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Temperatura do semiárido sobe mais que média global

Clima da região nordestina está cada vez mais quente e seco, inviabilizando a agricultura de sequeiro

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h10.

São Paulo - A sensação compartilhada pelos sertanejos nordestinos de que o clima da região onde vivem está se tornando mais quente e seco nos últimos anos e que as chuvas estão cada vez mais fortes e esparsas tem comprovação científica.

De acordo com metereologistas, as temperaturas máximas e mínimas registradas no interior do nordeste, na região mais conhecida como semiárido ou sertão, estão, de fato, ficando, ano após ano, mais elevadas, atingindo níveis muito superiores à média global. Por sua vez, as chuvas estão ocorrendo com maior intensidade, porém com menor frequência na região.

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"Estamos observando, com base nas séries históricas de dados de estações metereológicas continentais, que há uma tendência de aridização do semiárido nordestino, ou seja, que a temperatura do ar está aumentando e as chuvas estão se tornando mais episódicas na região", afirma o metereologista e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Paulo Nobre.

"Em alguns lugares do sertão nordestino a temperatura máxima diária aumentou até 3º C nos últimos quarenta anos, que é um número muito superior à média do aumento da temperatura global verificado no mesmo período, de 0,4º C", compara. O especialista abordará esse assunto em uma conferência que fará na 62ª Reunião Anual da SBPC – evento que a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) realizará de 25 a 30 de julho em Natal (RN).

De acordo com Nobre, em Vitória de Santo Antão, no sertão pernambucano, por exemplo, a temperatura máxima diária aumentou mais de 3º C nas últimas quatro décadas, saltando de 31,5º C para 35º C. Devido a esse aquecimento, a água disponível no solo da região está evaporando mais rapidamente e dando origem a nuvens maiores e mais carregadas de vapores de água que, ao se precipitarem, resultam em chuvas mais intensas, seguidas de longos períodos de estiagem.

"Em outras regiões do País, como São Paulo e na Amazônia, isso também está acontecendo", indica o especialista. "Mas como chove muito nessas regiões, essa variabilidade climática demora mais tempo para ser percebida", explica.

 <hr>                                    <p class="pagina">O especialista aponta que um dos principais impactos dessas mudanças climáticas no semiárido nordestino, onde as chuvas são anuais e costumam ocorrer no período de fevereiro a maio, é a diminuição da disponibilidade de água no solo da região.<br><br>Em função disso, a prática da agricultura de sequeiro, que depende da água de chuva para o cultivo de culturas de subsistência, como feijão e milho, deve se tornar cada vez mais inviável no interior do nordeste. "Hoje, em várias regiões do semi-árido nordestino, e no futuro, em todo o sertão, as culturas agrícolas que apresentam uma alta demanda de água para plantio de sequeiro estão definitivamente condenadas", alerta.<br><br>Por outro lado, Nobre analisa que essas mudanças no ciclo hidrológico nordestino beneficiam o cultivo de frutas pelo sistema de irrigação por gotejamento, que é praticado em cidades nordestinas como Petrolina, no Pernambuco, e Juazeiro, na Bahia, em que são utilizadas pequenas quantidades de água para a plantação de uva e manga, entre outras frutas.<br><br>Porém, como nem todo o solo do nordeste é apropriado para esse tipo de atividade agrícola e a água está sendo tornando escassa e cara na região, a recomendação do metereologista é que a economia nordestina seja baseada cada vez mais em atividades que apresentem menor dependência desse recurso natural.      <br><br>"É uma leitura equivocada imaginar que o desenvolvimento sócio-econômico do semi-árido se reduza ao aumento da disponibilidade hídrica para a produção agrícola”, avalia. “É claro que a água é importante e necessária para atender as necessidades da população nordestina, mas é preciso estimular atividades econômicas que não dependam diretamente dela, como as relacionadas aos setores de tecnologia e energia renováveis, por exemplo".<br><br>Na opinião do pesquisador, as mudanças climáticas estão sendo vistas de uma maneira apocalíptica. Mas se forem tomadas as medidas necessárias, será possível se beneficiar das alterações do clima no futuro.<br><br>Para tanto, é preciso que haja uma capacitação em metereologia no Brasil em nível municipal, de forma que os tomadores de decisão recebam informações detalhadas sobre previsões de eventos extremos, como chuvas e secas intensas, e possam planejar suas ações de intervenção.</p> 
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