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Sírios feridos buscam socorro em hospitais de Israel

Dezenas de civis e combatentes sírios feridos na guerra civil estão sendo discretamente levados através da linha de frente das Colinas de Golã para Israel

Menina síria em hospital em Israel: jornada é arriscada para quem teme as forças do governo do presidente sírio, Bashar al-Assad (Baz Ratner/Reuters)
DR

Da Redação

Publicado em 13 de setembro de 2013 às 14h02.

Nahariya - A pouco mais de 150 quilômetros de Damasco, um rebelde sírio está deitado na maca de um hospital, com um guarda israelense na porta. Perto, uma mãe síria está sentada ao lado da filha adolescente, atingida nas costas por um tiro de um franco-atirador.

O que começou como uma pequena gota no início do ano se transformou em um fluxo cada vez maior. Dezenas de civis e combatentes sírios feridos na guerra civil estão sendo discretamente levados através da linha de frente das Colinas de Golã para Israel , país com o qual a Síria está formalmente em guerra.

Com todas as vantagens que isso significa em termos de atendimento médico excelente, trata-se de uma jornada arriscada para quem teme as forças do governo do presidente sírio, Bashar al-Assad.

"No lugar onde vivo, havia um homem que foi tratado em Israel. As forças do regime mataram os três irmãos dele", disse a mãe da adolescente. "Eles vão matar meus filhos e meu marido se descobrirem que estamos aqui." Por medo de represálias em sua terra, os sírios que falaram à Reuters em clínicas israelenses pediram para não ter os nomes revelados.

Uma adolescente de 16 anos, cujos ferimentos deixaram as pernas paralisadas, permanece com o rosto sério enquanto um palhaço que trabalha no hospital dança e faz brincadeiras, tentando em vão arrancar um sorriso dela.

Ela está há um mês no Western Galilee Hospital, em Nahariya, na costa mediterrânea de Israel, cerca de 80 quilômetros a oeste da linha de fogo monitorada pela ONU nas Colinas de Golã, área que mantém as forças sírias e israelenses afastadas desde que travaram a Guerra do Yom Kippur, em 1973.

Algumas semanas atrás, houve uma batalha entre forças de Assad e combatentes rebeldes no vilarejo da jovem. Houve uma pausa, disse a mãe, e sua filha abriu a porta para ver se estava seguro do lado de fora. A tia lhe mandou fechar a porta porque havia um franco-atirador na casa do outro lado. Quando ela fez isso, ele atirou.


"Eu a vi caindo no chão, com tudo ensanguentado", contou a mãe. "Fiquei apavorada porque iria perdê-la. Eu disse 'por favor, eu não quero enterrar meus filhos um a um'".

A menina foi levada para um hospital de campanha dos rebeldes, onde médicos sírios removeram uma bala que estava alojada em um pulmão. Mas eles não poderiam prover toda a assistência de que ela precisaria. Disseram que ela deveria ser levada para além da fronteira, à Jordânia ou a Israel.

"Nós captávamos canais israelenses no meu vilarejo. Eu sabia que a medicina daqui era avançada", contou a mãe. "Na Jordânia eu teria de pagar e nós não temos dinheiro suficiente. Aqui é gratuito." A mulher não quis explicar como ela e a filha conseguiram alcançar a linha de frente israelense no Golã para que soldados pudessem transportá-la para o hospital. Mas admitiu que combatentes rebeldes sírios ajudaram-na a chegar à área que separa as forças dos dois países.

Fronteiras

Mais de 100 mil pessoas foram mortas na guerra civil na Síria, iniciada em 2011. Segundo a ONU, mais de 2 milhões de sírios buscaram refúgio em outros países, a maioria nas vizinhas Turquia e Jordânia. De uma população de 20 milhões de pessoas, um terço está deslocada, dentro ou fora da Síria.

Israel se recusa a aceitar refugiados de um país com o qual está tecnicamente em guerra. Mas concede assistência médica e, sempre preocupado em se contrapor à imagem negativa que possui na maioria do mundo árabe, não faz segredo de ajudar os feridos.

O hospital de Nahariya tratou mais de 80 pacientes sírios desde março, mais ou menos quando os militares israelenses começaram a receber sírios feridos que chegam à sua linha de frente em busca de ajuda.


O Exército não revela como os sírios são trazidos nem diz se coordena essa operação com os rebeldes ou outras pessoas que os entregam aos israelenses. "Esta é uma questão muito delicada e a vida das pessoas está em risco", diz uma porta-voz militar de Israel.

Os observadores militares da ONU posicionados ao longo da linha de cessar-fogo não responderam aos pedidos da reportagem para comentar o assunto.

Israel ocupou as Colinas de Golã, que pertenciam à Síria, na Guerra dos Seis Dias, em 1967, e a maioria de sua população, em grande parte da seita drusa, foi realocada na Síria, perto da linha de cessar-fogo. Uma pequena comunidade árabe drusa permanece sob ocupação israelense e mantém contato com os parentes do lado sírio.

