Nova fábrica da Dexco em Botucatu (SP): empresa quer estar mais próxima do Sudeste com seu produto premium (Dexco/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 21 de março de 2024 às 07h48.
Última atualização em 21 de março de 2024 às 16h53.
A aposta no mercado de luxo do Sudeste foi o principal propulsor de um investimento de 700 milhões de reais que a paulista Dexco está fazendo em Botucatu, a cerca de 270 quilômetros da capital de São Paulo.
A empresa é uma das líderes do setor de metais, louças, madeira e revestimentos. No ano passado, faturou 7,4 bilhões de reais. Apesar do valor expressivo, foi uma queda de 13% na comparação com 2022. O lucro também caiu, nesse caso, 21%, e ficou em 649 milhões em 2023. A redução foi atribuída a um ano ainda conturbado pela taxa de juros, que impactou o setor de construção.
“No final de 2023, presenciamos o início da queda da taxa de juros no país, contudo, o Brasil continua com o 2º maior juro real do mundo. Essa queda lenta e gradativa ainda não foi suficiente para beneficiar o setor de materiais para construção, diretamente impactado pelos juros”, diz Antonio Joaquim de Oliveira, CEO da Dexco.
Segundo o executivo, o mercado de painéis de madeira apresentou melhora e o segmento de acabamentos, uma redução da tração de queda. “Em suma, o período foi importante para deixarmos a empresa mais preparada para um novo cenário de mercado, após o momento super acelerado da pandemia. Estamos com uma estrutura mais resiliente para os próximos passos”.
Dentro dessa nova estrutura mais resiliente, está o novo investimento da companhia em uma nova fábrica em Botucatu. A operação, de revestimentos cerâmicos, terá duas linhas produtivas e será praticamente toda automatizada.
A nova operação terá 72.000 metros quadrados, e terá capacidade de produzir de 450.000 a 500.000 metros quadrados, por linha, por mês. Isso dá cerca de 10 milhões de metros quadrados de revestimentos por ano.
“É uma das fábricas mais modernas de revestimentos do mundo, o que nos garante algumas coisas”, afirma Raul Guaragna, vice-presidente de revestimentos da empresa, em entrevista exclusiva à EXAME. “A primeira coisa é a redução no consumo de matéria-prima”.
“Como é uma fábrica muito eficiente, consegue fazer espessuras menores. No fim, além de reduzir consumo e desperdício de matéria-prima, também reduz o frete e a emissão de carbono”.
O foco da operação será em porcelanatos com acabamentos mais refinados, mirando o mercado de luxo.
“O mercado inteiro de porcelanato é de 60 milhões de metros quadrados por mês”, diz. “Nós optamos por uma faixa de menos de 20.000 metros quadrados, com acabamentos diferenciados, que é um nicho de mercado que já atuamos com fábrica no Sul, mas que vamos ampliar agora em Botucatu”.
Colocar boa parte da produção deste produto com acabamento refinado em São Paulo também tem outro objetivo: reduzir custos com frete, já que antes ele vinha, somente, da fábrica de Santa Catarina.
“O mercado consumidor é muito forte em São Paulo, no Sudeste, Centro-Oeste cresce muito também”, diz. “Precisamos estar mais próximos”.
O frete é uma questão importante também porque um dos principais destaques da nova fábrica é que as máquinas conseguirão fazer peças enormes sem encaixe. Ou seja, pés-direitos grandes poderão ser desenhados em uma única peça, sem necessidade de montagem, como um quebra-cabeça. E para carregar isso, depois, a dificuldade seria bem maior.
A Dexco é conhecida principalmente por sua marca mais popular, a Duratex, de painéis de madeira, MDF e MDP. Em junho de 2021, mudou de nome para Dexco e deixou mais clara suas divisões de negócios: madeira e acabamentos, com material de construção.
Hoje, a empresa tem sob seu guarda-chuva marcas como:
A empresa foi fundada em 1951. Os empresários Eudoro Villela e Nivaldo Coimbra de Ulhoa Cintra se atentaram para a oportunidade da fabricação de chapas de fibra de madeira no Brasil. Até então, o produto era apenas importado da Suécia, e criaram a operação, com ajuda de Alfredo Egydio de Souza Aranha.
A primeira fábrica entrou em operação em 1954, em Jundiaí. Nos anos 1970, com a operação já mais estruturada, passaram a comprar também áreas florestais para serem responsáveis pelas matérias-primas dos painéis que produziam.
Os anos seguintes foram de consolidação de outra frente, de louças e metais sanitários. Foi o início da divisão de construção civil.
Hoje, conta com 11.000 funcionários e um faturamento que rodeia os 8 bilhões de reais. A queda na receita em 2023 não atrapalhou os planos de investimentos na nova fábrica porque, segundo Guaragna, a visão da companhia é no longo prazo.
“Não olhamos o curto prazo e o momento econômico, olhamos uma visão futura do investimento”, diz.
Hoje, o grande pólo cerâmico fica na região de Criciúma, em Santa Catarina. Nos últimos anos, porém, algumas empresas começaram a se movimentar para o sudeste, principalmente com o objetivo de se aproximar dos clientes finais.
“No nosso caso, vamos continuar operando com as duas fábricas em Criciúma e ampliaremos e complementaremos o portfólio com os produtos que temos hoje”.
A primeira linha começa a operar em maio. A segunda, em junho. Neste ano, ainda operará em baixa produção, mas deve ganhar escala já no ano que vem.