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Tunísia lembra os 5 anos da origem da Primavera Árabe

Cinco anos depois, o orgulho deu lugar ao ressentimento, alimentado pela miséria e a ameaça jihadista


	Tunísia: o país, que conseguiu concretizar uma transição política, é uma sobrevivente em uma região atormentada
 (Getty Images)

Tunísia: o país, que conseguiu concretizar uma transição política, é uma sobrevivente em uma região atormentada (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 16 de dezembro de 2015 às 12h10.

Um retrato gigante de Mohamed Buazizi pode ser visto no centro de Sidi Buzid, onde o ícone da revolução tunisiana ateou fogo a si mesmo em 17 de dezembro de 2010, dando início a um movimento regional que ficou conhecido como a Primavera Árabe.

Mas cinco anos depois, o orgulho deu lugar ao ressentimento, alimentado pela miséria e a ameaça jihadista.

"A revolução? Veja o que ela me trouxe", diz Nessim, de 20 anos, mostrando seus bolsos vazios.

"Agora, os estudos levam a lugar algum. Então só nos resta a escolha entre um ensino profissionalizante e tornar-se pedreiro. Nos dois casos, você será menosprezado pela sociedade", acrescenta o jovem, que faz um curso de instalação de ar condicionado.

Em 17 de dezembro de 2010, Mohamed Buazizi, um vendedor ambulante de 26 anos desesperado pela precariedade e os abusos da polícia, imolou-se, desencadeando o levante que derrubou quatro semanas depois o ditador Zine El Abidine Ben Ali e que impulsionou uma onda de revoltas no mundo árabe.

Cinco anos depois, a Tunísia, que conseguiu concretizar uma transição política, é uma sobrevivente em uma região atormentada. Mas sua economia continua estagnada.

Em nível nacional, a taxa de desemprego ultrapassa 15% e chega a 32% entre os mais jovens. É quase o dobro em Sidi Buzid, cidade de 50.000 habitantes no coração de uma região historicamente desfavorecida, onde o horizonte parece desesperadamente amargo.

"O cidadão tem razão"

A liberdade conquistada com a revolução, "é boa, mas não nos dá o que comer", insiste uma senhora que vende roupas usadas no mercado e deseja permanecer anônima.

Como muitos, Mohamed Azri, lamenta até certo ponto a era Ben Ali. "Eu não glorifico a pessoa, mas somos obrigados a constatar: era melhor antes", ressalta.

"Minha filha é formada em química, mas não encontra trabalho. E me vejo obrigada a vender uma ovelha de vez em quando para pagar a conta do mercado. (...) Nada mudou, mas os preços aumentaram", ressalta esse agricultor.

O governador de Sidi Buzid, Mourad Mahjubi, assegura que compreende a decepção: "o cidadão tem razão. Ele diz a si mesmo 'eu fiz a revolução (...) essencialmente em razão da desigualdade entre as regiões', ele continua sem ver mudanças".

"Mas também devemos levar em conta as circunstâncias excepcionais do pós-revolução", afirma à AFP.

Até recentemente, "administrávamos o dia a dia. Era impossível planejar e o nível de reivindicação era muito alto (...) Este ano, recomeçamos a prever o curto, médio e longo prazo", destaca a autoridade.

Ele evoca vários projetos, incluindo estradas ligando Tunis e Sfax, a segunda maior cidade do país, e se esforça sobretudo para inflar a esperança. "Daqui dois ou três anos, começaremos a sentir o início de uma mudança", promete.

"Temos medo"

À espera, um marasmo econômico é somado a uma ameaça de segurança, em um país atingido em 2015 por três atentados de grande magnitude reivindicados pelo grupo Estado Islâmico.

Em 13 de novembro, a decapitação de um jovem pastor de cabras de 16 anos na colina de Mghilla, perto de Sidi Buzid, aterrorizou o país. Os jihadistas acusaram o adolescente de ser um informante e obrigaram seu primo a levar a cabeça da vítima para a sua família.

"Ele era o meu apoio e o terrorismo o tirou de mim", declarou tristemente sua mãe Zaara, que vive como toda a família na pobreza em Dauar Slatniya, no sopé da montanha.

O Estado está construindo uma casa nova para ela, ao lado do casebre de dois quartos, sem água corrente, onde dorme em um colchão fino no chão.

"Estamos com medo, mas não vamos partir", declarou à AFP Jilani Soltani, um irmão do pastor.

Embora o exército tenha instalado um caminhão em uma colina próxima, Jilani pediu uma licença para porte de arma. Para "nos defender dos terroristas", afirma.

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