Olimpíadas: o presidente apoiou repetidas vezes a candidatura (Clive Rose/Getty Images)
AFP
Publicado em 16 de fevereiro de 2017 às 15h00.
Donald Trump pode até ter dado apoio incondicional à candidatura de Los Angeles a sede das Olimpíadas de 2024, mas as primeiras semanas de seu governo podem ter prejudicado as chances da cidade de vencer a disputa.
Trump apoiou repetidas vezes a candidatura, ainda que o prefeito democrata de L.A., Eric Garcetti, tenha criticado as políticas de imigração da atual administração.
A cidade americana e Paris levam vantagem sobre Budapeste na briga pela sede de 2024, que será escolhida em setembro, no Peru.
Los Angeles já recebeu as edições de 1932 e 1984 dos Jogos.
"Conversei com o Comitê Olímpico Internacional (COI) na Europa e eles estavam muito felizes quando conversaram comigo", falou o presidente no início de fevereiro.
"Eles queriam meu respaldo e eu dei, de maneira firme e clara. Adoraria ver as Olimpíadas em Los Angeles, acho que seria fenomenal", revelou Trump.
Entretanto, desde o telefonema de Trump ao mandatário do COI, Thomas Bach, o governo do presidente eleito dos Estados Unidos se envolveu em polêmicas pelo decreto que proíbe a entrada de refugiados e imigrantes de sete países de maioria muçulmana.
Por enquanto, a proibição está suspensa por um tribunal federal dos EUA, mas a controvérsia criou um problema de relações públicas para o comitê Los Angeles-2024, em um momento em que é necessário conquistar o coração de quem vai votar e decidir a sede definitiva.
"Acredito que o decreto de Trump deu um golpe fatal nas intenções de Los Angeles para sede de 2024", acusou Derick Hulme, professor de ciências políticas no Alma College de Michigan.
O professor questionou se o COI estaria disposto a escolher a cidade americana, já que não existe nenhuma garantia de que todos os atletas possam entrar livremente nos EUA.
"O COI é uma entidade com aversão ao risco e vai ser muito cuidadoso para escolher como sede dos Jogos um país sem confiança de receber todos os atletas", falou Hulme. O acadêmico publicou um livro chamado "Os Jogos Olímpicos Políticos: Moscou, Afeganistão e o boicote americano de 1980".
"Enquanto Trump for presidente, os EUA estarão efetivamente fora da disputa para organizar grandes eventos esportivos. O país é uma opção arriscada demais para as grandes federações internacionais", acrescentou.
Outros especialistas foram mais cautelosos, indicando que o COI escolheu China e Rússia para sediarem Olimpíadas.
Jules Boykoff, professor da Pacific University e autor de "Jogos de Poder: uma história política dos Jogos Olímpicos", falou que Trump "abriu mais espaço na rádio para xenófobos e racistas".
"Isso não será bem visto por membros do COI", revelou Boykoff. "Mas vendo por outro lado, isso não deveria importar em nada, porque o COI tem em sua história a nomeação de regimes autoritários para sede dos Jogos, como Pequim e Sochi", ponderou.
A Hungria, que luta para que sua capital Budapeste seja escolhida, tem um líder aberto, o primeiro-ministro Viktor Orban. Já Hulme indicou que a candidatura de Paris poderia sofrer um baque se a líder da extrema-direita, Marine Le Pen, vencer as eleições presidenciais na França, em abril e maio.
"Se os franceses não tomarem a rota da extrema-direita, a França vai ser a anfitriã dos Jogos", falou Hulme à AFP.
O professor acrescentou: "se França escolhe ir por esse caminho, o COI vai estar numa situação muito complicada e vai ser ainda mais problemático encontrar uma maneira de avançar".
Os membros do comitê LA-2024 insistem em confiar nos votos do COI pelos méritos da candidatura, ignorando o clima político.
"Queremos ser avaliados pelos méritos da nossa proposta, não pela política", falou o presidente do comitê organizador, Casey Wasserman.
"O COI sempre atuou pelos melhores interesses do esporte, não pela política, e confiamos que vão fazer o mesmo nesse processo", acrescentou.
"Não temos nenhuma preocupação, estamos compartilhando a história de Los Angeles com o movimento olímpico e seus membros. Estamos certos que nossa candidatura é forte e confio que os membros do COI vejam isso", argumentou Wasserman.
Boykoff, por outro lado, lembrou que o prefeito de LA criticou duramente o presidente Trump, mas vai ter que ser mais leve nos próximos meses.
"Acrescenta uma certa quantidade de imprevisibilidade na situação", falou Boykoff.