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Venezuelanos aguardam até nove horas para ver Chávez

A capela está aberta de forma ininterrupta até sexta-feira, para que seus partidários possam vê-lo

Tributos a Chávez em seu funeral: nas próximas horas é esperada a chegada da presidente Dilma Rousseff e outros líderes políticos. (REUTERS/Desmond Boylan)

Tributos a Chávez em seu funeral: nas próximas horas é esperada a chegada da presidente Dilma Rousseff e outros líderes políticos. (REUTERS/Desmond Boylan)

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Da Redação

Publicado em 7 de março de 2013 às 16h03.

Caracas - Milhares de venezuelanos aguardaram até nove horas, nesta quinta-feira, para poder ver, pela última vez, o rosto do presidente Hugo Chávez na capela ardente instalada na Academia Militar de Caracas, enquanto o país começava a questionar seu futuro político, diante da perspectiva de novas eleições.

Vestido impecavelmente de terno verde-oliva e gravata preta, coroado com sua emblemática boina vermelha, Chávez, com o rosto sereno e com o rigor da morte, jaz em um caixão de madeira semiaberto, instalado no salão de honra Simón Bolívar, comprovou a AFP.

A capela ardente do presidente, falecido na terça-feira, está aberta de forma ininterrupta até sexta-feira, para que seus partidários, provenientes principalmente dos bairros populares de Caracas e do resto do país, possam vê-lo.

"Não quero ir embora daqui, embora fique doente de tanto esperar para vê-lo", afirma à AFP Pedro Yánez, trabalhador da prefeitura de Ciudad Piar, no sul do país, que deixou a esposa e três filhos em casa para viajar a Caracas.

Os visitantes tinham que deixar na entrada seus telefones celulares e era proibido tirar fotografias. A televisão oficial mostrou imagens do caixão semidescoberto, sem divulgar diretamente na tela o rosto do presidente, falecido na terça-feira aos 58 anos por um câncer.

"Muito impressionado ao vê-lo, me vieram todas as recordações do que fizemos juntos ao longo de 14 anos graças a ele", explicou Chanel Arroyo, de 34 anos, motorista.


O chanceler Elias Jaua informou que o funeral de Estado de sexta-feira na Academia Militar contará com a participação de 22 chefes de Estado.

Os primeiros presidentes latino-americanos a chegar a Caracas foram a líder argentina Cristina Kirchner, o uruguaio José Mujica e o boliviano Evo Morales, que também se recolheram na quarta-feira diante do caixão.

Nas próximas horas é esperada a chegada da presidente Dilma Rousseff, do líder iraniano Mahmud Ahmadinejad, do bielorruso Alexander Lukashenko, do mexicano Enrique Peña Nieto, do chileno Sebastián Piñera e do herdeiro da Coroa espanhola, o príncipe Felipe de Borbón, entre outros.

Membros do governismo e seguidores exigem que Chávez repouse no Panteão Nacional, ao lado do herói da independência Simón Bolívar. Jaua assegurou a respeito que os detalhes serão divulgados nesta quinta-feira.

"Eu me somo à maioria do Povo venezuelano que pede o nosso Comandante no Panteão Nacional, da AN faremos tudo para que seja assim", disse no Twitter o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello.

O analista Agustín Blanco, catedrático da Universidade Central da Venezuela, explicou à AFP que a lei estabelece que é preciso esperar 25 anos para que um presidente entre no Panteão.

"Não há nenhum precedente em que se tenha levado um cidadão ao Panteão nos dias de sua morte, mas pode haver uma solicitação (na AN) que passe por cima da norma existente", explica.


A Academia Militar foi escolhida para a capela ardente porque o presidente a considerava seu segundo lar e berço de sua vocação política, que em 1992 o levou a uma fracassada intentona golpista e sete anos depois à presidência da Venezuela.

Seus restos foram levados do hospital militar, onde morreu, e foram acompanhados por uma gigantesca marcha vermelha, liderada pelo até agora vice-presidente e sucessor de Chávez, Nicolás Maduro.

Maduro assinou seu primeiro decreto como presidente interino ao ordenar sete dias de luto no país petroleiro. O governo não informou diretamente sobre o decreto.

Venezuela diante de novas eleições 

"No momento em que ele desaparece fisicamente, imediatamente e de forma automática entra em vigor o artigo 233, que estabelece que o vice-presidente seja encarregado e que em um prazo de 30 dias sejam convocadas novas eleições", disse a procuradora Cilia Flores ao explicar o papel de Maduro como presidente interino.


Jaua disse na terça-feira que Maduro "assume como presidente", seguindo o mandato de Chávez, que designou o agora ex-vice-presidente como seu herdeiro político e candidato das fileiras governistas nas eleições.

Por outro lado, o governo não informou até agora quando irão ocorrer as eleições.

A Constituição estabelece que deve ocorrer uma nova eleição dentro dos trinta dias consecutivos seguintes à falta absoluta, termo que, segundo o advogado constitucionalista Ricardo Antela, é suficientemente ambíguo para se referir a convocar ou celebrar.

Antela considera, no entanto, que as eleições devem ser convocadas pelo Conselho Nacional Eleitoral neste prazo para permitir sua organização correta e a realização da campanha.

A imprensa local levantava nesta quinta-feira a possibilidade de que sejam realizadas em 45 dias.

Contra Maduro, espera-se que a oposição apresente como candidato seu líder Henrique Capriles, de 40 anos.

"Sim, com toda a certeza será Capriles", disse à AFP o prefeito do município de Sucre, o opositor Carlos Ocariz.

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