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Após superar os R$ 500 milhões, Voke investe na Renov para crescer nos seminovos

Empresa de locação de hardware e venda de seminovos, a Voke investe na Renov, startup que usa inteligência artificial para profissionalizar o chamado trade-in e ampliar posição no mercado de equipamentos usados no Brasil

Ismael Kolling, Rene Almeida e Matheus Mundstock, da Voke e Renov: aposta nos mais de 90 milhões de celulares seminovos sem uso em alguma gaveta nas casas dos brasileiros (Divulgação/Divulgação)
Leo Branco

Editor de Negócios e Carreira

Publicado em 16 de dezembro de 2024 às 10h00.

Última atualização em 16 de dezembro de 2024 às 12h25.

O mercado de equipamentos de tecnologia seminovos está em expansão no Brasil.

Empresas do setor têm apostado em novos modelos de negócio, como a troca de dispositivos antigos por novos, para atrair consumidores que buscam economia e sustentabilidade.

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A paulistana Voke, uma referência em aluguel de equipamentos de informática e venda de produtos usados, anuncia nesta segunda-feira, 15, um aporte de capital na Renov, startup de Guarulhos, na Grande São Paulo, especializada em avaliar o valor de dispositivos eletrônicos usados para facilitar sua revenda.

A Renov, fundada em 2023, desenvolveu um sistema que usa inteligência artificial para calcular quanto valem smartphones, tablets e notebooks usados.

Esse sistema é utilizado em lojas parceiras e possibilita que consumidores usem seus aparelhos antigos como parte do pagamento de novos.

A startup já opera em 21 estados brasileiros e espera estar presente em 2.000 pontos de venda até janeiro de 2025.

Com o investimento, a Voke reforça sua estratégia de crescer no mercado de produtos seminovos.

"Essa parceria fortalece nossa visão de circularidade e nos ajuda a construir o maior programa de troca de equipamentos de informática do Brasil", diz Rene Almeida, um dos fundadores e CEO da Voke.

"Queremos provar que é possível adquirir produtos usados de qualidade com segurança."

Como funciona o sistema da Renov

O modelo desenvolvido pela Renov busca resolver dois problemas comuns no mercado de produtos usados: a falta de confiança dos consumidores e a complexidade no processo de avaliação.

O método tradicional de troca de equipamentos, conhecido como trade-in, pode ser frustrante porque muitas lojas não têm critérios claros para determinar o valor dos aparelhos usados, diz Ismael Kolling, um dos fundadores da startup.

O sistema da Renov utiliza câmeras e algoritmos que avaliam o estado físico e o funcionamento do aparelho em poucos minutos.

A tecnologia elimina a necessidade de um vendedor ou técnico especializado, reduzindo erros e desentendimentos.

“Com a nossa tecnologia, garantimos avaliações justas e baseadas nos preços reais de mercado, sem a interferência humana, que muitas vezes é subjetiva”, diz Kolling.

O mercado para equipamentos usados

No Brasil, a compra de produtos seminovos ainda enfrenta resistência. Muitas pessoas têm dúvidas sobre a procedência – se o produto é roubado, por exemplo – e sobre sua qualidade.

Além disso, o hábito de trocar produtos usados por novos, comum em países como Estados Unidos e Reino Unido, ainda é pouco difundido por aqui.

Apenas 5% dos produtos eletrônicos vendidos no país utilizam o trade-in, enquanto a média global é de 25%.

Essa diferença representa uma grande oportunidade para empresas como a Voke e a Renov.

Além de educar o consumidor, o modelo oferece uma alternativa econômica em um momento em que os preços de dispositivos tecnológicos continuam elevados.

"No Brasil, muita gente ainda guarda aparelhos antigos em casa", diz Almeida. "Estimamos que 90 milhões de dispositivos estejam parados em gavetas, sem uso."

"Queremos mudar isso, transformando esses itens em moeda de troca no varejo."

