Negócios

A brasileira que foi a voz dos governadores na reunião com o príncipe

Flavia Bellaguarda ajudou a organizar o encontro e, na falta de equipamento de tradução, sussurrou as demandas dos governantes brasileiros no ouvido de Charles

Flavia Bellaguarda traduz conversa entre Renato Casagrande, governador do Espírito Santo, e o príncipe Charles (Assessoria Governo Espírito Santo/Divulgação)

Flavia Bellaguarda traduz conversa entre Renato Casagrande, governador do Espírito Santo, e o príncipe Charles (Assessoria Governo Espírito Santo/Divulgação)

RC

Rodrigo Caetano

Publicado em 7 de novembro de 2021 às 07h46.

Última atualização em 7 de novembro de 2021 às 07h51.

O encontro dos governadores brasileiros com o príncipe Charles, na quinta-feira 4, durante a COP26, foi considerado um sucesso pelos presentes. “Achei muito bom”, afirmou à EXAME Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, na saída do evento. Animado, Charles ouviu atentamente as demandas dos brasileiros e prometeu ajudar, com financiamento, na transição para a economia de baixo carbono. Além de Leite, estavam presentes Renato Casagrande (ES) e Mauro Mendes (MT).

Mas, isso só aconteceu graças a Flavia Bellaguarda, ativista brasileira que ajudou a organizar o Consórcio Brasil Verde, formado por 22 governos estaduais. Sua participação foi decisiva não somente nos bastidores, mas num sentido prático: foi ela que traduziu, ao pé do ouvido do príncipe de Gales, as falas dos brasileiros no encontro. E no seu primeiro contato com a realeza.

ESG: a sigla que está mudando o mercado financeiro também pode mudar os seus investimentos para melhor. Descubra como.

Apenas Leite arriscou falar em inglês com Charles. Os demais, incluindo secretários e o prefeito de Recife, João Campos, confiavam na tradução simultânea. Mas eles não contavam que o equipamento fosse dar problema (embora não tenha ficado claro se foi isso mesmo, ou se o príncipe se recusou a colocar os fones de ouvido). Bellaguarda não pensou duas vezes: se levantou, pegou sua cadeira e, após pedir permissão, sentou-se ao lado de Charles, perto o suficiente para sussurrar ao seu ouvido.

“Você tem de contar essa história porque ninguém vai acreditar em mim”, pediu à reportagem uma ofegante Flavia ao final do evento, já com a adrenalina baixando e a consciência do que havia acontecido. “Alguém ia ter de traduzir, eu fui lá e fiz.”

Ativismo climático

Seria injusto, no entanto, que Bellaguarda ganhasse os holofotes apenas por ter quebrado todas as barreiras protocolares da realeza britânica e sussurrado ao ouvido do príncipe de Gales. Seu trabalho como ativista ambiental e social é de extrema relevância, inclusive internacionalmente. As posições que ocupa atualmente falam por si.

Ela é cofundadora da Youth Climate Leaders, rede global de educação climática com membros em 20 países; fundou a LACLIMA, rede de juristas latino-americanos dedicada a estudar a relação entre clima e justiça; é gerente de Relações Internacionais do Centro Brasil no Clima e coordenadora de justiça climática do Climate Reality Project, organização criada pelo ex-vic-presidente americano Al Gore.

Um dia antes do encontro com a realeza, a EXAME entrevistou a ativista. Confira os principais trechos da conversa:

yt thumbnail

Justiça climática

“Justiça climática é um tema que aos poucos está ganhando espaço na agenda climática, e precisa estar no centro de desenvolvimento de políticas públicas. Ela faz com que a gente desenvolva adaptação, mitigação e resiliência olhando para os que mais sofrem com a crise climática, mas não somente eles, pois isto vai chegar em todo mundo. Se a gente não traz a justiça climática para o centro vai cometer os mesmos erros do passado. A justiça climática nos força a criar soluções diferentes para a maior crise do nosso século.”

Equidade de gênero

“As mulheres são as que mais sofrem, e quando trás o recorte negras, periféricas, indígenas e quilombolas elas são as mais afetadas. São mulheres com problemas de acesso à água e comida, e a crise climática muda a forma de vida das pessoas, e as que vivem com pouco sentem ainda mais na pele, e isso recai principalmente nas mulheres. A sobrecarga quando uma crise acontece é muito maior para elas, como a pandemia da covid-19 mostrou.”

Políticas públicas

“O Brasil tem desafios diversos e as vulnerabilidades e consequência das crises climáticas são diferentes em cada região e exige políticas muito efetivas. E a gente precisa ocupar os lugares de decisão para que as mulheres tragam o olhar, a voz e o cuidar da sociedade, mas com muita técnica e capacidade. Brinco que a gente precisa colocar os óculos da mudança climática para que as políticas públicas sejam desenhadas. A cidade e o campo estão mudando, e precisamos criar políticas de longo prazo que sejam efetivas para preservar empregos na transição justa, e fazer com que a economia mantenha o desenvolvimento, porém sustentável.”

EXAME na COP

Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática (UNFCCC) é um tratado internacional com o objetivo de estabilizar as concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera.

Uma das principais tarefas da COP é revisar as comunicações nacionais e os inventários de emissões apresentados por todos os países-membros e, com base nessas informações, avaliar os progressos feitos e as medidas a ser tomadas.

Para além disto, líderes empresariais, sociedade civil e mais, se unem para discutir suas participações no tema. Neste cenário, a EXAME atua como parceira oficial da Rede Brasil do Pacto Global, da Organização das Nações Unidas.

Leia a cobertura completa da EXAME sobre a COP26

Acompanhe tudo sobre:COP26Exame na COP26

Mais de Negócios

Com US$ 123,5 milhões de dívidas, o BuzzFeed ainda tem salvação?

Com expansão de unidade, ArcelorMittal posiciona SC como polo de inovação em aço

Para Bill Gates, estes são os melhores livros de 2024

Elas criaram startup que conecta pequenos produtores a grandes indústrias