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Bairros comerciais nunca mais serão os mesmos, diz futurologista britânico

Ray Hammond, conhecido por previsões acertadas sobre avanços da tecnologia, afirma que o home office vai fazer parte da rotina

O futurologista britânico Ray Hammond diz que a telemedicina veio para ficar (Divulgação/Divulgação)

O futurologista britânico Ray Hammond diz que a telemedicina veio para ficar (Divulgação/Divulgação)

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Natália Flach

Publicado em 31 de agosto de 2020 às 10h00.

Última atualização em 31 de agosto de 2020 às 11h18.

O impacto da pandemia sobre os imóveis comerciais das cidades será significativo e duradouro, e essa mudança afetará a infraestrutura que foi construída em torno dos bairros comerciais da cidade, algo que vai de cafés, bares e restaurantes até o transporte público. É o que afirmou o futurologista britânico Ray Hammond em entrevista à EXAME.

"Essa mudança levará de 10 a 15 anos para se tornar permanente, mas os distritos comerciais centrais nunca mais serão os mesmos", disse Hammond, que produziu um estudo em parceria com a Allianz Partners sobre as mudanças que moldarão essa nova realidade.

Apesar do cenário sombrio para os bairros comerciais, Hammond vê razões para o otimismo para dois dos setores mais impactados pelas medidas de isolamento social, o de turismo e o de entretenimento. “A forte demanda por viagens, hospitalidade e bens de consumo continua sendo uma força reprimida”, afirmou o futurologista, que enxerga boas perspectivas para a economia: "O crescimento retornará rapidamente assim que for descoberta a cura".

Hammond é conhecido por suas previsões sobre a tecnologia e a internet. Em 1983, escreveu que a pesquisa online seria a porta para que as pessoas pudessem acessar informações, uma década antes que o Yahoo! lançasse o serviço para o mundo.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista à EXAME.

No futuro, a desigualdade social pode aumentar?
A desigualdade pode ser ainda pior com a pandemia do coronavírus. Como tudo mais, isso é uma questão de política. Cada crise -- seja um terremoto, um evento climático extremo ou uma pandemia -- sempre afeta os pobres muito mais do que os ricos. Se os governos adotarem medidas para amenizar essa disparidade, os pobres não sofrerão desproporcionalmente. Se os mais pobres forem deixados à própria sorte, eles sofrerão muito mais do que os ricos.

Nesse sentido, os países deveriam adotar estratégias de saúde pública após a pandemia?
A pandemia colocou a prestação de serviços de saúde em destaque e revelou falhas significativas em muitos serviços nacionais de saúde. Eu gostaria de pensar que a pandemia fará com que muitos governos priorizem o financiamento à saúde. As pessoas que lotam as praias e participam de grandes atividades em grupo são quase exclusivamente jovens. Os jovens acreditam que são quase imortais e pouco se importam com seu dever social para com grupos mais velhos ou mais vulneráveis. Tem sido sempre assim.

No que diz respeito à economia, nossa linguagem econômica usual como “desaceleração”, “depressão”, “recessão” é inadequada. A forte demanda por viagens, hospitalidade e bens de consumo continua sendo uma força reprimida. Por essa razão, o crescimento econômico retornará rapidamente quando a pandemia passar.

Mas haverá consequências para o mercado imobiliário, uma vez que as pessoas devem trabalhar em casa com mais frequência, certo?
De fato, a mudança para o trabalho doméstico será permanente -- pelo menos para os trabalhadores com mais de 35 anos. Acho provável que os funcionários mais jovens desejem voltar a trabalhar em escritórios onde possam aprender e se socializar. Mas os funcionários mais experientes tendem a tirar proveito do trabalho em casa e podem ir ao escritório apenas uma vez por semana.

O impacto sobre os imóveis comerciais será significativo e duradouro, e essa mudança também afetará adversamente a infraestrutura comercial que foi construída em torno dos bairros comerciais da cidade -- cafés, bares, restaurantes e transporte público. Essa mudança levará de 10 a 15 anos para se tornar permanente, mas os distritos comerciais centrais nunca mais serão os mesmos.

O senhor fez uma distinção de idade para falar de socialização. Só os mais jovens precisam se socializar?
Não, todo mundo precisa se socializar. É vital para uma boa saúde mental. Fica claro pela maneira como as sociedades respondem às restrições de lockdown (com festas selvagens) que o contato social é absolutamente necessário.

Em uma sociedade hiper conectada, inclusive na saúde, como o senhor avalia o futuro da privacidade?
Os benefícios da saúde monitorada digitalmente são tão grandes que provedores de sistemas e autoridades de saúde trabalharão para melhorar a proteção da privacidade. Os dados de saúde são confidenciais e isso significa que devem se tornar mais seguros do que hoje. A privacidade e a segurança serão fundamentais para a adoção bem-sucedida do monitoramento digital de saúde em larga escala. A Apple lidera o caminho ao fornecer a seus usuários um alto grau de privacidade e segurança no armazenamento de dados pessoais confidenciais e outras empresas provavelmente farão o mesmo.

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