Os benefícios não se limitam ao consumidor. Lojas que oferecem a opção de trade-in conseguem aumentar o valor médio das compras e incentivar a aquisição de produtos mais caros, já que o valor do usado é abatido na hora.

Segundo a Renov, a prática pode aumentar em até 20% o ticket médio de uma compra.

A estratégia da Voke para os seminovos

O investimento na Renov é apenas uma das iniciativas da Voke para consolidar posição no mercado de seminovos.

A empresa, que começou no setor de locação de equipamentos de informática, agora também se posiciona como um importante player na venda de produtos usados.

Em 2024, essa linha de negócios rendeu 50 milhões de reais, o melhor resultado de sua história.

Hoje, a Voke vende seminovos em seu site próprio, em nove marketplaces, como Mercado Livre, Carrefour e Casas Bahia, e em lojas físicas.

Os produtos vendidos pela Voke passam por um processo de recondicionamento, que inclui limpeza, restauração e atualização dos sistemas de fábrica.

Por que o mercado de seminovos está crescendo?

O mercado de produtos usados vem ganhando força em diferentes categorias, de eletrônicos a roupas e acessórios. Isso se deve, em parte, ao aumento nos preços de produtos novos.

No caso de smartphones, o Brasil tem um dos custos mais altos do mundo, em razão de impostos e variações cambiais.

Em países com características econômicas semelhantes, como a Turquia, cerca de 60% das vendas de novos dispositivos envolvem a troca de usados.

Outro fator importante é a crescente preocupação com a sustentabilidade. Ao prolongar a vida útil de produtos eletrônicos, o mercado de seminovos ajuda a reduzir o lixo eletrônico, que é um dos principais desafios ambientais da era digital.

"Estamos combatendo dois problemas ao mesmo tempo: a exclusão digital e o desperdício tecnológico", diz Almeida.

"Nosso objetivo é oferecer tecnologia acessível para mais pessoas e promover práticas de consumo conscientes."

Expansão e planos futuros

Em 2024, a Voke realizou quatro aquisições estratégicas para fortalecer sua presença no mercado de locação de hardware e equipamentos seminovos.

A Suprisul, com mais de 30 anos de experiência, ampliou a atuação no interior de São Paulo. A CSI Locações, focada no Norte e Nordeste, expandiu o alcance regional.

A ATTA Tecnologia, especializada em tablets para o varejo alimentício, trouxe presença em mais de 300 cidades. Já a Renter reforçou a base no interior paulista, com soluções voltadas para PMEs.

Para 2025, a Voke planeja continuar investindo tanto em crescimento orgânico quanto em novas parcerias e aquisições.

A meta é dobrar sua base de equipamentos locados, passando de 500 mil para 1 milhão de ativos até 2030.

Search funds

O crescimento da Voke é um dos maiores exemplos do impacto dos search funds no Brasil.

Este modelo, conhecido como "empreendedorismo por aquisição", consiste em financiar empreendedores para identificar, adquirir e gerir empresas com potencial de expansão.

A história começou em 2019, quando Rene Almeida e João Lima, com apoio da Spectra Investments, adquiriram a Agasus, empresa que posteriormente seria renomeada como Voke.

A Spectra, uma das maiores gestoras de ativos alternativos do país, investiu no projeto por meio de seus fundos Spectra III e V. Na época, a Agasus tinha um faturamento de cerca de 45 milhões de reais.

Quatro anos depois, em 2023, já como Voke, a empresa atingiu 543 milhões de reais em receita anual, crescimento de 12 vezes no período.

O modelo de search funds foi fundamental nessa trajetória.

Diferente de startups, que partem de ideias embrionárias, os search funds buscam empresas estabelecidas e com bases sólidas, geralmente de pequeno ou médio porte, para acelerar seu crescimento.

Com o investimento, a Voke realizou oito aquisições estratégicas, profissionalizou sua gestão e entrou no mercado de capitais, emitindo debêntures para financiar sua expansão.

Aportes em startups em 2024

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