Serguei Kislyak: o olho do furacão que castiga o governo Trump
Kislyak se reuniu com o então senador Sessions antes dos pleitos presidenciais nos EUA, aumentando as suspeitas de que Moscou influenciou nas eleições
EFE
Publicado em 2 de março de 2017 às 21h52.
Washington - Embaixador russo em Washington desde 2008, Serguei Kislyak, se transformou no coração do escândalo que sacode o governo de Donald Trump depois que foram revelados seus contatos com o atual procurador-geral, Jeff Sessions, que os ocultou do Senado quando estava sob juramento.
Kislyak, cuja experiência política remonta à era soviética, se reuniu com o então senador Sessions antes dos pleitos presidenciais nos EUA, aumentando as suspeitas de que Moscou influenciou nas eleições, uma vez que o atual secretário de Justiça era um dos principais assessores de campanha de Trump.
O papel do diplomata russo na suposta ingerência do Kremlin nas eleições de novembro do ano passado começa a ganhar protagonismo com este último episódio, que se soma a suas relações com o ex-conselheiro de segurança nacional de Trump, Mike Flynn, que provocaram sua renúncia.
O ex-embaixador dos Estados Unidos na Rússia, Michael McFaul, disse recentemente em uma palestra na Universidade de Standford que Kislyak tinha tido "todos os trabalhos mais importantes no Ministério das Relações Exteriores, exceto um", o de ministro.
Após descrevê-lo como "eficaz e experiente", McFaul acrescentou: "Nunca está confuso sobre que país representa".
Kislyak participou dessa mesma conferência com McFaul para falar do estado das relações entre Estados Unidos e Rússia, dias depois das eleições de novembro, nas quais Donald Trump saiu vitorioso contra todas as previsões.
"Estamos vivendo o pior ponto em nossas relações depois do final da Guerra Fria", disse Kislyak durante a conferência na qual explicou que a deterioração das relações entre as duas potências começou muito antes dos problemas na Ucrânia.
Além disso, abordou o caso do ex-analista da Agência de Segurança Nacional (NSA) dos EUA, Edward Snowden, que qualificou como um dos pontos críticos entre os dois países depois que a Rússia concedeu asilo ao jovem quando a Justiça americana apresentou acusações contra ele por revelar os programas de vigilância em massa realizados por Washington.
Kislyak já representava a Rússia na capital americana quando o FBI deteve 10 pessoas em 2010 acusadas de espionar em solo americano para o governo russo e dirigiu as relações durante todo o governo de Barack Obama, ajudando a negociar o acordo para tirar as armas químicas da Síria e evitar assim um ataque militar americano contra Damasco.
Além disso, nesse período, a Rússia também foi um parceiro-chave nas negociações que conduziram ao desenvolvimento do acordo nuclear com o Irã.
No final do ano passado, 35 membros da equipe de Kislyak foram expulsos pelo ex-presidente Barack Obama, depois que as agências de inteligência do país corroboraram que a Rússia se esforçou para influenciar nos resultados presidenciais que concluíram com a vitória de Trump.
As conversas telefônicas de Kislyak com o general Michael Flynn antes da posse de Trump em 20 de janeiro fizeram com que Flynn tivesse que renunciar a seu posto, sendo um dos funcionários que menos tempo ocupou um alto cargo na Casa Branca.
Várias conversas entre Flynn e Kislyak tinham sido interceptadas pela inteligência americana.
Kislyak, de 66 anos, trabalhou em questões de desarmamento e estaria familiarizado com o monitoramento americano de comunicações diplomáticas e o sistema de vigilância.
Graduado no Instituto de Engenharia Física de Moscou e na Academia de Comércio Exterior da União Soviética, toda sua carreira girou em torno da vida diplomática, representando seu país em Washington durante os últimos nove anos.
Durante a última década da Guerra Fria, nos anos 80, trabalhou para o governo russo nas Nações Unidas, em Nova York.
Quando a União Soviética se dissolveu e o atual presidente, Vladimir Putin, tomou o poder nos anos 90, Kislyak trabalhou em questões de desarmamento no Kremlin, para depois se transformar em embaixador na Bélgica, onde também foi representante da Rússia na Otan.