América do Sul resiste a movimento global por veículos elétricos
Mesmo com a reformulação das montadoras, os executivos ainda priorizam investir os motores de combustão por conta dos subsídios para esses combustíveis
Reuters
Publicado em 27 de março de 2019 às 14h18.
São Bernado do Campo — Num encontro no Brasil nesta semana, executivos da Toyota e da GM conversaram sobre fontes tradicionais de combustível, como etanol, gás natural e diesel, destacando como o mercado de automóveis da América do Sul provavelmente resistirá ao movimento global para veículos elétricos nos próximos anos.
Mesmo que as montadoras reformulem seus negócios globais para focar em carros elétricos na Europa, América do Norte e Ásia, os executivos que coordenam a produção no Brasil e na Argentina priorizam os motores de combustão em parte devido aos subsídios para esses combustíveis.
"O futuro da energia da Argentina é o gás natural", disse Cristiano Ratazzi, que lidera a unidade do país da Fiat Chrysler, bem como o grupo comercial de montadoras da Argentina, Abefa. Ele acrescentou que o combustível diesel, em desgraça em grande parte do mundo, também tem potencial para isso.
A produção de gás natural na Argentina deve aumentar fortemente, à medida que as petrolíferas estrangeiras e a estatal YPF investem bilhões em investimentos na Vaca Muerta, uma das maiores reservas de gás de xisto do mundo.
Já Aurelio Santana, diretor-executivo Anfavea, mostra otimismo com o etanol.
"É muito importante que o governo apóie investimentos em pesquisa e desenvolvimento envolvendo o etanol", disse Santana. "Precisamos manter o que já temos aqui", chamando a vantagem energética do etanol do Brasil.
A resistência aos veículos elétricos ressalta a influência política dos produtores locais de cana-de-açúcar no Brasil e de gás natural na Argentina. Recentemente, o Congresso brasileiro aprovou o Rota 2030, que oferece benefícios significativos para as montadoras que optam por investir em pesquisa de etanol.
Montadoras se encontraram esta semana num evento do setor em São Bernardo do Campo, sede histórica do setor automobilístico brasileiro, que ainda está se recuperando do choque no início do ano, após a Ford anunciar que vai fechar sua fábrica na região.
Até agora, a Toyota é a única montadora a anunciar que planeja fabricar um modelo híbrido na América do Sul, com um motor que funciona com eletricidade, etanol ou gasolina.
"É a melhor solução para a nossa região", disse Celso Simomura, vice-presidente da operação da Toyota no Brasil.
A General Motors no início do mês anunciou um investimento de 10 bilhões de reais no Brasil nos próximos cinco anos, mas nada disso vai para os carros elétricos, disse Carlos Zarlenga, chefe da GM na América do Sul.
A GM começará a importar veículos elétricos este ano para testar o mercado, acrescentou ele, mas ainda não há planos para montá-los internamente.
Principal executivo da Volkswagen para a América do Sul e Caribe, Pablo Di Si, disse que a montadora vai importar seis modelos elétricos ou híbridos para o Brasil até 2023. Mas ele também disse que não há planos de produzi-los localmente.
"Na América Latina, precisamos considerar todas as ressalvas", disse Di Si, apontando a falta de uma estrutura legal para veículos elétricos e falta de infraestrutura de recarga, mesmo que a Volkswagen queira vender 1 milhão de veículos elétricos globalmente até 2025.
Ratazzi, da Fiat, acredita que as velhas formas de combustão sobreviverão na América do Sul no médio prazo. "Em 2030", previu ele, "o motor a combustão ainda terá um lugar".