Trump diz ter “direito” de revelar informações à Rússia
No Twitter, presidente se manifestou sobre reportagem que o acusa de ter compartilhado dados secretos com inimigo histórico
Gabriela Ruic
Publicado em 16 de maio de 2017 às 09h56.
Última atualização em 16 de maio de 2017 às 10h15.
São Paulo – Em um novo movimento surpreendente, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump , sinalizou em uma série de tuítes ter revelado informações sobre o combate ao terrorismo à Rússia, contradizendo negativas divulgadas pelo seu gabinete. Tais informações, contudo, teriam o caráter confidencial.
“Enquanto presidente, quis compartilhar com a Rússia (em uma reunião aberta na Casa Branca), e tenho o direito de fazê-lo, fatos relacionados ao terrorismo e segurança aérea. Razões humanitárias e queria que a Rússia reforçasse sua luta contra o EI e o terrorismo”.
Essa foi a primeira manifestação pública de Trump sobre a reportagem do jornal The Washington Post (WaPo) que revelou que ele teria concedido informações secretas ao ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, e ao embaixador russo para os EUA em reunião na Casa Branca.
A imprensa americana foi barrada de participar do encontro, registrado apenas por um fotógrafo da agência de notícias estatal da Rússia.
Segundo o jornal, os dados eram sobre o Estado Islâmico (EI), grupo extremista que atua no Iraque e na Síria, e foram levantados por um país aliado que não autorizou o repasse dessas informações à Rússia, inimigo histórico dos EUA. A inteligência era tão sensível que sequer havia sido repassada a outros países aliados dos americanos no combate ao EI.
Momentos depois da publicação da reportagem na última segunda-feira, o conselheiro de segurança nacional do governo, H.R. McMaster negou tal compartilhamento, classificando as informações apuradas pelo WaPo como falsas.
“Em nenhum momento fontes de inteligência e métodos foram discutidos e o presidente não falou sobre operações militares que não eram publicamente conhecidas”, disse McMaster. “Eu estava lá e isso não aconteceu. ”
As informações divulgadas pelo WaPo foram ainda confirmadas por mais dois veículos de imprensa americanos, a rede de notícias CNN e o jornal The New York Times.
Tuítes
Ao dizer que “tem o direito” de revelar informações à Rússia, Trump não está totalmente equivocado. Enquanto presidente dos EUA, tem a competência de desclassificar quase todo o tipo de informação.
No entanto, como lembra o NYT, “compartilhar informações sem a autorização expressa do aliado que as descobriram foi uma grande falha de etiqueta”, escreveu o jornal, “ e isso pode prejudicar relações cruciais de inteligência”.
Especialistas ouvidos pelo WaPo também expressaram o temor de que a Rússia agora consiga identificar fontes e métodos de espionagem.
Repercussão
O episódio é mais uma saia justa de Trump com a comunidade de inteligência. A reunião com as autoridades russas aconteceu no dia seguinte da demissão do diretor do FBI, James Comey, que liderava investigações sobre as relações da campanha republicana com a Rússia.
Para o Professor Alan Dershowitz, que por 50 anos lecionou Direito na prestigiada Universidade de Harvard, a acusação de que Trump teria compartilhado informações sigilosas é “a mais grave feita contra um presidente em exercício”. “Não podemos minimizá-la”, escreveu no Twitter.
Em Washington, as informações do WaPo renderam críticas ao presidente por parte de políticos republicanos e democratas.
Lindsey Graham, senador republicano da Carolina do Sul, disse que a reportagem é “perturbadora, se verdadeira”, enquanto o Bob Corker, senador republicano do estado do Tennessee, a considerou “muito, muito problemática”. Entre os democratas , Mark Warner, senador de Virgínia, classificou os fatos como “um tapa na cara da comunidade da inteligência”.