Talibã cresce com fortuna construída sobre drogas, diz ONU
Ganhos somam mais de 3 bilhões de dólares por ano; grupo se tornou maior cartel de drogas do mundo, segundo as Nações Unidas
Carla Aranha
Publicado em 16 de agosto de 2021 às 15h52.
Talvez pouca gente tenha ouvido falar na ephedra, uma erva cultivada na China, há 5 mil anos, para fins medicinais. Para os militantes do Talibã , a planta se tornou uma mina de ouro, ajudando a calibrar a fortuna do grupo. As folhas do pequeno arbusto, que cresce naturalmente no Afeganistão , vêm sendo utilizadas pelo Talibã para a fabricação de metanfetamina, segundo o Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crime (UNODC), em operações altamente lucrativas que representam uma diversificação do portfólio de substâncias ilícitas da organização. O tráfico de entorpecentes gera atualmente cerca de 3 bilhões de dólares por ano para o grupo, de acordo com as Nações Unidas.
“O Talibã conta com o tráfico de drogas como um de suas maiores fontes de recursos”, disse Cesar Gudes, líder da UNOCD em Cabul, à agência Reuters. A entidade estima que o Afeganistão seja responsável por 80% da produção global de ópio, utilizado para a fabricação da heroína. Segundo as autoridades, o Talibã se tornou o maior cartel de drogas do mundo, com vendas para boa parte da Ásia, Europa, Estados Unidos, Austrália e África.
O cultivo de ópio aumentou 37% no país no ano passado, seguindo o ritmo do aumento da procura por substâncias ilícitas durante a pandemia, segundo um estudo da UNOCD. Com o Talibã no poder, a previsão é que a produção de drogas, escoadas pelas fronteiras, aumente ainda mais. Há alguns anos, a atividade já respondia por quase 10% do PIB do Afeganistão.
Parte do dinheiro conseguido com as drogas é usado na compra de armamentos e no treinamento de militantes. Não à toa, os combatentes têm desfilado pelas ruas da capital Cabul e em outras regiões do país com metralhadoras e fuzis que custam pelo menos 700 dólares.
Como outros grupos do crime organizado, o Talibã também exige o pagamento de propina de comerciantes locais e empresários, além de cobrar “pedágio” para o desembaraço de mercadorias na aduana.
Os Estados Unidos gastaram 8,6 bilhões de dólares entre 2002 e 2017 para coibir o tráfico de drogas no Afeganistão, segundo o governo americano, aparentemente sem sucesso.
O comércio ilegal também sustentou o Estado Islâmico, que dominou dois terços do Iraque entre 2014 e 2017 – o tráfico de relíquias arqueológicas e o contrabando de petróleo apoiavam as finanças do grupo. “A organização também extorquia moradores locais e traficava mulheres”, diz Ahmad Ibrahim, historiador da Universidade de Mossul, no Iraque. “Por isso não espanta que tivessem recursos para investir em pesados armamentos e bancar seus militantes, que muitas vezes recebiam salários. É a mesma coisa com o Talibã”.