A JCPenney na bolsa
Por que a empresa americana escolheu os pregões para vender a Renner e sair do Brasil
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h40.
Ao anunciar, neste mês, a venda de 98% do capital da Lojas Renner na Bolsa de Valores de São Paulo, a americana JCPenney, uma das maiores redes globais de lojas de departamentos, fez um movimento que causou alvoroço. "É a primeira vez que o controle de uma empresa é vendido de forma pulverizada no Brasil", diz Carlos Alberto Rebello, superintendente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Com a decisão, a JCPenney espera conseguir algo próximo de 1 bilhão de reais -- três vezes o valor pago pela Renner em 1998 -- e então deixar o país. "É uma quantia plausível", diz Bruno Levacov, da gestora de recursos Investidor Profissional.
A Renner fortalecida | ||
Indicadores | A Renner que a JCPenney comprou há seis anos(1)... | ...e a que ela quer vender agora(2) |
Faturamento | R$ 305 milhões | R$ 1,3 bilhão |
Lucro líquido | R$ 15 milhões | R$ 52 milhões |
Nº de lojas | 21 | 64 |
Nº de funcionários | 1 936 | 5 800 |
Localização | Região Sul e São Paulo | Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste |
(1) Dados de 1998 ( 2) Dados de 2004 Fonte: empresa |
Em 2004, as 64 lojas da Renner faturaram 1,3 bilhão de reais e lucraram 52,4 milhões -- mais de 40% acima da concorrente Riachuelo, que tem 13 lojas a mais. Na mão dos americanos, a Renner só prosperou. De cadeia confinada à Região Sul, passou a operar em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Sua rede está três vezes maior. As receitas quadruplicaram. A saúde da Renner e a notícia de que a JCPenney queria sair do Brasil atiçaram o setor. Segundo um concorrente, a Riachuelo procurou o Credit Suisse First Boston, banco que atende a JCPenney, para propor uma unificação de cartões -- um primeiro passo para uma possível sociedade. Mas o negócio não foi adiante.
A decisão de ir à bolsa foi tomada no final de 2004, numa visita que Myron Ullman, chairman da JCPenney, fez ao gaúcho José Galló, superintendente da Renner. Ullman concluiu que a bolsa era o único caminho para vender a empresa pelo seu valor real. No setor, só há dois grandes concorrentes: Riachuelo e C&A. Segundo analistas, a Riachuelo não teria poder de fogo para um negócio desse porte. E a C&A não teria interesse, por estar nos mesmos mercados que a Renner. Nos Estados Unidos, a JCPenney está em reestruturação. "As lojas de departamentos estão em crise no país", diz Alberto Serrentino, da consultoria Gouvêa de Souza. Em 2003, as seis lojas que a JCPenney tinha no México foram vendidas. Em 2004, ela se desfez das farmácias Eckerd. "A Renner representa só 3% do faturamento da JCPenney", diz um executivo da empresa. "Sair do Brasil era inevitável." E os americanos decidiram fazer isso da forma mais lucrativa.
Com reportagem de Alexa Salomão