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Alimento à base de planta não será nicho e grandes empresas já sabem isto

Aquisição da Vivera pela JBS aponta uma tendência: grandes empresas entenderam o potencial de mercado de proteína vegetal, antes explorado apenas por startups

Hambúrger à base de planta da Vivera, comprada pela JBS (Vivera/Divulgação)

Hambúrger à base de planta da Vivera, comprada pela JBS (Vivera/Divulgação)

Marina Filippe

Marina Filippe

Publicado em 19 de abril de 2021 às 18h00.

Última atualização em 19 de abril de 2021 às 19h24.

A JBS anunciou a aquisição da totalidade das ações da Vivera, a terceira maior empresa de produtos à base de plantas da Europa, que conta com três unidades produtivas e um centro de pesquisas localizados na Holanda.

A aquisição mostra como a JBS, que no Brasil tem 57% de presença no mercado de hambúrgueres vegetais e um portfólio de 11 produtos sob a marca Incrível, da Seara, está de olho na ascensão do consumo de produtos alimentares desta categoria.

A aquisição da empresa, com participação relevante no Reino Unido e na Alemanha, é realizada por 341 milhões de euros (2,28 bilhões de reais).

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Em nota enviada à imprensa nesta segunda-feira, o presidente global da JBS, Gilberto Tomazoni, afirma que a aquisição é um passo importante para o fortalecimento da plataforma global de proteína vegetal. "A Vivera traz musculatura para a JBS no setor de plant-based com conhecimento tecnológico e capacidade de inovação”, afirma.

No mercado à base de plantas há outras gigantes como a Unilever que trouxe para o Brasil em outubro a marca holandesa The Vegetarian Butcher. E ainda a Nestlé, que lança 12 novos itens no mercado brasileiro ao longo de 2021 em linhas de cafés e sorvetes, Nos últimos três anos, a companhia investiu cerca de 40 milhões de reais nesta frente.

O que motiva as companhias é o ritmo de crescimento anual para o mercado de proteína vegetal no Brasil. Nos últimos cinco anos, o crescimento é de 11% ao ano, enquanto o faturamento salta de 48,8 milhões de dólares em 2015 para 82,8 milhões de dólares em 2020, um acumulado quase 70%, segundo a empresa de pesquisa de mercado Euromonitor.

Dados de um relatório da Boston Consulting Group e Blue Horizon Corporation mostram que o consumo global de proteína vegetal deve crescer nos próximos anos, como mostra o gráfico assim.

Em volume de produtos, deve haver um salto das atuais 13 milhões de toneladas por ano para 97 milhões, quando o o mercado deve atingir, então, 290 bilhões de dólares no mundo em 2035.

Entre 2023 e 2025, o que deve acontecer é a paridade entre o custo de produção da carne animal e da proteína alternativa, que ainda é mais cara. A partir daí, há uma inversão e essas novas matérias primas caem de custo ano após ano.

O ano de 2025 também deve ser o ponto de virada na Europa, onde atua a Vivera, comprada pela JBS. Daqui a quatro anos, deve haver um pico do consumo de carne animal nos países e a partir da aí um decrescimento, principalmente devido à consolidação de políticas ambientais.

“Essas empresas, como a JBS, estão atentas a projeções que a gente tem visto sobre como deve ser a diversidade do prato das pessoas nos próximos anos. Isso vem sendo corroborado pelo comportamento do consumidor, o ‘flexitariano’. Ele opta por não consumir a proteína animal em alguns dias. Essas grandes empresas, com a toda a expertise, estão atentas a isso. Eles começaram a olhar para outros tipos de proteína, pois precisaremos alimentar 10 bilhões de pessoas em 2040”, diz Raquel Casseli, gerente de engajamento corporativo do The Good Food Institute.

Assim, este mercado segue cada vez mais disputado. Um dos principais atores é a empresa estadunidense Beyond Meat, que fechou 2020 com uma receita de 101,9 milhões de dólares, um aumento de 3,5% ano a ano.

A queridinha do setor costuma atrair a atenção de investidores, mas também sofre com a pandemia da covid-19, fechando o ano com EBITDA ajustado de -9,3% da receita líquida. A marca, que nos Estados Unidos, tem parceria com empresas como McDonald’s, chegou ao Brasil em julho do ano passado com altos preços: o burger custava 65,90 reais e o beef 99,90 reais.

Neste cenário, outras empresas aparecem na competição. Uma delas é a brasileira The New Butchers, fundada em setembro de 2019, e com presença em redes como o Pão de Açúcar. A companhia que aposta em carnes, peixes e aves à base de plantas vende, por exemplo, um salmão de 180 gramas produzido com proteína de ervilha com preço sugerido de 24,90 reais.

Outra empresa é a chilena NotCo, que produz alimentos como maionese, leite, hambúrguer e sorvete à base de plantas, e recebeu um aporte de 85 milhões de dólares, fazendo com que a companhia atingisse o valor de mercado de 250 milhões de dólares.

Acompanhado do apetite de investidores, a mudança nos hábitos de consumo da população também aquece o setor e aumenta a demanda por hambúrgueres e alimentos vegetais. Nesta semana, a rede de hamburgueria Bob’s anunciou o lançamento de um novo lanche feito de carne vegetal. Desta vez, com aspecto e gosto semelhante ao frango.

Esse é o segundo lançamento da marca, que desde 2019 já comercializa um lanche à base de plantas feito em parceria com a Fazenda do Futuro. Parcerias semelhantes foram feitas também entre as startups Beyond Meat e Impossible Foods e as redes McDonald’s e Burger King, que passaram a oferecer lanches com substitutos da carne em seus menus.

Para Marcos Leta, fundador da Fazenda Futuro, fazer parcerias para as vendas está dentro dos planos de negócios, mas ser comprada por um frigorífico não é uma ideia que agrada o fundador. "Vejo isso como um movimento apenas para aumentar o portfólio dessas empresas. No final do dia, diferente de nós, elas continuam matando bois e não querendo grandes mudanças em sua cadeia", afirma.

A Fazenda Futuro tem 10 mil pontos de venda em 14 países e não divulga o faturamento. Sua estratégia está em lançar hambúrgueres, linguiças e outros alimentos que cada vez mais se pareçam com as feitas pela proteína animal, agradando vegetarianos e carnívoros.

Em setembro, a startup recebeu um aporte de 115 milhões de reais, elevando seu valor de mercado para 715 milhões de reais. O investimento foi liderado pelo BTG Pactual, ENFINI Investments (Grupo PWR Capital) e os investidores da primeira rodada Monashees e Go4it Capital. 

Todos esses movimentos apontam para os motivos que fazem grandes e pequenas empresas inovarem no setor. A questão agora é perceber se haverá um movimento de grandes companhias engolirem as pequenas, como aconteceu, por exemplo, com as marcas de cervejas artesanais, muitas vezes compradas por gigantes como Ambev. Ou se com os investimentos, as novas organizações terão forças para caminharem independentemente.

Raquel Casseli, do The Good Food Institute, acredita que apostas como essa da JBS e de concorrentes como a BRF (dona das marcas Sadia e Perdigão) ajudarão a popularizar a proteína alternativa, o que é positivo, dado o desafio global de alimentar a população e de apresentar esse tipo produto a mais pessoas.

“As grandes empresas têm o marketing, a escala, a produção, capacidade de chegar no mundo inteiro. A JBS, por exemplo, tem uma linha no Brasil, Estados Unidos e agora chega na Europa, incorporando uma empresa que já um leque de produtos com aceitação”, diz Casseli.

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