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Após quase fechar na pandemia, doc9 se reinventa e fatura R$ 45 mi em 2025

Após demitir 110 pessoas em 2020, empresa de tecnologia para o meio jurídico aposta em tecnologia, IA jurídica e M&A para quase dobrar de tamanho em 2026

Klaus Riffel e Dario Borges, da doc9: integração com a BL&A Logística Jurídica foi desenhada para não gerar rupturas (Divulgação/Divulgação)

Klaus Riffel e Dario Borges, da doc9: integração com a BL&A Logística Jurídica foi desenhada para não gerar rupturas (Divulgação/Divulgação)

Karla Dunder
Karla Dunder

Freelancer

Publicado em 16 de dezembro de 2025 às 06h01.

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O direito brasileiro sempre conviveu com um problema estrutural: processos espalhados, sistemas que não conversam entre si e uma dependência intensa de pessoas em diferentes cidades. A pandemia escancarou esse gargalo — e acelerou uma reorganização que agora entra em fase de consolidação.

É nesse contexto que a doc9 se movimenta. Criada no Rio Grande do Sul, a lawtech passou por uma das viradas mais duras do setor durante a crise sanitária e emerge, cinco anos depois, como protagonista de um movimento de fusões e aquisições que muda seu posicionamento no mercado jurídico.

Estamos contando essa história agora porque a empresa acaba de concluir duas operações simultâneas de M&A (fusão e aquisição) — a fusão com a BL&A Logística Jurídica e a aquisição da plataforma Correspondente —  e projeta crescimento de 54% na receita da vertical de logística jurídica em 2026.

“O objetivo é conectar escala, tecnologia e segurança jurídica em um ecossistema único”, afirma Klaus Riffel, fundador e CEO da doc9. “Esse movimento fortalece nossa capacidade de atendimento e reduz custos e riscos jurídicos para grandes empresas”.

O futuro, segundo ele, passa por crescer rápido — mas de forma integrada.

A origem: uma dor real no interior do Brasil

A doc9 nasceu longe de qualquer discurso sobre inteligência artificial ou plataformas digitais. Klaus Riffel se formou cedo em Direito e atuava em grandes escritórios, mas sentia na prática o custo de operar de forma descentralizada.

“Do nada eu tinha que gerir quase 300 profissionais em várias cidades, com processos físicos espalhados. Aquilo virou um inferno operacional”, diz.

O problema não era jurídico, mas logístico. Para dar conta da demanda, era preciso contratar correspondentes locais para audiências, cópias e diligências. A primeira versão da doc9 surgiu justamente para organizar esse caos: um marketplace que conectava escritórios a profissionais locais, cuidando da curadoria e da execução.

A empresa chegou a ser chamada de “Uber do Direito” naquele momento. Mas o modelo tinha limites.

A pandemia e o momento mais crítico

Em 2020, o negócio praticamente parou. Com os fóruns fechados, não havia audiências, nem diligências.

“Sem fórum aberto, não tinha doc9”, afirma Riffel.

A reação foi imediata — e dolorosa. A empresa precisou demitir 110 pessoas em dois dias para preservar caixa e não quebrar. O choque forçou uma pergunta central: qual dor relevante do mercado a doc9 conseguiria resolver naquele novo cenário?

A resposta veio da digitalização acelerada da Justiça.

O problema dos certificados digitais — e a virada do negócio

Com a migração dos processos para o ambiente virtual, eles passaram a operar em mais de 130 sistemas diferentes no país. Para acessar esses sistemas, advogados usam certificados digitais — a identidade oficial no Judiciário.

O que muitos escritórios passaram a fazer foi concentrar processos em um ou dois advogados e compartilhar seus certificados com dezenas ou centenas de pessoas.

“Isso gerou um problema enorme de fraude, risco penal e descumprimento de LGPD”, diz Riffel.

Daí nasceu o Whom.doc9, primeiro gerenciador de certificados digitais do Brasil. Em vez de compartilhar o certificado, o sistema permite conceder acessos específicos, rastreáveis e limitados por sistema e por função.

“Não faz sentido entregar um cheque em branco. A pessoa acessa só o que precisa, e tudo fica registrado”, afirma.

O impacto foi imediato. O produto tinha ticket médio entre 2.000 e 3.000 reais no início e hoje varia entre 8.000 e 15.000 reais.

“Queríamos chegar a 300 clientes em dois anos. Fizemos isso em três ou quatro meses”, diz Riffel.

Hoje, após quase dois anos e meio, são mais de 1.500 clientes, incluindo grandes escritórios e empresas como a Ambev.

Crescimento, IA e novos produtos

A partir do Whom.doc9, a empresa ampliou seu portfólio. Em 2024, lançou a Which.doc9, uma IA jurídica proprietária, fechada e conectada à base de dados do próprio cliente.

“É uma IA onde nada sai da base do cliente. Isso respeita LGPD, traz segurança e um tom de voz específico para cada empresa”, afirma Riffel.

A estratégia é usar a IA como conector entre os produtos da empresa, formando uma esteira completa de soluções jurídicas.

O faturamento acompanha esse movimento. A doc9 deve fechar 2025 com cerca de 45 milhões de reais. Para 2026, a projeção é chegar a 70 milhões de reais, e para 2027, 130 milhões de reais.

O M&A que acelera a escala

O movimento mais recente vem da consolidação da logística jurídica. A fusão com a BL&A Logística Jurídica e a aquisição da Correspondente ampliam a rede da doc9 para mais de 6 mil correspondentes e capacidade de realizar 200 mil audiências por ano, em todas as comarcas do país.

Segundo Dario Borges, sócio-diretor da BL&A, a integração foi desenhada para não gerar rupturas.

“Conduzimos integrações suaves, preservando equipes, fluxos e qualidade de atendimento. O cliente percebe expansão e ganho de eficiência, nunca ruptura”, afirma.

Com as integrações, a doc9 adiciona mais de 1.600 contas ativas à base e fortalece uma vertical que deve crescer 54% em receita em 2026.

O que vem pela frente

A doc9 tinha 120 colaboradores em 2024 e chega a 200 em 2025. Mantém hubs presenciais em São Paulo, no Cubo Itaú, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Florianópolis e Curitiba, além de equipes em home office espalhadas pelo país.

O plano agora é seguir consolidando o mercado jurídico com tecnologia, segurança e escala — sem esquecer a crise que quase encerrou a história da empresa.

“A gente passou por um momento em que parecia que tudo ia acabar”, afirma Riffel. “Se essa trajetória mostrar que é possível atravessar a pandemia, se adaptar e sair mais forte, já valeu”.

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