o tamanho ideal.
Para conseguir serrar os detalhes internos, o artista usa uma broca minúscula, que não tem nem um milímetro completo: são 0,08 cm. Por causa da complexidade desse brinco, ele demora cerca de 2 dias para ser feito manualmente. Claro que, depois que o molde fica pronto, é muito mais rápido fazer diversas cópias.
Depois que o modelo é finalizado, é hora de fazer o molde. O brinco é colocado no meio de duas placas de borracha, junto com outras peças. Dependendo do tamanho do brinco, cada placa de borracha pode conter de 10 até 30 unidades.
O molde entra em uma máquina para vulcanizar a borracha. São 50 minutos com uma pressão de 130 toneladas e a 150° C para que a placa derreta e se molde em torno dos objetos. Se por acaso um fio de cabelo ficar preso no meio da placa, esse detalhe ficará gravado no molde, tamanho é o nível de precisão.
Nessa imagem, está uma placa, chamada de forma de modelagem, com 13 modelos diferentes.
Como as formas de modelagem ficam guardadas como arquivo permanente da fábrica, elas não podem ser usadas para produzir bijuterias em série. Por isso, cada forma precisa ser reproduzida algumas vezes para gerar unidades o suficiente que preencham uma placa com apenas um modelo. Ao contrário da foto anterior, que tinha 13 brincos diferentes, essa tem um tipo só. Essa placa de borracha é chamada de forma de produção e pode ser usada por até 800 vezes antes de gastar.
Aqui está uma parte do arquivo da fábrica. São centenas de formas de coleções passadas que ficam estocadas para conferência ou inspiração.
Na foto, está a forma de uma coleção de semijoias, pronta para produção. Ela já recebeu uma fina camada de talco, para que as peças não grudem no molde. No centro, é possível ver os veios que foram cortados na borracha para permitir a passagem do metal até os moldes. Nesse momento, um funcionário também já coloca os pinos de orelha.
Agora, a forma será preenchida de estanho. Para que o preenchimento seja feito por igual, essa máquina irá girar delicadamente o molde. Assim, o metal derretido alcançará todos os espaços de forma igual. O estanho está a 400° C quando entra na forma.
Mesmo que entre na forma a 400°C, o estanho esfria em poucos segundos. As rebarbas, peças que não deram certo e os “trilhos” que levaram o metal até o brinco são derretidos e podem ser usados de novo.
Depois que o brinco sai da forma, é hora de aperfeiçoá-lo. Cada peça passará por diversas etapas que a deixarão mais lisas, brilhantes e sem defeito. O primeiro passo é a remoção manual com ajuda de uma faca de qualquer rebarba mais grosseira.
Em seguida, a bijuteria vai para o polimento. Pequenas pedras sintéticas, parecidas com pedra-pomes, são colocadas nos tambores com as bijuterias. Há diversas texturas ou granulometrias para essas pedras, para tirar sujeiras, imperfeições e até polir. Quando mais lisa a pedra, mais delicada é a sua ação.
As peças estão misturadas ao material de polimento e água. Quando uma forma de produção é nova, ela gera peças mais lisas. Com o desgaste, rebarbas e imperfeições vão aparecendo, o que exige que a peça passe mais tempo nesse processo de polimento, que pode durar até 9 horas.
O último passo do polimento é feito com tecido. O que parece ser uma lixa circular, na foto, na verdade são diversas camadas de pano que receberam um pouquinho de graxa para deixar a peça lisa e sem nenhuma sujeira.
Depois que cada peça está moldada e polida, chegou a hora de uni-las. Essa máquina transforma um fio de metal em uma argola, ligando com precisão o brinco à peça com o pino de orelha.
Outra maneira de unir peças de brinco é a solda. Na foto, a funcionária derrete um metal de solda para unir uma engrenagem para brinco de pressão à bijuteria.
O próximo passo é o banho de metal. A funcionária arruma os brincos em uma estrutura chamada de gancheira, amarrando-os em um fio de cobre. Os pinos receberam uma proteção de plástico, para não serem cobertos pelas camadas de metal.
O primeiro tanque no qual os brincos são submergidos é o da limpeza. O detergente dissolvido na água irá remover qualquer impureza, como resto de rebarba, poeira e gordura das mãos que os manusearam, para que o ouro, prata ou grafite se fixem bem à peça. Para ajudar ainda mais na fixação, a fábrica usa um método de banho elétrico. O brinco é magnetizado com uma carga elétrica e a água, onde os metais de cobertura estão dissolvidos, recebe a carga oposta. Assim, o metal se atrai à peça de forma mais permanente e homogênea.
Para impulsionar a atração, a bijuteria passa por um pré-banho de cobre, um metal altamente condutivo – mesmo material do fio que amarra os brincos à gancheira. Depois, chegou a hora do banho de ouro. A Morana também usa em suas peças grafite e uma liga de metais prateados, que simula a prata, mas não oxida. Esses metais chegam no formato de sais, que são dissolvidos na água. A água, por sua vez, recebe uma carga elétrica, assim como os brincos. A gancheira é inteiramente coberta de borracha, menos os ganchos acima, que entram em contato com a barra magnetizada, no centro do tanque. A borracha é importante para que o funcionário possa manusear o equipamento sem levar um choque. A intensidade da corrente elétrica é de 2.000 amperes, o que pode machucar seriamente um funcionário não treinado.
Aqui estão as peças depois do banho de ouro. É possível ver com mais nitidez o circuito elétrico que se formou na gancheira.
Finalmente, os brincos são secos em uma máquina de vapor quente.
A bijuteria é finalizada com a colocação de um strass, pequeno cristal. Cola e um palito de dente ajudam nessa tarefa.
Além de strass de diversos tamanhos, a fábrica também conta com um estoque impressionante de pedrarias.
Além do strass e da pedraria, há outras técnicas para dar detalhes aos brincos, colares e pulseiras da Morana. Aqui, a funcionária usa ouro amarelo derretido para colorir desenhos desse pingente.
Depois de prontas, as bijuterias são separadas em lotes para cada uma das dezenas lojas da Morana ou Balonê espalhadas pelo Brasil. Na foto, é possível ver pares de brincos banhados a grafite, metais prateados e ouro.
Ao fim de dias e até semanas de rascunhos, moldes e confecção, aqui está o brinco finalizado no mostruário da fábrica.