A dança das cadeiras das montadoras
Michele Loureiro O ano de 2016 promoveu uma dança das cadeiras na indústria automotiva brasileira. Esta foi a primeira vez em 40 anos que uma intrusa rompeu a hegemonia das quatro maiores fabricantes de automóveis do país – Fiat, Ford, General Motors e Volkswagen. Segundo dados divulgados nesta quinta-feira pela Anfavea, associação que representa as […]
Da Redação
Publicado em 5 de janeiro de 2017 às 16h13.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h36.
Michele Loureiro
O ano de 2016 promoveu uma dança das cadeiras na indústria automotiva brasileira. Esta foi a primeira vez em 40 anos que uma intrusa rompeu a hegemonia das quatro maiores fabricantes de automóveis do país – Fiat, Ford, General Motors e Volkswagen. Segundo dados divulgados nesta quinta-feira pela Anfavea, associação que representa as montadoras, em 2016 a Ford deixou o grupo mais seleto dando lugar para a Hyundai, o grande destaque do ano.
A General Motors consagrou-se como a maior vendedora de carros de 2016, com 16,8% do mercado total e 345.870 unidades, tomando a posição ocupada há 14 anos pela Fiat, que ficou com uma fatia de 15,3%. O presidente da GM no Brasil, Carlos Zarlenga, garante que o resultado não era o ponto principal, mas comemora. “A liderança é consequência de um trabalho árduo. Há três anos elaboramos uma estratégia de mercado para rever as frentes de custos, produtos, rede de concessionários e força da marca”, diz. Para isso, a marca reduziu quadro de funcionários, fechou lojas e reviu fornecedores.
A zebra Hyundai fez sua estreia entre as quatro maiores ao vender 197.570 automóveis. Enquanto o mercado caiu 20,2% no acumulado do ano, a marca sul-coreana teve retração de 3,5%. Com isso, a participação de mercado saltou de 8% em 2015 para 10% em 2016. O grande destaque da marca é a família de veículos compactos HB20, fabricada em Piracicaba (SP). “O HB20 respondeu por 85% das nossas vendas e fez com que, pela primeira vez desde 1976, tenhamos uma marca diferente entre as quatro grandes do setor automotivo”, diz William Lee, presidente da Hyundai Motor Brasil.
A receita comum de quem teve resultados melhores em 2016 passou por produtos adequados com preços competitivos. “Vemos o Onix, da GM, na liderança, e o HB20, da Hyundai, logo atrás. São exemplos claros do que o consumidor espera. Conectividade a um preço possível de pagar, ainda que não seja barato”, diz Milad Kalume Neto, gerente da consultoria especializada em indústria automotiva Jato Dynimics. Para ele, a Fiat ainda possui modelos pouco atualizados e precisará mexer no portfólio se quiser brigar pela liderança. “Já Volkswagen e Ford pecam pelo preço, que é a questão mais sensível para o consumidor brasileiro”, afirma o consultor.
No fim das contas, a GM e a Hyundai sofreram um bocado em 2016, mas sofreram menos do que as outras. A indústria automotiva encerrou 2016 em patamares que se igualam aos observados em 2007. A produção de veículos registrou queda de 11,2%, em comparação com 2015. De janeiro a dezembro foram montadas 2,1 milhões de unidades ante 2,4 milhões no mesmo período de 2015. Já as vendas somaram 2 milhões de veículos, enquanto em 2015 foram comercializadas 2,5 milhões de unidades.
Num cenário como esse, qualquer boa notícia é considerada uma vitória. Na Fiat, que faz parte da FCA, as boas novas vieram da Jeep. A marca cresceu 41,3% no ano passado, após ganhar uma fábrica em Goiana (PE) no final de 2015. “Este ano será o ano da Fiat”, diz o presidente da FCA para a América Latina, Stefan Ketter, sem revelar detalhes. Até mesmo o Palio, o maior astro da marca, sentiu os efeitos. O modelo era o segundo mais vendido em 2015 e terminou 2016 na sexta posição.
Apesar de ter vendido 130.000 carros a menos em 2016, a alemã Volkswagen manteve-se na terceira posição com 12,2% do mercado de veículos e comerciais leves. A maior perdedora do período foi a americana Ford, que teve queda de 30,5% nas vendas em 2016, fruto de redução drástica de volumes de modelos como Fiesta, Ecosport e Ka Sedã, que ganharam novos concorrentes no ano que passou. A Toyota, por sua vez, subiu duas posições em 2016 e garantiu a quinta colocação, com 9,1% das vendas. A japonesa registrou uma das menores retrações, de 5,6%, e vendeu 170.000 carros no ano passado.
A previsão da Anfavea é que a disputa continue acirrada neste ano. Antonio Megale, presidente da associação, estima, enfim, crescimento para o setor. “Prevemos alta de 4% no volume de emplacamentos. Se isso for concretizado será a primeira alta após quatro anos de quedas consecutivas”, diz. A aposta está em uma gradual melhora do cenário econômico, especialmente a partir do segundo trimestre, que deve possibilitar uma retomada da confiança do consumidor, além de juros mais baixos e mais oportunidades de financiamento.
Em novembro de 2016, a proporção de automóveis comprados por financiamentos chegou ao menor nível da história, com 51%. Em dezembro, registrou leve recuperação para 53% do total. “Isso não quer dizer que as pessoas têm dinheiro para pagar à vista, quer dizer que estão deixando de comprar. Temos um demanda reprimida por falta de crédito”, diz Megale. Enquanto as condições de crédito não melhorarem, é difícil que o setor volte a crescer em ritmo intenso.