Uruguaias tiram roupa contra falhas na lei de aborto
As mulheres do Movimento Mulher e Saúde (MYSU) desceram de um ônibus e protestaram perante o olhar atento dos transeuntes
Da Redação
Publicado em 25 de setembro de 2012 às 20h46.
Montevidéu - Um grupo de 20 mulheres uruguaias se manifestou na frente do Parlamento uruguaio, algumas delas completamente nuas e com seu corpo coberto apenas com uma pintura laranja, em protesto pelas deficiências do projeto debatido nesta terça-feira por legisladores que busca descriminalizar o aborto.
As mulheres do Movimento Mulher e Saúde (MYSU) desceram de um ônibus e protestaram perante o olhar atento dos transeuntes e dos meios de comunicação que se aglomeraram diante da cena, e permaneceram ali durante vários minutos apesar das baixas temperaturas em Montevidéu.
Segundo explicou à Agência Efe Marta Aguñín, uma das porta-vozes da organização, o protesto se justifica porque a norma debatida pelos deputados não recolhe nenhum dos pedidos das organizações pró-aborto e ''nem contempla nem defende muitos direitos das mulheres''.
''Os deputados estão debatendo o que acontece com o corpo das mulheres, e as mulheres defendemos nossos direitos e queremos ser nós as que decidamos o que acontece com nossos corpos'', disse Aguñín.
A ativista lamentou que, segundo o projeto, que deve ser aprovado por uma margem pequena na Câmara dos Deputados e precisará ainda ser confirmado pelo Senado para entrar em vigor, obrigue às mulheres que queiram abortar a comparecer perante uma comissão médica.
''Além disso, a norma não descriminaliza o aborto inteiramente, já que se não forem cumpridos os prazos dentro do sistema, a mulher teria que recorrer ao circuito clandestino e ali seria punível'', destacou.
Segundo disse, o grupo MYSU vai continuar pressionando os deputados para que pelo menos durante a regulamentação da lei se levem em conta seus pedidos.
Se for aprovada, a norma descriminaliza o aborto até a 12ª semana de gestação, com um prazo maior sem limite caso haja riscos para a saúde da mãe, e sempre que estes sejam feitos em centros de saúde e sob a supervisão das autoridades.
Desde que se conheceu o conteúdo do projeto, uma modificação da norma inicialmente aprovada pelo Senado em dezembro que os legisladores precisaram concordar para garantir sua aprovação na Câmara, organizações defensoras do aborto mostraram seu profundo descontentamento com o mesmo.
Entre outros adjetivos definiram como ''humilhante'' que as mulheres tenham que submeter-se ''a um tribunal'' para explicar por que querem abortar, sem que, além disso, se legalize a prática em sua totalidade.
Na sexta-feira passada, uma enquete realizada pela empresa de consultoria Numero mostrou que 52% da população do Uruguai está a favor de descriminalizar o aborto, enquanto 34% o rejeita e 14% não se pronuncia.
Apesar de estar penalizado pela lei, no Uruguai acontecem 30 mil abortos por ano segundo números oficiais, embora o número possa duplicar de acordo com estimativas de organizações defensoras dos direitos das mulheres.