A culpa é do auditor? Escândalo da Wirecard tem novo alvo
Uma associação de investidores está processando a auditoria EY após escândalo contábil de 1,9 bilhão de euros na Alemanha
Da Redação
Publicado em 26 de junho de 2020 às 10h57.
Última atualização em 26 de junho de 2020 às 19h05.
A dinâmica é conhecida, e voltou à tona: a cada nova crise fiscal, reabre-se a discussão sobre a responsabilidade dos auditores. O escândalo da empresa de energia Enron, na virada do século, levou à londa a auditoria Arthur Andersen, uma gigante na época. Os auditores, na época, não só fizeram um trabalho de auditoria omisso, como foram julgados culpados por destruir provas.
O trabalho das auditorias vem ficando mais complexo desde então. Startups e fintechs em franco crescimento, espalhadas pelo mundo e com modelos de negócios que mudam constantemente, podem ser um tormento para companhias moldadas para a dinâmica do século 20. Agora, o escândalo contábil da gigante alemã de pagamentos Wirecard é a espada na cabeça das auditorias -- especialmente de uma delas, a EY.
Nesta sexta-feira uma associação de investidores da Alemanha, a SdK, afirmou que está processando criminalmente a EY, empresa que auditou as contas da Wirecard na última década. O processo mira dois funcionários atuais e um ex-empregado da EY, segundo informações do site CNBC.
Segundo a revista alemã Der Spiegel, o conglomerado japonês SoftBank, que investiu mais de 1 bilhão de dólares na Wirecard, também planeja processar a EY.
Na semana passada, a EY se recusou a assinar o balanço de 2019 da Wirecard, depois de descobrir que 1,9 bilhão de euros haviam "desaparecido". A EY afirmou à CNBC que havia "claros indícios de que essa é uma fraude elaborada e sofisticada, envolvendo múltiplos agentes ao redor do mundo em diferentes instituições, com um objetivo deliberado de fraude". Ainda segundo a EY, nem mesmo os mais robustos processos de auditoria podem descobrir fraudes deliberadas.
A Wirecard valia 13 bilhões de euros até semana passada e era uma estrela no tradicional mercado alemão de tecnologia. Segundo uma auditoria especial de outra auditoria, a KPMG, até metade dos pagamentos processados pela Wirecard, de 125 bilhões de euros ao ano, pode ter sido inventada. O foco da aparente fraude eram as operações internacionais da companhia com parceiros obscuros, que compensavam as perdas em outras 40 frentes de negócio domésticas da companhia.
O fato de os auditores estarem nas manchetes dos jornais é péssima notícia para todo o setor. Assim como os árbitros de futebol, os pilotos de avião e os anestesistas, os auditores sabem que estão fazendo um bom trabalho quando ninguém nota sua existência. No Brasil, a crise dos derivativos, em 2008, e o escândalo de corrupção na Petrobras, na Lava-Jato, colocaram as auditorias nas cordas.
Em todos os casos, uma conclusão tenebrosa para os auditores: se há conivência da alta direção, é muito difícil descobrir as fraudes. Na Wirecard, segundo os investigadores, Markus Braun, maior acionista e presidente da empresa por 20 anos, pode estar envolvido.