O Exército israelense montou um hospital de campanha no cume de uma montanha que dá para um conjunto de vilarejos sírios na planície. Alguns feridos sírios são tratados lá e enviados de volta a seu país. Outros são transportados para hospitais em Israel. O governo israelense não divulga um balanço de quantos feridos sírios foram atendidos no país.

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O que começou como uma pequena gota no início do ano se transformou em um fluxo cada vez maior. Dezenas de civis e combatentes sírios feridos na guerra civil estão sendo discretamente levados através da linha de frente das Colinas de Golã para Israel , país com o qual a Síria está formalmente em guerra.

Com todas as vantagens que isso significa em termos de atendimento médico excelente, trata-se de uma jornada arriscada para quem teme as forças do governo do presidente sírio, Bashar al-Assad.

"No lugar onde vivo, havia um homem que foi tratado em Israel. As forças do regime mataram os três irmãos dele", disse a mãe da adolescente. "Eles vão matar meus filhos e meu marido se descobrirem que estamos aqui." Por medo de represálias em sua terra, os sírios que falaram à Reuters em clínicas israelenses pediram para não ter os nomes revelados.

Uma adolescente de 16 anos, cujos ferimentos deixaram as pernas paralisadas, permanece com o rosto sério enquanto um palhaço que trabalha no hospital dança e faz brincadeiras, tentando em vão arrancar um sorriso dela.

Ela está há um mês no Western Galilee Hospital, em Nahariya, na costa mediterrânea de Israel, cerca de 80 quilômetros a oeste da linha de fogo monitorada pela ONU nas Colinas de Golã, área que mantém as forças sírias e israelenses afastadas desde que travaram a Guerra do Yom Kippur, em 1973.

Algumas semanas atrás, houve uma batalha entre forças de Assad e combatentes rebeldes no vilarejo da jovem. Houve uma pausa, disse a mãe, e sua filha abriu a porta para ver se estava seguro do lado de fora. A tia lhe mandou fechar a porta porque havia um franco-atirador na casa do outro lado. Quando ela fez isso, ele atirou.


"Eu a vi caindo no chão, com tudo ensanguentado", contou a mãe. "Fiquei apavorada porque iria perdê-la. Eu disse 'por favor, eu não quero enterrar meus filhos um a um'".

A menina foi levada para um hospital de campanha dos rebeldes, onde médicos sírios removeram uma bala que estava alojada em um pulmão. Mas eles não poderiam prover toda a assistência de que ela precisaria. Disseram que ela deveria ser levada para além da fronteira, à Jordânia ou a Israel.

"Nós captávamos canais israelenses no meu vilarejo. Eu sabia que a medicina daqui era avançada", contou a mãe. "Na Jordânia eu teria de pagar e nós não temos dinheiro suficiente. Aqui é gratuito." A mulher não quis explicar como ela e a filha conseguiram alcançar a linha de frente israelense no Golã para que soldados pudessem transportá-la para o hospital. Mas admitiu que combatentes rebeldes sírios ajudaram-na a chegar à área que separa as forças dos dois países.

Fronteiras

Mais de 100 mil pessoas foram mortas na guerra civil na Síria, iniciada em 2011. Segundo a ONU, mais de 2 milhões de sírios buscaram refúgio em outros países, a maioria nas vizinhas Turquia e Jordânia. De uma população de 20 milhões de pessoas, um terço está deslocada, dentro ou fora da Síria.

Israel se recusa a aceitar refugiados de um país com o qual está tecnicamente em guerra. Mas concede assistência médica e, sempre preocupado em se contrapor à imagem negativa que possui na maioria do mundo árabe, não faz segredo de ajudar os feridos.

O hospital de Nahariya tratou mais de 80 pacientes sírios desde março, mais ou menos quando os militares israelenses começaram a receber sírios feridos que chegam à sua linha de frente em busca de ajuda.


O Exército não revela como os sírios são trazidos nem diz se coordena essa operação com os rebeldes ou outras pessoas que os entregam aos israelenses. "Esta é uma questão muito delicada e a vida das pessoas está em risco", diz uma porta-voz militar de Israel.

Os observadores militares da ONU posicionados ao longo da linha de cessar-fogo não responderam aos pedidos da reportagem para comentar o assunto.

Israel ocupou as Colinas de Golã, que pertenciam à Síria, na Guerra dos Seis Dias, em 1967, e a maioria de sua população, em grande parte da seita drusa, foi realocada na Síria, perto da linha de cessar-fogo. Uma pequena comunidade árabe drusa permanece sob ocupação israelense e mantém contato com os parentes do lado sírio.

O Exército israelense montou um hospital de campanha no cume de uma montanha que dá para um conjunto de vilarejos sírios na planície. Alguns feridos sírios são tratados lá e enviados de volta a seu país. Outros são transportados para hospitais em Israel. O governo israelense não divulga um balanço de quantos feridos sírios foram atendidos no país.

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