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Submarino argentino segue desaparecido, apesar de buscas intensas

Operações se organizam na maior base da Marinha argentina, em Bahía Blanca, 800 km ao sul de Buenos Aires

Submarino ARA San Juan se comunicou pela última vez em 15 de novembro (Marcos Brindicci/Reuters)

Submarino ARA San Juan se comunicou pela última vez em 15 de novembro (Marcos Brindicci/Reuters)

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AFP

Publicado em 27 de novembro de 2017 às 06h40.

Onze dias após seu desaparecimento, o submarino argentino ARA San Juan continua, neste domingo (26), perdido no mar, com 44 tripulantes, e sem sinais de encontrá-lo, apesar dos equipamentos modernos usados em sua busca no Atlântico sul.

Apesar de a ilusão de encontrar com vida os submarinistas, entre eles uma mulher, no fundo do mar se esfumace a cada dia, o porta-voz da Armada (Marinha de guerra), capitão Enrique Balbi, disse neste domingo que "embora tenham passado 11 dias, isto não exclui que possam estar em uma situação de sobrevivência extrema".

"Por remota que seja a possibilidade (de sobrevida), ainda não a abandonamos", disse o capitão Román Olivero, que colabora em voos de buscas por avistamento em uma aeronave militar americana P-8.

"As probabilidades diminuíram, mas não são zero", acrescentou.

Mais cedo, o engenheiro naval Horacio Tettamanti havia dito à AFP que "considero descartada toda capacidade de sobrevivência a partir do 14º dia. Tampouco descarto um milagre".

A influente deputada governista Elisa Carrió deu por "falecidos" os tripulantes em um programa especial do canal 13 na noite de sábado.

Esforço de busca

"O maior esforço de busca se concentra nas unidades de superfície (embarcações)" com sonares e radares, explicou mais cedo Balbi, ao dar o único boletim diário da situação.

As operações se organizam na maior base da Marinha argentina, em Bahía Blanca, 800 km ao sul de Buenos Aires.

Neste domingo, as zonas de buscas registraram ondas de três metros e ventos fortíssimos, segundo boletins meteorológicos.

A nova esperança de encontrar o submergível, que parece ter sofrido uma explosão, são os modernos equipamentos de detecção enviados por Estados Unidos e Rússia. Ambas missões ainda não chegaram à área de rastreamento, a mais de 450 km da costa da Patagônia (sul).

"Não há antecedentes de uma mobilização desta magnitude (14 países) na história naval da humanidade. A busca mais difícil no mar foi a do Titanic, na imensidão, depois de quase um século, sem nenhum tipo de precisão da localização e a 5.000 metros. E foi encontrado. Tenho a convicção de que o ARA San Juan será achado", disse Tettamanti à AFP.

"O resgate do submarino levará tempo", avaliou, no entanto, o analista e especialista em questões militares Rosendo Fraga, da consultoria Nueva Mayoría.

O leito marinho no local das buscas "é muito irregular, com muitos cânions e ravinas. Será difícil encontrá-lo. Pela pressão, a cabine pode sofrer danos irreversíveis", disse Carlos Zavalla, ex-comandante do navio, em um programa especial do Canal 13 da televisão argentina na noite deste sábado.

O ARA San Juan se comunicou pela última vez em 15 de novembro, às 13H45 GMT (11H45 de Brasília). Horas antes, tinha relatado um defeito nas baterias e navegava em direção a sua base no porto de Mar del Plata, 400 km ao sul de Buenos Aires.

Enquanto isso, familiares desesperados dos marinheiros fizeram duras críticas ao controle das informações oficiais e se disseram enganados.

"Sofremos muito quando nos disseram que tinham sete ligações do submarino e depois nos disseram que não tinham certeza. Os familiares estão sob muita pressão", disse Itatí Leguizamón, mulher do cabo da Armada Germán Suárez, tripulante do ARA San Juan, no mesmo programa.

Tensão política

"O nível de acidentes nas forças armadas tem estado acima do normal e isso tem a ver com a antiguidade do material e a limitação de recursos para manutenção e treinamento", disse Fraga à AFP, ao aventar as possíveis razões do acidente.

A Armada argentina descartou taxativamente que o submarino tenha sofrido qualquer tipo de ataque.

"Cerca de 90% do equipamento das Forças Armadas argentinas tem entre 30 e 50 anos. No caso do submarino San Juan, ele foi incorporado à Armada há 32 anos, e era uma das embarcações mais modernas", revelou Fraga.

O descuido na modernização das forças armadas "é consequência de uma visão antimilitarismo que surgiu no mundo político após o último golpe militar (e ditadura, entre 1976 e 1983) e da falta de prioridade do tema militar nas últimas décadas", afirmou o analista.

O episódio despertou tensões no governo, apesar de o presidente Mauricio Macri ter pedido, nesta semana, para "não se aventurarem a procurar culpados".

No entanto, segundo fontes militares citadas pela imprensa local, o contra-almirante Gabriel González, chefe da base naval de Mar del Plata, teria solicitado a reforma.

"Além do luto, a questão será se a tragédia trará o debate necessário sobre a reforma militar, que é uma grande matéria pendente, desde antes de Macri chegar (em 2015)", disse Fraga.

O ARA San Juan foi lançado na Alemanha em 1983. Desde 1985, é um dos três submarinos da Armada (Marinha de guerra) argentina. Entre 2008 e 2014, foi submetido a reparos de meia vida.

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